Já falei aqui das férias de infância, acabavam com duas ou três semanas na Quinta dos Rapazinhos.
A Quinta dos Rapazinhos ficava em Seiça, terreola do Concelho de Vila Nova de Ourém, perto de Tomar e Fátima.
A viagem era comprida e apinhava-mos no carro quatro adultos e três crianças.
A Quinta dos Rapazinhos era da Tia Maria, viúva de um professor primário, irmão da bisavó dos meus primos.
Portanto a Tia Maria, não me era nada em termos de parentesco, o que não isentava de tratamento de Tia e sobrinha.
A Tia Maria era uma mulher humilde, do campo, depois do marido morrer dormia num esconso, num divã e mantinha a casa imaculada e arrumada como ele a deixou.
A casa era antiga, com soalhos de tábua corrida que rangiam, nós dormíamos nas águas furtadas, os meus primos nas camas de ferro eu numa cama de abrir, levada de propósito, porque na primeira vez que lá fui descobriu-se que quando dormia nas camas de ferro, com colchões cheios de folhelho de milho, acordava num tom vermelho de alergia.
A casa era bonita, estava recheada de móveis pesados e soturnos, com torcidos e tremidos, acumulavam-se no escritório de móveis de pau santo e centenas de Revistas “Plateia”.
A Quinta dos Rapazinhos ficava em Seiça, terreola do Concelho de Vila Nova de Ourém, perto de Tomar e Fátima.
A viagem era comprida e apinhava-mos no carro quatro adultos e três crianças.
A Quinta dos Rapazinhos era da Tia Maria, viúva de um professor primário, irmão da bisavó dos meus primos.
Portanto a Tia Maria, não me era nada em termos de parentesco, o que não isentava de tratamento de Tia e sobrinha.
A Tia Maria era uma mulher humilde, do campo, depois do marido morrer dormia num esconso, num divã e mantinha a casa imaculada e arrumada como ele a deixou.
A casa era antiga, com soalhos de tábua corrida que rangiam, nós dormíamos nas águas furtadas, os meus primos nas camas de ferro eu numa cama de abrir, levada de propósito, porque na primeira vez que lá fui descobriu-se que quando dormia nas camas de ferro, com colchões cheios de folhelho de milho, acordava num tom vermelho de alergia.
A casa era bonita, estava recheada de móveis pesados e soturnos, com torcidos e tremidos, acumulavam-se no escritório de móveis de pau santo e centenas de Revistas “Plateia”.
A Tia Maria tinha feito um casamento por amor, casamento que a família do marido não queria dada a sua condição de camponesa, pobre e analfabeta, contra a posição de professor Primário com algo de seu.
Acho que foram felizes, parece que a única tristeza foi não terem tido filhos.
Ele ensinou-a a Ler, ela referia-se sempre a ele como “O Sr. Professor”.
A Tia Maria recebia-nos com carinho, as nossas correrias animavam aquele casarão sem electricidade e transportávamos connosco uma televisão portátil, antena e bateria de automóvel para ligar a mesma.
A Tia Maria deliciava-se com aquela novidade, vendo emocionada Margot Fontein a dançar o Lago dos Cisnes, nós deliciávamo-nos com candeeiros a petróleo e histórias de fantasmas no sótão.
Deliciávamo-nos ainda com uma liberdade sem fronteiras, que nos permitia subir ás arvores para ver os ninhos, apanhar milho, nadar na ribeira, apanhar girinos para colocar na pia da água benta, ir à vacaria buscar leite morno ordenhado na altura, jogar matraquilhos no único estabelecimento da localidade que juntava um misto de taberna, mercearia e posto dos correios.
Também andávamos de bicicleta e de mota, porque no campo toda a gente de tem motorizadas.
Brincávamos com os miúdos do local e acompanhávamos as suas tarefas de campo, com a diferença que para eles era trabalho, para nós novidade.
De vez em quando deslocávamo-nos a Tomar e passávamos o dia na piscina, também a Vila Nova de Ourém, descobríamos o Castelo de Ourém, o Convento de Cristo em Tomar e dedicávamo-nos a inventar histórias de templários, principalmente à hora da sesta, em que não dormíamos e alternávamos Templários com jogos de cartas.
