Nos momentos inusitados lembramo-nos de coisas muito estúpidas, desenquadradas, reparamos em coisas que não têm nada a ver.
Lembro-me perfeitamente das luzes do corredor do Hospital deitada na marquesa, quando carregada como um vulgar carro de compras, a caminho do bloco operatório, por um maqueiro que discutia o jogo de futebol da véspera, e eu reparava nas luzes, umas tapadas de vidro martelado, outras de acrílico fosco e naquela altura esforcei-me por descobrir um padrão.
Lembro-me de um ramo de flores particularmente bonito, colocado junto ao caixão do meu pai, com uma inscrição qualquer numa fita de seda, e eu reparei na forma invulgar das pétalas das flores e no gosto requintado de quem tinha juntado no mesmo ramo, girassóis e espigas, num arranjo campestre e emotivo, pensei que o meu pai gostaria daquele ramo.
Não me esquece também, de estar á espera de um resultado de uma análise vital, de saber se o meu filho mais novo teria ou não uma doença grave, depois de um noite de cateteres e seringas, olhar pela janela daquele corredor, ver o acordar de um grupo de abelhas a posicionar-se à espera que as flores abrissem, num esquema altamente organizado, e abstrair-me assim do relógio que parecia brincar de forma malévola comigo arrastando os segundos e os minutos, numa espera agonizante.
Lembro-me perfeitamente das luzes do corredor do Hospital deitada na marquesa, quando carregada como um vulgar carro de compras, a caminho do bloco operatório, por um maqueiro que discutia o jogo de futebol da véspera, e eu reparava nas luzes, umas tapadas de vidro martelado, outras de acrílico fosco e naquela altura esforcei-me por descobrir um padrão.
Lembro-me de um ramo de flores particularmente bonito, colocado junto ao caixão do meu pai, com uma inscrição qualquer numa fita de seda, e eu reparei na forma invulgar das pétalas das flores e no gosto requintado de quem tinha juntado no mesmo ramo, girassóis e espigas, num arranjo campestre e emotivo, pensei que o meu pai gostaria daquele ramo.
Não me esquece também, de estar á espera de um resultado de uma análise vital, de saber se o meu filho mais novo teria ou não uma doença grave, depois de um noite de cateteres e seringas, olhar pela janela daquele corredor, ver o acordar de um grupo de abelhas a posicionar-se à espera que as flores abrissem, num esquema altamente organizado, e abstrair-me assim do relógio que parecia brincar de forma malévola comigo arrastando os segundos e os minutos, numa espera agonizante.
E lembro-me de cheiros, do cheiro de terra molhada num dia em que decidi sozinha que não queria um amor que me fosse sufocando lentamente, lembro-me do cheiro da terra molhada porque era verão, aquela tempestade adivinhava mudanças.
E lembro-me estar em Paris, numa cidade de luz difusa e pedras bonitas, e cheirar-me a café e ser um impulso irresistível, pensar que o café sabia muito melhor assim, sem horários, sem ser bebido á pressa, saboreando e vendo a azafama de outra cidade diferente e no entanto tão igual ás outras.
Lembro-me ainda de dar um primeiro beijo e olhar apenas para um botão que estava em risco de cair, naquela manga que vestia aquele braço que se agarrava a mim.
Coisas em que reparo que nem vêm a propósito de nada…
Comentários
Um beijo amigo.
A senhora não me empresta 5 euros para a carcaça?
Bom fim de semana
Mais uma delicia!
Direi que todas estas coisas vêm muito a propósito de todas as coisas que reparamos e não damos conta.
Afinal coisas importantes.
Beijos
Zé Manuel
Serão as histórias ou a forma como as contas?
São histórias lindas e bem contadas, com boa música em fundo.
Abraços da Lagartinha da Alhos Vedros
;) beijinho
sem significado aparente,
que inconscientemente
nos fazem sonhar e voar umas vezes,
outras, arranca-nos do sonho
e devolvem-nos ao mundo
que às vezes não queremos ter...!
Magistralmente bem escrito o teu texto, melódico,ternurento, intimista....
Beijos
Ausenda
'Melhor da Semana'
- A senhora aceita um uisque?
- Não posso. Faz-me mal às pernas...
- As suas pernas incham?
- Não. Abrem-se...
fina??!! é não é?
hoje nem assino, nem digo mais nada, para poderes responder com valentia.
beijos & tortas
Beijo
já só não me lembro daquilo que me esqueci.
mas também eram coisas sem importancia.
assim como sem importancia são as coisas de que me lembro.
importante mesmo é irmo-nos lembrando e esquecendo.
bom fim de semana amiga.
Eu sei que "Isto tem dias" mas, a verdade é que aqui são sempre dias bons.
Pois, por vezes vêm a propósito.
Rei da Lã
5 Euros arranja-se mas anda a comprar a carcaça muito cara.
Zé Manuel
Mas vamos dando conta!
Lagartinha
Ainda bem que gostas:)
Korrosiva
A vida é feita de pequenos nadas, diz a canção.
Ausenda
Outras vezes, servem só para nos afastar um pouco desse mundo…
Meu menino
Enquadra-se no meu blogue?!
Amanhã pagas essa, temos de lanchar já que vou estar perto da porta, depois ligo!
Diogo
Adoro esta música! :)
È uma daquelas que qualquer mulher gosta que lhe cantem!
Pduarte
As coisa têm a importância que lhes damos, não é amigo?
Carlos Barbosa de Oliveira
Um querido! Eu escrevo para descarregar, expurgar, descontrair, escrevo como penso.
Hoje não tem sido um grande dia, mas estes mimos deixam-me mais confortada.
Beijos
Abreijos
Quando é, é!
è quando me dá para escrever estas coisas...
beijos
Bom fim de semana
Anad
Tenho te descurado, tenho, desculpa.
Vou corrigir.
Beijos
A vida é feita de pequenos nadas!
Xôxos
Ouss
A isso se chama "estar atenta".
Achei brilhante e de uma beleza plástica estes propósitos de nada.
Também eu tive numa maca do mesmo hospital, quando uma pedrita me saiu do rim e que queria sair à força. Eu não olhei para as lâmpadas, olhava para as paredes e também tentei estabelecer padrões.
Beijos,
Zorze
Zorze-Temos de ter esses pontos de fuga...
Beijos