Relógio sem pilha




O relógio sem pilha quase que dá as horas certas, acontece duas vezes por dia, não quando o relógio nos apanha mas quando atingimos aquele momento em que ele se ficou, atinjo também o relatório interminável que deixei meio feito, porque afinal sendo extenso ainda leva mais coisas, não é possível resumir assim quatro anos, hoje está frio, mas está sol, sempre agradável ver o astro rei, por muito que seja uma estrela anã, velha na periferia de uma galáxia, é o sol.
O sol não aquece mas conforta, como o café da manhã partilhado com um amigo de sempre que se disponibiliza para a tarefa de me transportar para trás e para a frente, para trás deixei a casa, onde me equilibrei entre canadianas e um andar instável para começar as tarefas de sempre, agora sempre interrompidas por períodos em que não posso mais e tenho mesmo que me sentar, fiz sopa, um bolo, almôndegas, preparei um peixe para assar, dobrei roupa interior, arrumei o que pude, onde chego, li, vi uns filmes, partilhei um bocadinho com amigos, cheirei as maçãs antes de as comprar, coisas pequenas, vitórias simples.
Debito estas coisas sem nexo, apenas ao correr dos pensamentos, penso que sou como o relógio, com uma pilha que se gastou, talvez por exaustão, de um lado e de outro dão-me as boas vindas, quem acredita em acidentes cósmicos chama-me a atenção que isto foi aviso, que tenho de abrandar, penso que talvez tenha sido apenas uma pausa, não me apetece abrandar muito, a mim parece-me apenas que foi um acidentem, uma queda mal dada, como outras coisas, quando caímos é imprescindível sabermos levantarmo-nos.

Comentários

Unknown disse…
Olá, Ana

Seja um acidente "cósmico", uma queda mal dada ou uma "armadilha" do destino, o importante é sempre sabermo-nos levantar, cabeça erguida e seguir em frente.

Ana
Zorze disse…
Ana,

O relógio é um ditador.
Vai contra a nossa natureza.
Os seus primos despertadores são os mais cruéis cortam-nos o sono quando o corpo ainda pedia mais soninho.
Interrompe.
Vivemos essa ditadura sem saber muito bem porquê. E precisamos dela para viver.
É por isso que compro relógios baratos.

Quanto ao que acredita em acidentes cósmicos, acredita nele. Dever ser muito bonito e muito inteligente. São feelings que se topam à distância!

Beijos,
Zorze
Fernando Samuel disse…
Sabermos levantar-nos é mesmo a coisa mais importante da nossa vida.


um beijo.