È salgado o meu país


Gosto do meu País, gosto da costa, das praias de areia fina, das rochas, dos cabos com faróis, gritos alucinados das gaivotas, lotas de peixe, do interior, das matas de pinheiro com caruma pelo chão, gritos de pássaros, gosto dos rios do meu país, prateados com ilhotas, gosto dos castelos, das pedras antigas, não sendo católica até gosto das igrejas, gosto das cidades, das aldeias, das planícies do Alentejo, dos sobreiros, das pedras de Trás os Montes, das serra e dos Vales, dos pomares de cerejas da Beira, de laranjas do Algarve, das vinhas ao correr da estrada, do gado indolente, das casas de pedra acima do Tejo, das brancas caiadas, com barras, azuis e amarelas…

Gosto do cheiro do meu País, a cortiça, a estevas, a mosto, a flores de laranjeira, maresia.
Gosto das palavras do meu País, dos seus poetas, os que escrevem só o que cantam, os que escrevem para ser cantados, por vozes roucas, agudas ou maviosas.
Gosto do som do meu País, a guitarra Portuguesa, a gaita-de-foles, a Bombos e Adufes, Braguesas e Cavaquinhos, a vozes agudas do Minho e arrastadas no Alentejo.

No entanto o meu País tem um defeito, grande, quer sempre despir esta roupagem, ficar igual aos outros, despreza o seu povo, o seu mosto e o seu sal, trata-nos como imbecis, esquece-se que nós somos o nosso País, esquece-se que várias vezes mudámos a sua face, que o pintámos com outras cores, que o obrigámos a acordar.
O meu País precisa de acordar!

Comentários

CRN disse…
Ana,

querem que deixêmos de ser Portugal para sermos uno, ou nenhum, ninguém, peças de esforço de "uma engrenagem caduca".

Antes morrer de pé que viver de joelhos, antes acordado, fustigado, que adormecido adulado.


A revolução é hoje!
Maria disse…
E este teu post é doce...
Precisa de acordar, sim!
E 35 anos depois de Abril há ainda tanta ignorância e preconceito...

Beijos
Paulo Lontro disse…
Curioso, não tenho nada essa ideia, pelo contrário, vejo as imagens e tradições mais activas hoje do que nos anos que se seguiram ao 1974. Lembro-me mesmo de algumas tradições nessa altura serem bem combatidas e muitas vezes serem “anexadas” a maus vícios do tempo da outra senhora.
Como sabes vivi lá por fora e vi variadíssimas vezes a imagem de Portugal ser ligada a algumas das tradições, cheiros e imagens exemplificadas no teu post.
Que Portugal necessite de acordar para muitas coisas até estou de acordo mas para as coisas que falas…. nem por isso.
Ana Camarra disse…
CRN-Acho que nem sabem o que querem...

Maria-Ainda há muito.

Paulo Lontro-Confesso que estou obtusa, não te percebo. Com este texto quero dizer que adoro o meu país, naquilo que o caracteriza, mas que estou triste, desanimada por tanto se ter comprometido em troca de nada ou em troca de uma "modernização", de um Europeismo, que nos descaracteriza, mascara e acima de tudo tolhe-nos.
Acho que precisa de acordar!


Beijos
Paulo Lontro disse…
Sim sim eu entendi que gostas, a divergência está no facto de eu achar que nada está comprometido, porque haveria de estar, a cultura e as tradições somos nós que as fazemos e eu acho que elas existem e estão vivas e nem sequer correm riscos. É a minha opinião, posso estar enganado…
Fernando Samuel disse…
Fizeste-me lembrar Afonso Duarte:
«É só mar o meu país
- não há terra que dê pão»...

Um beijo.
Diogo disse…
O nosso rectângulo é sublime. De cima a baixo, de leste a oeste, a metade costeira, a metade raiana e o centrão alentejano, ribatejano e beirão.

Quanto ao acordar, tem de ser rápido. É desligar a televisão, atirar os jornais para o lixo, pegar num varapau e ir pedir explicações aos políticos e aos financeiros...

Beijo
sagher disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
sagher disse…
eu gosto do meu planeta, parte de um universo imenso. Dono de um outro universo construido de diversidade, de novidade e também de história. Gosto de pensar um mundo livre. Um mundo onde as fronteiras fossem unicamente as da imaginação, isto é: Nao existissem. Um mundo onde todos fossem iguais, sendo diferentes.
Sem os rituais das bandeiras ou dos hinos que demarcam territórios e provocam guerras e mortes inuteis.

um mundo que tarda em acordar. Mas que um dia inevitávelmente se vai erguer.

beijo grande Ana
Anónimo disse…
Aninha, tão lindo! A mensagem,a música e as imagens.

