Pronto não me posso esquecer amanhã de lhe telefonar, passo todos os dias e não espremo cinco minutos para um olá?!
Espremes, se quiseres, não queres porque sabes que nas palavras meigas, vai-te recriminar pelo silêncio, em surdina de palavras nunca ditas, com alegria contida na voz apesar de tudo, pela falta de tempo que lhe dispensas, por só disponibilizares esse olá. Por não arranjares tempo para te sentares na cadeira de verga, como sempre fizeste, teres paciência para os movimentos cada vez mais lentos, para veres outra vez fotos amarelecidas, de cartão, centenárias, onde se olham bisavós, trisavós, tios que nunca viste mas até achas que conheces, porque sempre no mesmo tom de voz ela explica-te.
Eles apresentam narizes finos e compridos, diferentes do teu arrebitado, cabelos louros como os teus são escuros, peles alvas como a tua é azeitonada, olhos pequenos que se adivinham claros, tanto como os teus são escuros e grandes.
Ainda assim ela diz sempre naquele tom que nunca se altera, educado e meigo, que são o teu sangue também, que também fazes parte daquele conjunto.
E sorris para ela, olhas para os cabelos já brancos onde se adivinham uns restos de louro pálido, a pele mais branca que leite, onde se adivinham todas as veias, os olhos pequenos de um azul-bebé descorado, mas que ainda assim expressam uma ternura infinita.
Os anéis e pulseiras que conheces desde sempre, sabes de quem foram...
Não tens tempo para mais que um olá a contra relógio, porque até nem gostas de ir ao micro quintal, que sobrou de várias obras e parcelas que foram vendidas, com uma laranjeira órfã, onde dantes se viam gamboeiros, limoeiros, arvores de doce lima, canteiros de hortelã, galos e galinhas livres, um monte de areia onde construías barricadas, fortes, castelos, mimos de pastelaria, tudo em areia.
Não queres ter tempo para vagarosamente veres retirar de arcas amostras de bordados, daqueles que te tentavam ensinar, na tentativa quase inglória de te dar a instrução requerida a raparigas de outros tempos, apesar de tudo aprendeste, faze-los de uma forma estranha, subvertendo esquemas desenhados em papel de quadradinhos minúsculos, subvertendo esquemas de cores, a fazeres tudo de uma forma quase anárquica.
Ainda assim ela diz feliz que fazes bem, que está bonito.
E se deres mais um pouco de ti, mais do que um olá apressado ao telefone, ela irá recarregar as suas baterias, de mulher mal amada, contida por milhares de convenções, que sempre se adaptou ao que outros queriam, esperavam dela, achavam que seria normal, próprio, adequado, mas que ainda assim tem por ti uma ternura sem limites, desde o dia em que nascestes.
Filha de outro sangue, onde o dela também corre, apesar de que, olhando para as duas, não se descobrir nenhuma afinidade.
Ainda assim, sabes que ela tem saudades dos gamboeiros, de te ver brincar na areia, que se sente feliz por te ver mulher, tem orgulho em ti, por viveres a vida que nunca viveu.
Espremes, se quiseres, não queres porque sabes que nas palavras meigas, vai-te recriminar pelo silêncio, em surdina de palavras nunca ditas, com alegria contida na voz apesar de tudo, pela falta de tempo que lhe dispensas, por só disponibilizares esse olá. Por não arranjares tempo para te sentares na cadeira de verga, como sempre fizeste, teres paciência para os movimentos cada vez mais lentos, para veres outra vez fotos amarelecidas, de cartão, centenárias, onde se olham bisavós, trisavós, tios que nunca viste mas até achas que conheces, porque sempre no mesmo tom de voz ela explica-te.
Eles apresentam narizes finos e compridos, diferentes do teu arrebitado, cabelos louros como os teus são escuros, peles alvas como a tua é azeitonada, olhos pequenos que se adivinham claros, tanto como os teus são escuros e grandes.
Ainda assim ela diz sempre naquele tom que nunca se altera, educado e meigo, que são o teu sangue também, que também fazes parte daquele conjunto.
E sorris para ela, olhas para os cabelos já brancos onde se adivinham uns restos de louro pálido, a pele mais branca que leite, onde se adivinham todas as veias, os olhos pequenos de um azul-bebé descorado, mas que ainda assim expressam uma ternura infinita.