A Quinta dos Rapazinhos era o último reduto de Liberdade antes das aulas começarem, fomos lá sempre, até ao principio da adolescência, até que nos deixou de interessar, a tia Maria morreu, dos diversos herdeiros ninguém optou por conservar aquela casa senhorial e mágica.
Foi vendida por uma bagatela!
Nunca mais lá fui, nem quero, quero conservar a Tia Maria e a sua casa mágica assim para sempre.
Comentários
Kiss
São as que guardamos, as boas, as outras é esquecer!
beijos
Saudações do Marreta.
P.S. (salvo seja): E a recauchutagem Seiça, não é aí dessa zona?
Lindas recordações as tuas.
Abreijo
Quanto á recauchetagem não faço a minima ideia, como digo no post, nunca mais lá fui.
salvoconduto - Eu era fresquinha que nem uma alface, asneiras, diabruras e afins era a coisa que o trio maravilha (eu mais dois primos, um da minha idade, outro com mais dois anos anos) inventavamos com facilidade, tropelias de Carnaval, fingir que as campainhas de prédios grandes eram o computador do Espaço 1999, entre outras, não sei como não matámos alguém ataque cardiaco!
Portanto está descansado, não és o unico.
(os meus meninos não fizeram nem um quinto daquilo que a mãmã inventava, 24h/24h)
Beijos
Publique a sua escrita. É quase hipnótica, de tão agradável. É impossível parar de ler.
Transporto para mim as suas recordações e adapto-as. Penso que todos os que aqui vêm sentem o mesmo.
Saudade, saudade da mocidade.
Bj
Zé Ferradura
Quanto mais não seja para os meus filhos perceberem que é esta mulher.
Zé Ferradura-Olá, saudades mas não da mocidade, caramba, não me sinto velha, ainda me chamam "menina", um luxo!
beijos
Olha que ainda te vai render, para uma viagenzita, assim ao Varadero!... Quem sabe?
Ouss
(ai ai)
beijos
Nos felizmente temos duas casas na aldeia e todos os anos vou para la porque adoro aquilo e a liberdade e calma que tras!
Abraco
Sorte, sorte que tens.
É revigorante estar assim ao ritmo da natureza, adorava ter uma casa de campo, só tinha uma condição, não ser muito longe do mar...
beijo
As minhas são todas de água, de mar e de sol
diabruras à parte, porque sempre me lembram castigos
igualmente bonitas!
beijos
ausenda
Abreijo
infancia. São mto importantes.É de facto uma pena a Qta sair da familia. Essas casas, esses espaços deviam ficar para sempre no seio da familia q as fez "lares" q as fez "sítios" de boas recordações. Kiss
Abraço
Espero que fiques a olhar para as nuvens por gostares.
Quanto ao Barreiro, Camarros são os naturais do Barreiro, daí o meu nick, porque sou Camarra.
Não daqueles que os pais vieram de outros sítios (pelos quais tenho a maior das considerações, aliás), mas sou das “famílias velhas do Barreiro”.
Adoro o Barreiro.
Sei que a maior parte das pessoas tem a imagem de um sítio feio, cinzento, sujo, cheio de fábricas.
Eu conheço mais do que isso, o Barreiro tem história, mais de 500 anos, temos escavações arqueológicas, monumentos (um Convento Franciscano, vários edifícios ligados aos Descobrimentos, uma Igreja Manuelina, um Portal Manuelino, um núcleo urbano Medieval, um núcleo urbano Pombalino), temos ainda a melhor vista de Lisboa do lado Sul, temos praias fluviais com moinhos de vento, temos uma reserva ecológica no Rio Coina (Sapal), uma mata nacional, nidificação de garças e flamingos.
Temos uma grande ligação ao Rio e á vela, enquanto desporto.
Temos Colectividades centenárias em funcionamento.
Acho que adoravas fazer o que faço todos os anos: um passeio de embarcação tradicional, o Pestarola, um varino propriedade da Câmara Municipal, á vela, claro, donde se vê o Barreiro com outros olhos.
A maior parte dos Barreirenses não tem essa perspectiva!
Portanto, quando quiseres é questão de acertarmos agulhas e estou disposta a fazer-te a Magical Mistery Tour Barreirense, com muito gosto!