País salgado, pois pode até ser mas para nos ajudar valha-nos doces como tu!

Um abracinho, um dia isto vai!

Lagartinha de Alhos Vedros
Crixus disse…
O nosso país é tão rico, com varios países dentro dele. Infelizmente são muitos os que não querem que o povo disfrute desta riqueza, que querem destruir o país, torná-lo igual a nada. Se o povo acordar, e tomar consciencia daquilo que pode realizar neste país, ainda podemos realizar o sonho do Chico Buarque, e torná-lo num grande Portugal. Para todos.
LUA DE LOBOS disse…
como eu te entendo...:(((
pois uniformizar é o lema e esquecer deliberadamente, ou melhor, ignorar o material humano DE VALOR IMENSO QUE CÁ TEMOS É UM DÓ DE ALMA
xi
maria de são pedro
Zorze disse…
Ana,

Muito bem. E muito bonito.
Também tenho essa percepção do País.

Beijos,
Zorze
F Nando disse…
ESPLENDOROSO!
Somos mesmo assim falta a ALMA DE ACORDAR andamos adormecidos há um TEMPO DE ACORDAR
É URGENTE!
Bjs
F Nando disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
mugabe disse…
Obrigado Ana ! Magnificamente retratado.

Abraço grande !
PDuarte disse…
havia tanto para eu dizer sobre este teu post.
isto é que era um bom tema para pormos a nu as nossas diferenças de opinião, serenamente os dois, com uma imperial para cada um, numa esplanada qualquer com a um não menos qualquer pôr-do-sol.
filipe disse…
É agri-doce, o nosso país, e tão lindo, tão rico de variedade, tão amorável para nós, portugueses que o merecemos e respeitamos.
O nosso país é tudo de tão bom como tu o descreveste. Se não te importas, vou só mudar o sujeito do teu penúltimo parágrafo, substituindo-o por "governo", juntando-lhe os apátridas que ele serve (a grande burguesia) e, então, vou poder sentir também meu, integralmente, o teu bonito post de hoje.
Saudações fraternas.
Ana Camarra disse…
Paulo-Vai estando comprometido a pouco e pouco, sempre que se abate um barco de pesca ou se substitui uma mata por um campo de golf ou por eucaliptos.

Fernando Samuel-O titulo de apresentador de novos poetas à Ana é justamente teu.

Diogo-Subscrevo.

Sagher-Partilho o que dizes e pode não haver fronteiras desde que seja respeitada a individualidade de cada povo. Gosto muito deste planeta, também, se não gostasse não me magoava tanto a forma como é maltratado.

Lagartinha-Vai pois!

Crixus-Esta terra ainda vai cumprir seu ideal!

Lua de Lobos-Mas enquanto existirem outras vozes…

Zorze-Eu sei que tens.

F Nando-O que faz falta é acordar a malta.

Mugabe-Nada tens de agradecer, é meu sentimento genuíno.

PDuarte-Muda lá a imperial, que não gosto de cerveja. Pode ser um Gin Tónico?

Filipe-à vontade, muda.

Beijos
Anónimo disse…
Como eu amo o meu país!
Mas foi preciso ir para o estrangeiro para aprender a dar valor ao que é nosso. Pronto, faço mea culpa!
Temos um país único, mas tão mal habitado, principalmente por essa espécie que dá pelo nome de "político"...
Só da maneira que tu o descreves faz sentido, Portugal é estrela do mar, agonizando numa pequena poça!
Há que agitar as ondas e limpar as areias que cristalizam de dor!

Beijos
Ana Camarra disse…
André-Uma bela adormecida!

Ausenda-Vamos tentando acordar.

beijos
TM disse…
Sim.... precisamos de acordar... Deixar de nos limitarmos a olhar, para efectivamente vermos o que existe em nosso redor...
Ver o que existe em nós e o nosso potencial... Talvez nesse momento consigamos ver o valor onde ele realmente existe...
Ana Camarra disse…
TM

E há muito valor!

beijos
Anónimo disse…
Durante algum tempo, ainda pensei que o país apenas estivesse a hibernar. Hoje creio que está em coma profundo e não me parece que haja esperanças de o reanimar.
LuisPVLopes disse…
Apenas era preciso um político que amasse verdadeiramente Portugal e, com uma equipa de igual ideal.

Amar Portugal é defendê-lo, protegê-lo, mas jamais enriquecer à sua custa, jamais cavar a sepultura desta pátria, pois quem nos governa actualmente, são os coveiros de um sinistro cemitério.

Haja a coragem para ressuscitar, rebentar as tábuas do caixão onde nos querem manter, esgravatar a terra que nos têm colocado em cima, olhar bem de frente o grande azul do céu e o sol de Portugal e, dizer-lhes NÃO!

Xôxos

Ouss