Esta história merece ser contada, o protagonista já morreu.
Arquitecto, Barreirense, democrata e anti fascista, em 1974, frustrado com o falhanço do “Golpe das Caldas”, decide fazer uma das suas sessões de recolhimento, na sua casa Lisboeta.
As Sessões de recolhimento consistiam em desligar-se do mundo exterior, desligar o telefone, rádio, televisão, não atender a porta, não ler jornais, ler livros, ouvir musica e escrever, só, completamente só.
Decidiu faze-lo lá para dia 22 ou 23 de Abril de 1974.
E fez.
Saiu de casa no dia 2 ou 3 de Maio, disposto a enfrentar o mesmo país cinzento, com presos políticos, bufos da PIDE, Censura e Guerra em Africa.
Quando saiu, pensou que estava noutra dimensão, para além dos sorrisos, dos cravos vermelhos, as paredes estavam pintadas de múltiplas cores, sempre com a palavra Liberdade e Fascismo nunca mais.
Arquitecto, Barreirense, democrata e anti fascista, em 1974, frustrado com o falhanço do “Golpe das Caldas”, decide fazer uma das suas sessões de recolhimento, na sua casa Lisboeta.
As Sessões de recolhimento consistiam em desligar-se do mundo exterior, desligar o telefone, rádio, televisão, não atender a porta, não ler jornais, ler livros, ouvir musica e escrever, só, completamente só.
Decidiu faze-lo lá para dia 22 ou 23 de Abril de 1974.
E fez.
Saiu de casa no dia 2 ou 3 de Maio, disposto a enfrentar o mesmo país cinzento, com presos políticos, bufos da PIDE, Censura e Guerra em Africa.
Quando saiu, pensou que estava noutra dimensão, para além dos sorrisos, dos cravos vermelhos, as paredes estavam pintadas de múltiplas cores, sempre com a palavra Liberdade e Fascismo nunca mais.
As pessoas usavam palavras novas.
A primeira reacção foi achar que estava tudo doido, ou que estava doido, no seu desejo por Liberdade, a mente fazia-lhe aquela partida, mas não.
Depois acalmou, falou com as pessoas que se espantavam com a sua ignorância, inteirou-se da loucura dos últimos dias, comprou todos o jornais, telefonou a múltiplos amigos, saboreou esta cidade nova e renascida, e eu acho que chorou, eu teria chorado…
Comentários
eu tb me teria comovido,como ainda me comovo,quando vejo as imagens de timor,quando vejo o que fizeram de 68,como me comovo com todo o belo , que , de longe a longe cruza os nossos sentidos...
belo testemunho.obrigado por lembrar-nos que" o homem sonha a obra nasce"
duarte a tentar cumprir portugal
Às vezes ao desligarmo-nos da realidade que nos descontenta, acabamos por perder os seus melhores acontecimentos...
O pior foi o depois.
Quando me propus a nascer em Maio de 74, neste país, a ideia era outra.
Seja à bomba ou não, a coisa vai lá.
Beijos,
Zorze
Abreijo.
Maldonado-Por essas e outras evito desligar-me. Mas esta história é mesmo veridica, impressionante mas verdadeira.
Zorze-Em Maio de 1974 ainda o clima era de Festa, pode-se dizer que chegaste em grande! Isto resolve-se mas não acredito que seja com bombas!
Salvoconduto-Eu também me lembro, na dimensão dos meus sete anos, diferente dessa tua vivência, mais rica.
Beijos
Vamos também construinodo a nossa realidade, penso eu.
Não sei até quando terá vivido esse arquitecto, mas esse sonho está hoje tornado num pesadelo.
Sempre que falava disso era com desgosto de ter perdido aqueles dias.
Morreu há meia dúzia de anos, lúcido, combatente, sempre disposto a mudar o rumo das coisas.
beijos
Hoje, com 48 anos, passaram 35 anos, para onde foi essa felicidade?!... Onde estão os sorrisos, a esperança, as convicções de que jamais o fascismo retornaria a esta Pátria?
Os pais olhavam para os seus filhos e, viam neles o futuro de uma vida que lhes foi a eles roubada.
Hoje eu, assim como muitos milhares de pais olham para os seus filhos e, temem que não tenham qualquer futuro, que o mesmo lhes seja roubado como o foi o dos nossos pais.
Infelizmente deixámos que o fascismo tornasse a esta Pátria, mais discreto, mais conhecedor das novas técnicas de dissimulação, usando palavras como democracia, respeito, autoridade, neoliberalismo, suaves poções ditas aos nossos ouvidos, como de fossem verdades na sua aparência, em tons suaves de rosa e laranja, mas que apenas não passam de profundas mentiras no seu âmago, com intenções de uma nova forma de subjugação e domínio.
Só quem o viveu e o sentiu então, sabe e sente o que se está a passar agora.
ACORDAI!... ACORDAI MEU POVO!... NÃO SÃO PULSEIRAS DE MARCA NÃO!... SÃO NOVAS GRILHETAS PARA NOS SUBJUGAR A NÓS E AOS NOSSOS FILHOS.
Xôxos
Ouss
Abreijos
Divina esta descrição, eu também teria chorado de certeza...
Kiss
Dá vontade de... a contar. (não?)
Um beijo amigo.
Samuel-Por vezes apetece muito.
Ludo-Nunca o vi chorar, mas tinha sempre lágrimas escondidas quando falava nisto.
Fernando Samuel-Tinha de a contar, não?
beijos
Como é possível perder o 25 de Abril, estando em Liberdade?