Esta foto é de 1974, do PREC, a sala é da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense, Os Penicheiros, não sei qual a ocasião, naquela altura existiam todas as ocasiões todos os dias.
A faixa escrita artesanalmente diz que “A Independência do Povo Português só é possível dando a Independência ao Povo das Colónias”
Estão colados cravos nas galerias, desenhados outros nas paredes do fundo.
A criança assinalada no círculo azul sou eu.
Atrás de mim estão várias mulheres da minha família, já morreram todas!
A criança seguinte um pouco mais velha é o meu primo.
Naqueles dias acompanhávamos os adultos numa exaltação colectiva, alucinante, depois de termos passado a infância a ser avisados para não cantar certas músicas que só se ouviam em casa em surdina, depois de ouvirmos falar à boca pequena em pessoas que conhecíamos amigos de sempre, que estavam presos, não percebíamos porquê, não eram maus, de se juntarem lá em casa pessoas que não conhecíamos, de olhar cansado, entravam escondidos, tratavam os nossos pais e demais familiares por camaradas, tiravam com cuidado papeis dobrados, mantinham-se sempre em estado de vigília, faziam-nos festas no cabelo com ar ternurento e saiam de madrugada calçados com os sapatos do meu pai ou vestidos com o casaco do meu tio.
Também me lembro de outras coisas, que ficam assim eternas na memória, ser acordada a meio da noite por homens agressivos e maldispostos, que metodicamente reviravam colchões e gavetas, armários e caixotes, derrubavam livros das prateleiras, e de fins de dia em que ansiosamente se olhava para um relógio com a imensidão do seu tique taque, à espera que a chave fosse colocada na porta e que alguém voltasse a casa em segurança…
E até me lembro de uma noite em que os meus tios disseram em surdina à minha avó para estar atenta ao rádio e não sair de casa, ela ficou, os meus tios não aguentaram o cansaço e dormiram com o rádio ligado, acordaram com a Liberdade.
Esta foto é tirada na mesma sala, onde foi tirada a foto do texto “Não vale a pena avisa-la!”, 13 anos antes!
A faixa escrita artesanalmente diz que “A Independência do Povo Português só é possível dando a Independência ao Povo das Colónias”
Estão colados cravos nas galerias, desenhados outros nas paredes do fundo.
A criança assinalada no círculo azul sou eu.
Atrás de mim estão várias mulheres da minha família, já morreram todas!
A criança seguinte um pouco mais velha é o meu primo.
Naqueles dias acompanhávamos os adultos numa exaltação colectiva, alucinante, depois de termos passado a infância a ser avisados para não cantar certas músicas que só se ouviam em casa em surdina, depois de ouvirmos falar à boca pequena em pessoas que conhecíamos amigos de sempre, que estavam presos, não percebíamos porquê, não eram maus, de se juntarem lá em casa pessoas que não conhecíamos, de olhar cansado, entravam escondidos, tratavam os nossos pais e demais familiares por camaradas, tiravam com cuidado papeis dobrados, mantinham-se sempre em estado de vigília, faziam-nos festas no cabelo com ar ternurento e saiam de madrugada calçados com os sapatos do meu pai ou vestidos com o casaco do meu tio.
Também me lembro de outras coisas, que ficam assim eternas na memória, ser acordada a meio da noite por homens agressivos e maldispostos, que metodicamente reviravam colchões e gavetas, armários e caixotes, derrubavam livros das prateleiras, e de fins de dia em que ansiosamente se olhava para um relógio com a imensidão do seu tique taque, à espera que a chave fosse colocada na porta e que alguém voltasse a casa em segurança…
E até me lembro de uma noite em que os meus tios disseram em surdina à minha avó para estar atenta ao rádio e não sair de casa, ela ficou, os meus tios não aguentaram o cansaço e dormiram com o rádio ligado, acordaram com a Liberdade.
Esta foto é tirada na mesma sala, onde foi tirada a foto do texto “Não vale a pena avisa-la!”, 13 anos antes!
Comentários
Sei lá, andam todos descontentes incluindo a tropa!
Quanto á foto, não estava por ali nessa data,mas provavelmente estaria noutro lugar a fazer o mesmo, nessa época, tal como dizes, festejávamos muito a liberdade.
Também tenho muitas fotos, as que gosto mais são de comícios, um deles no Campo Pequeno, outro no Campo 1º de Maio, manifestações e as fotos tiradas em jornadas de trabalho nas FESTAS DO AVANTE, no Jamor e na Ajuda!
Abraços
Lagartinha de Alhos Vedros
Falo porque me incomoda a apatia, o apagar da memória, o "não é nada comigo" ou "eu até era um miudo".
Eu era miuda, mas lembro-me, perguntei, o que não vi.