Os anéis e pulseiras que conheces desde sempre, sabes de quem foram...
Não tens tempo para mais que um olá a contra relógio, porque até nem gostas de ir ao micro quintal, que sobrou de várias obras e parcelas que foram vendidas, com uma laranjeira órfã, onde dantes se viam gamboeiros, limoeiros, arvores de doce lima, canteiros de hortelã, galos e galinhas livres, um monte de areia onde construías barricadas, fortes, castelos, mimos de pastelaria, tudo em areia.
Não queres ter tempo para vagarosamente veres retirar de arcas amostras de bordados, daqueles que te tentavam ensinar, na tentativa quase inglória de te dar a instrução requerida a raparigas de outros tempos, apesar de tudo aprendeste, faze-los de uma forma estranha, subvertendo esquemas desenhados em papel de quadradinhos minúsculos, subvertendo esquemas de cores, a fazeres tudo de uma forma quase anárquica.
Ainda assim ela diz feliz que fazes bem, que está bonito.
E se deres mais um pouco de ti, mais do que um olá apressado ao telefone, ela irá recarregar as suas baterias, de mulher mal amada, contida por milhares de convenções, que sempre se adaptou ao que outros queriam, esperavam dela, achavam que seria normal, próprio, adequado, mas que ainda assim tem por ti uma ternura sem limites, desde o dia em que nascestes.
Filha de outro sangue, onde o dela também corre, apesar de que, olhando para as duas, não se descobrir nenhuma afinidade.
Ainda assim, sabes que ela tem saudades dos gamboeiros, de te ver brincar na areia, que se sente feliz por te ver mulher, tem orgulho em ti, por viveres a vida que nunca viveu.
E espera mesmo que seja pelo olá a contra relógio, pelo telefone
Comentários
Que texto assombroso!
Amiga, por favor escreve o tal livro, copia isto tudo, maravilhoso...
Um beijo
Lena G.
Mas muito antiga qual o contexto em que uma mulher naquele tempo pega num sextante?mesmo sendo para a foto.
beijos
As fotos não são da minha familia, até porque as da minha familia não estão nas minhas mãos, escolhi a da mulher com o sextante porque:
-Adoro o mar (isso já percebeste)
-As mulheres da minha familia dividem-se entro mais convencional possivél e o oposto.
-O sector da familia que refiro neste texto veio da Cornualha, o patriarca era Engenheiro Naval,portanto achei que tinha tudo a ver.
Ainda conheci o oculo de longo alcance dele, de latão, forrado a pele.
Ainda existe o seu diário pessoal, com relatos das viajens, do estado do mar, das escapadelas amorosas, também...
Portanto tenho uma veia marinheira!
As fotos da minha familia tem uma diferença substancial destas, são todos muito mais louros....
beijos
Beijo
Obrigado uma vez mais.
Escrevo o que me vai na alma.
beijos
E quanto ao livro olha se publicares eu juro que vou comprar e ler.
Abraço!
Magnifico escrito, como já nos habituaste... Venha o Livro!
Kiss
Abreijo.
O mar é um apelo formidavél.
Todas as grandes aventuras passam pelo mar.
Ludo
Pois não sei amigo, por vezes a internet faz birras.
salvoconduto
Tenho de ir mesmo, merece muito!
beijos
mas só me ficou uma dúvida. falas da tua mãe ou de uma das tuas avós?
acho que isso ficou omisso.
um beijo.
saboreando
de olhos pregados
e assim vou ficar
por momentos...!
Obrigada!!! Beijos
ausenda
Ausenda-Eu é que tenho de agradecer.
beijos
(li, ali atrás, zunzuns sobre uma publicação... e acho que é uma boa e útil ideia)
Um beijo amigo.
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
Luís Vaz de Camões
Xôxos repenicados
Ouss
Um Beijo delicioso, para uma autora deliciosa
Rapidamente e em força!
Venho o compêndio.
A revolução é hoje!
Fernando Samuel – os zunzuns são ideias de alguns comentadores e amigos, mas não sei se os meus escrevinhanços são dignos de tal coisa.
Sensei – Camões é assim, intemporal, Leonor será sempre formoso e não segura, para a eternidade.
José Gil-Não sou adorável, sou uma mulher que usa a escrita como escape do seu dia a dia, para exprimir as suas alegrias, inquietações, frustrações, carinhos.
CRN – Não sei amigo, deixa ver.
Beijos