O meu Alentejo II






Desde pequena que passo férias na Costa Alentejana, pequena é pequena mesmo.
Primeiro Sines, um quarto alugado na casa de pescadores, a Praia encostada á Vila. Assim que se iniciou a construção do Porto mudámos de paragens, mas lembro-me de Sines com uma praia enorme, da Lota, daquele cantar da venda do peixe, de ir a São Torpes que era absolutamente selvagem com um pinhal imenso onde se iniciavam as dunas, da Praia Norte com a sua areia grossa que me fazia cócegas nos pés.
Pelo meio também nos deslocávamos ao mítico Algarve, sempre procurando os sítios menos procurados, pancada familiar que persiste.

Depois Milfontes, na altura sem cafés, para se encomendar um bolo de aniversário tinha de se o fazer com alguns dias de antecedência para vir do Cercal, a seguir ao Forte começavam as dunas, lembro-me da ponte sobre o Mira estar em construção, de moreias a secar espetadas em canas, de apanhar burriés e mexilhões, de conhecer os outros miúdos, que eram mesmo de Milfontes.
De repente ficou muito conhecido, mas os meus tios já passavam férias noutro local escondido: Porto Covo.
Um largo, 3 ruas, uma mercearia, um café, uma taberna, 2 restaurantes, e praias, muitas praias, como conchas, falésias agrestes, ervas, um mar bravio, transparente, gelado, cheio de sargos e polvos.
Foi para lá que começámos a ir, era lá que éramos absolutamente livres, éramos pouquíssimos a passar férias ali naquele refúgio, tão poucos que nos juntávamos anualmente, numa mesa, a comer um cozido de grãos com que se encerrava oficialmente as férias.

Ali nós, os miúdos éramos totalmente livres, tínhamos aventuras diárias: descer por uma corda para o Espingardeiro, ir a pé até á Samoqueira e no fim do banho de mar passar pela bica de água doce que corre pela falésia entre avencas, ajudar a puxar redes, ouvir as histórias do Ti Lavagante quase centenário de boina basca, aprender a apanhar polvos e navalheiras com o Zé Maria, roubar milho nas hortas, ir a pelas rochas a apanhar perceves até chegarmos à Praia da Ilha do Pessegueiro e regressar na galera de algum tractores primeiros namoros, excursões a Praias como o Queimado ou o Malhão, as fogueiras na praia…
Estupidamente começámos a fazer propaganda, o Rui Veloso também, coisa que não perdoei até hoje, num instante foi tudo alterado, existem muitas ruas, montes de vivendas, feias, bonitas, atentados arquitectónicos, pizzarias, lojas de recordações…
Começámos a experimentar outras paragens, que acho melhor, egoisticamente, não divulgar.
Mas algures ainda existe uma aldeia de pescadores e praias desertas mesmo a aguardar que eu lá chegue!

Comentários

Fernando Samuel disse…
Por aí andei, nos anos 60 - em Porto Covo, por essas alturas, até tínhamos praias só para nós...



Um beijo.
Anónimo disse…
Realmente são raras as aldeias de pescadores que não foram assoladas pela vaga do betão.

Abreijos.
Zorze disse…
Ana,

Eu também não gosto de estar em sítios atolados, de multidão.

Gosto dos lugares que descreves.

Beijos,
Zorze
Diogo disse…
«Mas algures ainda existe uma aldeia de pescadores e praias desertas»

Então não é Sagres, uma vila para onde tenho ido há mais de vinte anos. Com as mais belas praias do mundo: Martinhal, Mareta, Tonel, Beliche, Ponta Ruiva e dezenas de outras na Costa Ocidental, qual dela a mais bonita.

Beijo
Anónimo disse…
Mesmo com a propaganda do Rui Veloso, continua a ser um lugar de sonho...
Kisses
Rui Silva disse…
Eu descobri a Zona do Zavial no ano que passou, acho que ainda está parecida com o que descreves.
duarte disse…
se encontrares,avisa...talvez fique a gostar de praias.
abraços do vale
F Nando disse…
Felizmente ainda há locais por descobrir e ainda bem!
A Costa Vicentina tem tanto por descobrir...
BOM ANO
BOAS ESCRITAS
samuel disse…
Sou do tempo desses "paraísos desertos". Agora sou doutros... que também não digo. :-)))

Abreijos
Ana Camarra disse…
Fernando Samuel-O meu pai dizia que tinhamos a chave da praia!

Salvoconduto-Infelizmente, mas ainda existem uns redutos pequeninos.

Zorze-Eu gosto de "estar á solta"!

Diogo-Não faças propaganda, está caladito, senão estragam-te as férias.

Ludo-Mas já foi mais dado a sonhos.

Conde-Digo o mesmo que disse ao Diogo, não faças propaganda.

Duarte-Digo-te baixinho.

F Nando-A Costa Vicentina é a minha paixão.

Samuel- Não digas não amigo.

Beijos
Anónimo disse…
Amo a costa vicentina, mas o que tu descreves aqui para mim é... Sagres, as praias da minha eleição!

Fujo da praia que me banha os pés, mesmo aqui à minha frente e vou...
para longe da multidão!

Beijo, Ana
J. Maldonado disse…
Nunca fui à costa alentejana, nomeadamente a Porto Covo, mas já ouvi dizer que é muitíssimo melhor que o Algarve. Quem sabe no próximo Verão, talvez passe por lá...
Ana Camarra disse…
Maldonado

è diferente, mas ainda existem uns refugios no Algarve muito bons.

beijos
Ana Camarra disse…
Ausenda

Pois Sagres também é optimo, mas temos que dizer baixinho antes que lá cheguem os magotes.

Beijos
LuisPVLopes disse…
Um dia!... Daqui a muitos e muitos anos, milhares talvez!... Os arqueólogos escavem e, descubram de novo essa magnífica aldeia que dá pelo nome de Porto Côvo.
Por enquanto, é mais um daqueles lugares cheios de tios e tias afectados, onde a soberba reina e a ganância é Rei.

Ouss