E o descontentamento é grande, a vida está complicada.
Beijos
Abreijo.
Por mim agradeço, já que nasci depois desse tempo, pelo que é sempre bom saber o que se passou. Gostaria de lá ter estado para comparar com o descontentamento de hoje.
Em primeiro lugar, bom acompanhamento musical, excelente diria, sem dúvida em sintonia com o texto, algo já comum neste blog.
Pois é, sem fotos, ouve muitas pessoas que ficaram com essa época gravada na mente e na retina, se calhar, por isso, hoje não são capazes de ver o que nos querem atirar para a frente, encontrando a realidade com mais facilidade que aqueles os quais, não só por não terem vivido essa experiência, vivem subjugados por uma alienação frustrante e de dificil identificação, constituindo essa, uma das mais graves patologias que hoje sofre o ser humano, uma doenças na qual o agente infeccioso é exógeno, sendo assim mesmo o primeiro que podêmos pegar de caras, mesmo que para tal seja melhor estar acordado, ainda que com sono.
Abraço.
A revolução é hoje!
AP-Pois andamos, é bom que toda a gente saiba, que não se esqueça, que não foi uma época histeria colectiva, foi uma época de grande libertação.
CRN-Ainda bem que gostas da música. Quanto ao que dizes tens carradas de razão, mas também sinto como uma certa obrigação este recordar, estas perspectivas, tinha 7 anos, mas tenho memória e quem não tem memória está sempre a tempo de aprender.
Está sempre a tempo de acordar.
Beijos
conta-as aos teus filhos.
para que não se repitam.
aquelas que nos privaram da liberdade antes do 25 de Abril e daquelas, se quiseres, em que nos queriam privar depois.
um beijo deste que não é muito agradavel ao tacto, mas que aos quarenta e um ano já não quer mudar.
Aos meus filhos e aos filhos dos outros tudo para que não se repitam
Não peças desculpas, desculpa lá os beijos de malta de 41 são uma coisa muito boa, eu é so desses que ofereço!
Beijos
Beijo
Abraço!
Mugabe-Pois era! Mas lembro-me!
Beijos
Kisses
Que bela foto.
Tu eras pequenita e rechonchuda. Eu era bebé acabadinho de nascer.
Actualmente, estamos a assistir ao quase rebentamento da bolha que foi crescendo nos últimos anos.
E de certo haverá novas fotos como esta, agora com máquinas digitais.
Beijos,
Zorze
Zorze - Podemos dizer que eramos promessas de futuro!
Será que conseguimos mudar o presente?
Beijos
A nossa revolução...!!!
Agora fiquei nostálgica... não sei porquê....
Beijos
Ausenda
Era o auge da luta, contra tantos traidores que nós nem sonhavamos, e alguns filhos da puta como um que hoje vamos ver ás 23h na RTP1, naquele celebre debate com o nosso camarada`´Alvaro Cunhal.
bjo
Saudações do Marreta.
P.S.: Só falhou uma coisa no post: a voz detestável do Luís Barragens (são gostos, he, he, he...)
José-Vamos ver é como quem diz eu estou numa fase que não o suporto ver...
Marreta-Não fui nada, era um nico de gente, mas habituei-me a ver tudo!
O Luis Barragens o que queres, eu gosto desta música!
Beijos
Por vezs dou comigo a pnsar que a eleição de Obama podia se o 25 de Abril dos americanos, mas não tenho ilusões. O racismo não se varre das mentalidades de um dia para o outro!
Mas desta vez temos de "faze-la" bem feita!
José- Pois é!
beijos
(tantos punhos levantados! tão bonito!)
Um beijo.
E é possivél camarada, é possivél!
beijos
Nessa altura nem nas alfaces andavas!
Mas faz outra coisa, já não és pequenino, és um rapaz crescido, não tenhas nostalgia por aquilo que não viveste, vive os momentos todos como um homem, o importante é sabermos de onde vimos e para onde queremos ir!
Beijocas
Tinha 13 quase 14 anos, estive lá, na rua, saí com milhares de pessoas, de jovens como eu e mais novos, a idosos, que choravam copiosamente.
Alguns agarravam nos rapazes e raparigas como eu e, diziam-nos com as lágrimas a escorrer pelo rosto, é para vocês que isto foi feito!... Nunca esqueçam, nem deixem que os vossos filhos esqueçam, o sofrimento de um povo e a alegria da sua libertação!
EU NÃO ESQUECI, NEM DEIXEI OS MEUS FILHOS ESQUECEREM, POIS DEVO-O A ESSES MUITOS HOMENS E MULHERES, QUE ME PERMITIRAM ESTAR ACORDADO!... OBRIGADO!
Xôxos
Ouss