As histórias simples são as melhores!
Não me interessam coisas complicadas, amores impossíveis, acho que todos os amores são possíveis, os heróis míticos, os heróis míticos nem nunca existiram, existem por vezes pessoas que vestem a dignidade como uma segunda pele, exercem-na a toda a hora, nas coisas mais banais, esses são heróis, sem duvida.
Não conheci o meu avô materno, sei que era uma pessoa, calada, com um ar triste, tanto quanto a minha avó era o contrário, a estrela cadente sobre a qual já escrevi.
O meu avô era ainda pálido e louro, tanto como ela era trigueira e morena, era ainda muito culto para a época, desconfio que pelas pequenas coisas que deixou que era um homem muito sensível mas que enterrava a sua sensibilidade nalgum recanto recôndito da alma.
Era preso das convenções, dos horários, rígido.
Ainda assim com rasgos de génio, não baptizou as filhas, fazia questão de lhes dar educação até onde quisessem, desde que tivessem aproveitamento escolar, adorava cinema e teatro, fazia das tripas coração para conseguir ir mensalmente á opera ou a um concerto de música clássica.
Morreu novo, cinquenta e poucos anos, parecia, pelas fotos que tinha 80!
Minado por uma doença longa e incapacitante.
Morreu um ano antes de eu nascer.
Mas a história não é essa.
Isto é só para fazerem uma ideia.
Estamos em Portugal, final dos anos 40 ou princípio dos anos 50, o fascismo está na sua pujança, a repressão e perseguição a todos que contra ele lutam é brutal.
Não me interessam coisas complicadas, amores impossíveis, acho que todos os amores são possíveis, os heróis míticos, os heróis míticos nem nunca existiram, existem por vezes pessoas que vestem a dignidade como uma segunda pele, exercem-na a toda a hora, nas coisas mais banais, esses são heróis, sem duvida.
Não conheci o meu avô materno, sei que era uma pessoa, calada, com um ar triste, tanto quanto a minha avó era o contrário, a estrela cadente sobre a qual já escrevi.
O meu avô era ainda pálido e louro, tanto como ela era trigueira e morena, era ainda muito culto para a época, desconfio que pelas pequenas coisas que deixou que era um homem muito sensível mas que enterrava a sua sensibilidade nalgum recanto recôndito da alma.
Era preso das convenções, dos horários, rígido.
Ainda assim com rasgos de génio, não baptizou as filhas, fazia questão de lhes dar educação até onde quisessem, desde que tivessem aproveitamento escolar, adorava cinema e teatro, fazia das tripas coração para conseguir ir mensalmente á opera ou a um concerto de música clássica.
Morreu novo, cinquenta e poucos anos, parecia, pelas fotos que tinha 80!
Minado por uma doença longa e incapacitante.
Morreu um ano antes de eu nascer.
Mas a história não é essa.
Isto é só para fazerem uma ideia.
Estamos em Portugal, final dos anos 40 ou princípio dos anos 50, o fascismo está na sua pujança, a repressão e perseguição a todos que contra ele lutam é brutal.
O meu avô tem uma padaria, fia pão aos pobres e até aos menos pobres, anos a fio, ainda guardamos livros com dividas de vinte anos de pão, só como testemunho.
O meu avô não se metia em politicas. Ponto final paragrafo!
Ainda assim um operário é preso acusado de distribuir panfletos e Avantes na Fábrica da CUF, é julgado, como testemunha abonatória indica o meu avô, que lá vai munido da sua dignidade a tribunal.
Depois de horas de processo, o testemunho do meu avô é simples e libertador:
“Senhor Juiz, como poderá confirmar pelo Bilhete de Identidade esse homem é analfabeto!”
E lá estava no Bilhete de Identidade, ANALFABETO.
Comentários
Boa forma de fazer a revolução!
Abraço
Kiss e Bom Fim de Semana
Mugabe - Foi coisa que ensinaram na familia, perdemos tudo, mas a dignidade só se quisermos, não acredito que todos tenham um preço há pessoas, felizmente que não se deixam corromper.
jofre de lima monteiro alves - é verdade querem branquear, mas só se deixarmos.
Ludo rex - Cá vamos postando as memórias significativas.
Eu também gosto destas músicas!
beijos
Abreijo
beijos
Passar por aqui transformou-se num vício. É a minha melhor crónica diária.
Bjs.
Nesta brilhante "História simples" que trazes estão lá todos os condimentos. O teu Avô, o operário, o juíz, e os palhaços que bufaram e apanharam o operário.
Beijos,
Zorze
Grande história! Simples...
Abreijo
Zorze – E foi assim que aconteceu.
Samuel – Pois, simples, as boas histórias são simples.
Beijos
pois!
beijos
O facto de querem branquear, é o mais evidente sinal de que o fascismo foi bem negro.
Bjos camarada
Cá o manguelas esteve fora, o trabalho, sacana do trabalho.
Perdi todos os dias as tuas história, mas já li tudo.
Os sentidos, sempre comeste o mundo, com esse arzinho de quem não está cá.
Escreveu muito e bem a minha menina.
Esta história do teu avô é engraçada, tinhas de ir buscar essa mania das horas certas e outras coisas a algum lado.
Já tinha saudades de te ouvir assim.
Beijaças
Paulo el nino
É destas histórias simples que é feita a história da nossa complexa luta.
Um beijo.
Fernando Samuel - è a tal dignidade que se veste como a pele, isso sim, mais do que as palavras, muda o mundo.
Palavras bonitas, são nbonitas, mas acções ficam, fazem, são.
beijos
Obrigado pelo abraço.
Orwel é o que é, e eu sou o que sou, e sou muito franca.
Nunca procuro conflitos, nem procuro hostilizar ninguém, mas não prescindo daquilo em que acredito nem das minhas convicções.
Isso nunca!
beijos amigos
ps.(r) paradoxal é alguém que escolhe o nome de mugabe chamar fascista a Orwell. Pelos vistos, os óculos de Penafiel continuam a ter bastante saída...
beijos
Muitos Zés espreitam aqui, á vontade.
O meu avô também era Zé.
cumpts