O que me faz correr!





Acho que comecei a rabear quando juntei as duas metades de mim no ventre da minha mãe, não me lembro mas deve ter sido uma correria assim como multiplicar pedacinhos até me fabricar a mim.
Nasci ás 8 da manhã, na Primavera, numa segunda feira, começo de dia, de semana, do acordar da natureza, simultaneamente a hora em que o Barreiro começava a correr ao toque de múltiplas buzinas que chamavam carreiros de gente, para a CP, as fábricas de Cortiça, para a Cuf….
Depois nunca gostei de certas coisas, por exemplo nunca gostei muito de ir a circos, em vez de ficar fascinada com as lantejoulas ficava triste com os rasgões do pano, o pelo ratado dos leões velhos a bocejar, o ar triste da equilibrista que tinha um ar de fome e tristeza.
Nunca gostei muito de na Escola uns serem mais meninos do que os outros, os meninos filhos de doutores e comerciantes tinham um tratamento, o colega que era filho da contínua do colégio tinha direito a cachações pelos outros todos.
Ia sabendo das histórias de uma sardinha para quatro, de meninos sem sapatos, de crianças que morriam pequeninas.
Da minha avó que começou a trabalhar muito nova.
Histórias que não se queria repetidas.
Depois sabia daquilo que não se podia cantar, dos amigos que eram presos, lá me explicavam que não tinham feito nada de mal, só não queriam guerra, os meninos descalços e queriam cantar o que lhes apetecia.

Depois conforme crescia, ouvia, via, lia, ia dando conta que o mundo está cheio de injustiças, coisas mal explicadas, meninos que nunca o podem ser, pessoas que estragam por estragar, que fazem mal por fazer.
Não gosto!
Também não consigo ficar indiferente!
Sei que a minha corrida é pequenina para mudar o mundo, é trabalho insignificante de formiguinha.
Mas já viram bem o que as formigas todas juntas conseguem fazer?

Comentários

Anónimo disse…
A formiga no carreiro
Vinha em sentido cantrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário
Larpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas àguas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
Vinha em sentido diferente
Caiu à rua
No meio de toda a gente
Buliu buliu abriu as gâmbias
Para trepar às varandas
E de cima duma delas

Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
A formiga no carreiro
Andava a roda da vida
Caiu em cima
Duma espinhela caída
Furou furou à brava
Numa cova que ali estava
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
Anónimo disse…
Quando era pequena, passava férias no Alentejo, como já tenho muitos objectivos cumpridos (linguagem actualizada, para experiência, avaliação, etc.)lembro-me bem de praças de jorna,(leilão de força de trabalho)e muitas mais coisas de que não vou falar para não correr o risco de nem me lerem.
Quero apenas contar o que foi para mim, na altura com 6 ou 7 anos o maior terror de infãncia.
começou assim:
"esta noite veio a VIUVINHA e levou o homem da Maria, o filho da Joana..."
e eu perguntava quem era a Viuvinha e a minha avó mandava-me calar e recomendava-me que não falasse nisso a ninguém, podia vir a Viuvinha e levar o meu avô, o meu pai ou o meu tio.

E eu que só conhecia "A triste viuvinha que anda na roda a chorar"
Passei a ter um medo terrivel desta nova viuvinha que levava homens e deixava as outras mulheres a chorar.

Estas são algumas das minhas recordações de infãncia que partilho contigo, amiga Ana
Obrigada por me ouvires

Lagartinha de Alhos Vedros
Fernando Samuel disse…
Bom dia, formiguinha!

É com as corridas de milhares de formiguinhas juntas que vamos mudando o mundo...


Um beijo amigo.
Anónimo disse…
Sim seremos as obreiras, mas teremos de ter sempre em conta a mestra, para que não se torne na patroa, é preciso que não se desvie do carreiro.

Um exercito de obreiras, sim, mas não cegas!

A Lagartinha de Alhos Vedros
Abrenúncio disse…
As formigas são muito disciplinadas, metódicas e organizadas, mas também têm reis e raínhas.
Quanto aos circos, curiosamente e, ao contrário da quase generalidades das crianças, também nunca gostei, nem tinha paciência para aquilo, sempre gostei de coisas em que todo pudessem participar activamente e não apenas ficar numa posição de assistir e contemplar.
Saudações do Marreta.
Ana Camarra disse…
CRN - Fundamental Zeca, sempre.

Lagarinha de Alhos Vedros – Estás à vontade, não tens nada que agradecer. São essas memórias também que me fazem correr.

Fernando Samuel – isso mesmo, muitas corridas pequeninas…

Lagartinha – Nunca cegas, aliás no meu formigueiro ser mestra é muito relativo, são as obreiras quem mais ordenam!

Marreta – Isso deve ser uma virose que apanhamos todos os nascemos naquele ano. Quanto ao formigueiro o meu é republicano.

Beijos
Rui Silva disse…
Tenho andado em falta por aqui mas já repuz a escrita em dia.
Muitas das coisas que apontas por aqui também me afectaram e condicionaram quando era miudo,procuro não me esquecêr delas.Quanto ao circo...nunca fui,provavelmente os meus pais não me podiam levar quando era mais novo,depois,perdi o interesse.
Anónimo disse…
Também nunca gostei de circo, acho deprimente!
Mas sempre gostei de formigas, das obreiras, que são as que mostram serviço...
Ana Camarra disse…
conde

Pois as memórias e as sensibilidades fazem parate do nosso processo de construção.

AP

Outro que não gosta de citco!
Mas eu gosto das formigas, mas assim arraçadas de cigarra com gosto musical e amor pelo sol.
Mas sim as formigas são fascinantes.

beijos
LuisPVLopes disse…
O CRN, já me estragou o ímpeto, eh eh eh!... Pois eu estava para colocar o que ele já colocou.

Enfim, depois vingo-me!

Ouss
Ana Camarra disse…
Sensei

Há tanta coisa com formigas...
Anónimo disse…
Ana
Belo exemplo este das formigas!
Quando o homem inventou os seus primeiros utensílios, tinha nessa altura a inteligência da formiga, agora não sei quem vai á frente, mas o teu exemplo ainda faz sentido.
Bjos amiga.
Anónimo disse…
A Luta contra a Injustiça está-te no sangue desde pequena... Só em Unidade lá vamos...
Kiss
F Nando disse…
Quando o comboio chega ao Rossio sempre fica a imagem das formigas abandonando o comboio...

Beijinho
Anónimo disse…
Ainda tens muito que correr e ainda bem.

Abreijo.
Ana Camarra disse…
Ludo

Desculpa contrariar-te mas mais que isso é uma escolha, escolhemos de certa forma não nos conformar.

F nando

O Comboio no Rossio, para ti, o Barco do Barreiro para mim….


Salvoconduto

Não faço intenções de para de correr.


Eric

Nem mais! Nem ontem!

beijocas
aDesenhar disse…
Mudem de rumo
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro...

:-)