A minha avó ficou comigo quando eu tinha seis anos, por razões que não vale a pena explicar, os meus pais partiram, para viver noutro sítio, noutra casa, com outra filha novinha a estrear. A princípio doeu-me muito, não o ficar com a minha avó, mas esta sensação de abandono, hoje percebo o porquê, não concordo, mas percebo, com seis anos não percebi, até porque existiam coisas que nunca se explicavam ás crianças.
Mas fiquei com a minha fantástica e fabulosa avó, que ainda por cima tinha características muito especiais, a começar pelas físicas: a minha avó tinha um olho castanho escuro, quase preto e outro azul clarinho, não era uma deformação genética, simplesmente na adolescência a tirar agua numa bomba a alavanca bateu-lhe no olho o que veio a provocar cegueira, daí o olho azul; a minha avó tinha o cabelo todo negro, excepto uma madeixa branca que partia exactamente do chamado “bico de viúva”, a maioria das pessoas achava que era pintado, com a extravagância de deixar uma madeixa branca em destaque, mas não, era assim mesmo, por fim o mistério mais assombroso do corpo da minha avó era não ter umbigo, fascinava-me aquele ventre onde faltava aquela marca de mamífero, a explicação era simples, ao ser operada a um tumor no útero e tendo-lhe sido retirado o mesmo, os cirurgiões coseram a eito, retirando-lhe o umbigo.
Estes eram os mistérios físicos da minha avó, nessa idade passei a partilhar com ela a mesma cama, a aprender fados do Frutuoso França, sobre desgraças intermináveis, áreas de opera de Puccini, tangos de Carlos Gardel e canções brejeiras, aprendi a misturar ovos, açúcar e a moldar biscoitos de manteiga equilibrada num banco de cozinha, quando eu chegava da escola fazia os deveres (era assim que se chamavam), sobre o olhar atento da minha avó que aproveitava e aprendia aquilo que não tinha tido oportunidade de aprender em criança, nesta altura do ano quando chegava a casa e via que ela tinha os dedos enegrecidos, sabia que me esperava uma taça de bagos de romã, com um bocadinho de açúcar amarelo, fazia-me chá de limão, para bebermos no meu serviço de porcelana em miniatura, do qual ainda sobrevivem um bule, três pires, uma chávena, contava-me episódios da sua infância, coisas sobre o meu avô, alguns dos episódios que aqui conto.
Mas fiquei com a minha fantástica e fabulosa avó, que ainda por cima tinha características muito especiais, a começar pelas físicas: a minha avó tinha um olho castanho escuro, quase preto e outro azul clarinho, não era uma deformação genética, simplesmente na adolescência a tirar agua numa bomba a alavanca bateu-lhe no olho o que veio a provocar cegueira, daí o olho azul; a minha avó tinha o cabelo todo negro, excepto uma madeixa branca que partia exactamente do chamado “bico de viúva”, a maioria das pessoas achava que era pintado, com a extravagância de deixar uma madeixa branca em destaque, mas não, era assim mesmo, por fim o mistério mais assombroso do corpo da minha avó era não ter umbigo, fascinava-me aquele ventre onde faltava aquela marca de mamífero, a explicação era simples, ao ser operada a um tumor no útero e tendo-lhe sido retirado o mesmo, os cirurgiões coseram a eito, retirando-lhe o umbigo.
Estes eram os mistérios físicos da minha avó, nessa idade passei a partilhar com ela a mesma cama, a aprender fados do Frutuoso França, sobre desgraças intermináveis, áreas de opera de Puccini, tangos de Carlos Gardel e canções brejeiras, aprendi a misturar ovos, açúcar e a moldar biscoitos de manteiga equilibrada num banco de cozinha, quando eu chegava da escola fazia os deveres (era assim que se chamavam), sobre o olhar atento da minha avó que aproveitava e aprendia aquilo que não tinha tido oportunidade de aprender em criança, nesta altura do ano quando chegava a casa e via que ela tinha os dedos enegrecidos, sabia que me esperava uma taça de bagos de romã, com um bocadinho de açúcar amarelo, fazia-me chá de limão, para bebermos no meu serviço de porcelana em miniatura, do qual ainda sobrevivem um bule, três pires, uma chávena, contava-me episódios da sua infância, coisas sobre o meu avô, alguns dos episódios que aqui conto.
Com o tempo os papeis foram-se invertendo, ensinei-a a gostar de Pink Floyd e de Queen, ela achava que o Freddie Mercury devia ter estudado canto, a minha avó aldrabava as horas em que eu chegava a casa, por vezes deitando-me eu vestida ao seu lado e ela garantindo que eu dormia à horas quando eu tinha acabado de chegar, passei a ser eu a fazer-lhe um batido de morango quando chegava a casa e bebíamos as duas um copo cheio de vitaminas, fresquidão e morangos.
Foi um batido de morangos que me pediu por gestos entubada no hospital dois dias antes de ter desistido de viver, porque também me transmitiu que peça de ouro cabia a cada neto e que não queria subsistir mais tempo assim.
Tenho saudades dos batidos de morangos, quando é época faço um e lembro-me dela e agora apetecia-me chegar a casa ouvir a Bohemian Rhapsody ou o Breathe a comer uma taça cheia de bagos de romã.
Comentários
Os artigos sobre o «holocausto» incomodam-te, Ana? Não vês os absurdos dos testemunhos?
Não, não me incomodam,ando é na minha vida meia doida e por vezes não tenho tempo para esmiuçar como deve de ser certos textos.
beijos
TENS, uma Avó estupenda!
Como eu TENHO duas, uma cá e outra lá.
Beijos,
Zorze
Para quando a compilação dos textos?
Eu pergunto só por perguntar, porque as desculpas já conheço bem!
Um beijo
Lagartinha de Alhos Vedros
ler as tuas recordações, lembra-me que eu, dessas, poucas tenho.
Recordo a escola, mas não tinha ninguém ao pé de mim a ver-me fazer os "deveres".
O meu pai, que me ficou vendo do outro lado da vida, não podia ensinar-me.
Uma coisa parece um paradoxo. Tendo tanta familia, tive uma infancia carregada dos silencios da solidão, que eu fui aprendendo a quebrar.
Hoje, só tenho saudades de quem poderia dar-me os bagos de romã ou o batido de morango e hoje não pode fazê-lo.
Para quando o livro?
Paz e Luz na tua casa
Um beijo.
A minha avó era uma pessoa muito especial.
Lagartinha
Avós, tias, primos eu no meio disto acho que sou muito banal.
Akhen
A minha infância está cheia de pessoas, muitos afectos e algumas amarguras.
Fernando Samuel
Ainda hoje me faz falta, devia de ser giro com os bisnetos.
Beijos
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