Os escombros são assim, restos de vidas, de coisas, paredes que assistiram a coisas, discussões, amores, choros, festas, alegrias, depois esqueceram-se delas e elas foram caindo, separando-se assim devagar, a argamassa a libertar-se do tijolo, os tijolos a serem assim, outra vez, unidades, onde eram um todo.
Ficam assim pedaços, pedaços de estuque com uma réstia de tinta, que alguém, escolheu, pesou se era alegre ou triste, se combinava consigo ou não, pensando quanto tempo amaria aquela cor, tinta aplicada a pincel, trincha, rolo, talvez alguém contratado pago para o efeito, ou não, um casal a fazer das paredes lar e a pinta-las em conjunto, um homem cansado, de mãos calejadas que ao fim de uma semana de trabalho queimou os seus dias de folga assim, a encher as paredes de cor.
E os escombros lembram-se de ser uma casa, uma sala, uma cozinha, guardam lá no fundo o calor das sopas, feitas com a calma de quem conta os legumes, calcula o fio de azeite, a pitada de sal, tritura tudo e junta de depois as hortaliças, lavadas, cortadas, transformadas. Guardam aquelas apreensões de quem se senta de papel e lápis e subtrai vezes sem fim, tapa de um lado, destapa do outro, para no fim ver que o milagre da multiplicação é impossível.
Lembram-se das crianças, que cresceram como trepadeiras, mudaram de voz, marcaram a altura na ombreira da porta, ainda ali está num resto de aduela, parece um pau, mas já foi uma medida de vida.
Há um azulejo que se lembra dos calendários, com cachorros num cestinho, gatos entre novelos de lã, um cavalo no prado, um que ficou mesmo depois de terminar o ano, com uma paisagem longínqua de águas calmas e florestas de sonho.
Os escombros lembram-se de quem lá viveu, guardam essas coisas todas.
Existem tijolos com cicatrizes de pregos, pregos que suportavam coisas diversas, quadros, relógios, cabides onde se pendurava casaco ao chegar a casa, a casa feita de tijolos, argamassas, azulejos, estuque pintado, que hoje são escombros, assim restos de vida.
Ficam assim pedaços, pedaços de estuque com uma réstia de tinta, que alguém, escolheu, pesou se era alegre ou triste, se combinava consigo ou não, pensando quanto tempo amaria aquela cor, tinta aplicada a pincel, trincha, rolo, talvez alguém contratado pago para o efeito, ou não, um casal a fazer das paredes lar e a pinta-las em conjunto, um homem cansado, de mãos calejadas que ao fim de uma semana de trabalho queimou os seus dias de folga assim, a encher as paredes de cor.
E os escombros lembram-se de ser uma casa, uma sala, uma cozinha, guardam lá no fundo o calor das sopas, feitas com a calma de quem conta os legumes, calcula o fio de azeite, a pitada de sal, tritura tudo e junta de depois as hortaliças, lavadas, cortadas, transformadas. Guardam aquelas apreensões de quem se senta de papel e lápis e subtrai vezes sem fim, tapa de um lado, destapa do outro, para no fim ver que o milagre da multiplicação é impossível.
Lembram-se das crianças, que cresceram como trepadeiras, mudaram de voz, marcaram a altura na ombreira da porta, ainda ali está num resto de aduela, parece um pau, mas já foi uma medida de vida.
Há um azulejo que se lembra dos calendários, com cachorros num cestinho, gatos entre novelos de lã, um cavalo no prado, um que ficou mesmo depois de terminar o ano, com uma paisagem longínqua de águas calmas e florestas de sonho.
Os escombros lembram-se de quem lá viveu, guardam essas coisas todas.
Existem tijolos com cicatrizes de pregos, pregos que suportavam coisas diversas, quadros, relógios, cabides onde se pendurava casaco ao chegar a casa, a casa feita de tijolos, argamassas, azulejos, estuque pintado, que hoje são escombros, assim restos de vida.
Comentários
Paredes que albergaram familias, que guardam as memórias de todos os acontecimentos, alegrias, tristezas ... de tudo um pouco, como tão bem descreves.
Velhas paredes que tanto teriam para contar ...
Bjs Ana :)
Lembrei-me de imediato do soneto da Florbela "Ruinas" e aproveito para te oferecer um bocadinho.
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E deixa sobre as ruinas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino das Quimeras.
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Um abracinho
Lagartinha de Alhos Vedros
Beijo
Abreijos.
Um beijo, Ana
As pessoas que se vão ambientando à ideia dos escombros, pois, a catástrofe que está aí iminente será o dia-a-dia que grassará nas séries existenciais que pulululam alegremente por aí de cabelos ao vento. Nem os carecas escapam!
Será que estás a ter visões? Avisos? Profecias?
Beijos,
Zorze
Abraço!
Parabéns.
Um beijo.
Lagartinha-Já conhecia, mas gosto muito da Florbela.
Diogo-Foi uma inspiração :)
Salvoconduto-Temos de o resgatar!
Maria-E houve.
Zorze-Não, profecias, não!
Mugabe-Obrigado.
Conde-Eu até sou miope!
Fernando Samuel-Obrigado!
Beijos