Já o fiz várias vezes até para um grupo do Centro Cultural de Belém que ficou “apaixonado” pelo Barreiro.
Beijocas
Carlos – Por isso nem quero lá ir.
Rei da Lã-Tá-se sim senhor.
Samuel-Guardo-a com muita ternura, um pouco de pena porque os meus meninos nunca irão ter esta experiência.
Ana – Bem aparecida, pois é pena o que é que se vai fazer?!
Beijos
Num faz de conta em que quase podia dizer:
lembras-te Ana, quando jogávamos ao ringue no recreio da escola? lembras-te quando pintamos os olhos com uma sombra muito azul?
Lembras-te dos fimes no Cine-clube?dos Jogos Jovenis e do Valegas?
Ai Ana, parece que foi ontem que alvoraçadas e com o coração aos saltos, participamos num São Martinho, muito especial, onde ouvimos falar de Liberdade.
Um abraço Lagartinha de Alhos Vedros
Os amigos nunca chateiam.
beijos
Lembro-me de muita coisa como tu, lembro-me muito bem do Augusto Valegas amigo de familia e de cuja familia sou amiga.
Lembro-me do dia 25 de Abril do alto dos meus 7 anos de idade.
Somos vizinhas, Alhos Vedros é já aqui ao lado, se calhar temos uma idade próxima, crescemos no mesmo ambiente é normal estes pontos comuns.
beijos
Sou mais velha, as minhas lembranças são mais antigas, quando se deu o 25 de Abril já trabalhava, era jovem,mas já tinha sentido o que era o fascismo, não na cadeia, mas pela falta de liberdade e pelo que podia custar a ousadia de ir ao Congresso de Oposição Democrática, em Aveiro, por exemplo.
Claro que conheço a família do Valegas e outras famílias do Barreiro, repara o Barreiro será sempre uma grande referência de lutas operárias e claro de lutas do Partido Comunista Português.
Por isso tanto temos em comum
Um abraço da Lagartinha de Alhos Vedros
Ainda estou por aqui!
Dizer-te que um dos comentadores ocasionais é neto do Valegas.
Quanto ao Cine Clube o meu pai foi fundador, eu já fiz parte dos corpos gerentes e sou sócia.
O mundo é pequeno, amiga Lagartinha.
O meu pai e o meu tio também estiveram no Congreddo de Aveiro, aliás tenho fotos unicas das cargas policiais.
Beijos
Viva os Jogos Juvenis do Barreiro!!
Viva a revista "Um olhar sobre o Barreiro"!!
e viva o bolo de Mel da Avó Ilda
:)
(hoje não assino para continuar clandestino)
É bom quando se é criança e tem-se recordações felizes. Também eu quando criança ia para a província nas férias de verão. Adorava.
Quanto ao livro? Como é que é? Não me venhas com desculpas e modéstias de treta. Vá comece lá a preparar o livro.
Beijos,
Zorze
Um beijo amigo.
Viva a Avò Ilda e avô Augusto, pois está claro!
viva um olhar sobre o Barreiro, daqueles que eu tenho e tu também cheio de carinho, apesar de por vezes ficarmos zangados com ele.
Beijinhos
Fernando Samuel - Mas a vida é isso mesmo uma mistura de alegria, tristezas, recordações e esperanças de futuro.
Beijos
Pois deve ser o Pedrocas o mais guloso pelo bolo da avó Ilda, beijos para ele.
Para terminar o serão, aqui fica para a roda inteira, uns versos de Gedeão
Eu,quando choro,
não choro eu.
Choro aquilo que nos homens
em todo tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu
Um chazinho e uma fatia de bolo de chocolate da avó Ilda
Abraços da Lagartinha de Alhos Vedros
Vai na volta conhecemo-nos quanto mais não seja temos um mundo em comum.
Eu dou o beijo ao Pedro.
E á Ilda, já agora á Amália.
Já agora um beijo para ti também
não sei quem é a lagartinha de alhos vedros....no idea!
o bolo de mel é conhecido, dos tempos do lançamento da revista; mas o bolo de chocolate é mais recente, é mais jornadas de trabalho em junho, julho e agosto.
beijos aceites por mim e pelas minhas mulheres. beijos retribuidos.