Conversa Comigo!




Apontar mentalmente o que tenho para fazer, já não resulta muito bem, terá de ser na agenda no caderno que me acompanha por todo o lado dentro da mochila, por falar nisso preciso de outro caderno porque este já está no fim, a ver se aponto para não me esquecer de comprar!
Amanhã não me posso esquecer de mandar aqueles mails importantes, a ver se não me esqueço ao mesmo tempo de enviar um mimo para a minha amiga perdida e só nas terras de Viriato.
Daqui por dez minutos tenho de interromper isto para fazer o jantar, uma bolonhesa com requintes de malvadez, mas tenho cozinhado pouco e parado pouco em casa é uma forma de os mimar, por mim deixava-me estar assim de chinelos e calças de fato de treino, bebia uma caneca de leite e já estava, espreguiçava-me no sofá e lia o Livro da Ruth Rendell que me está a entusiasmar, ficava ali já, mas tenho de começar o Relatório para quinta feira de manhã, é melhor fazer um jantar de jeito, sempre levo o resto para o almoço, a ver se consigo fazer um bolo também.

Olha recebo um mail do Rui, ando para falar com ele e não consigo, quando eu tinha 12 anos o Rui tinha 22, trabalhava com a minha mãe, jovem numa secção com mais de 20 mulheres que o mimavam, falávamos de bandas que elas não conheciam, levava-me a concertos, já é avô, é giro mas agora não tenho tempo.
Tenho de tirar os brincos, estes brincos ofereceu-me a minha irmã, fazem sempre um pouco de alergia mas uso-os para ela ver que gosto deles, deixa fechar a janela, olha aquela nuvem escura parece um carneiro, diferente, preto, altivo, cheira a humidade, as gaivotas andam em voos rasantes, afastam-se do rio, sempre sonhei em voar, quando eu era miúda nestes dias a minha avó recebia-me com cacau e torradas, ou então vianinhas, quentes com manteiga.
O micro ondas apitou, vou fazer o jantar, gostava de ter tempo para falar comigo, para arrumar aquelas coisas que andam para aí espalhadas: cartas antigas, postais de parabéns pelos meus 8 anos, fotos meio amarelecidas, recordações, uns livros, brincos anéis, pulseiras e fios, misturados de ouro, prata e fantasia, não interessa gosto deles porque gosto, que andam dispersos nas dezenas de caixinhas que faço colecção, caixinhas de madeira, de pedra, porcelana, de lata pintada, cristal, barro, não sei porque gosto tanto de caixas e bules, não consigo separar-me deles.
Uma chamada, sim não interrompe nada, para amigos assim de sempre a pedir ajuda, mentira estava mesmo bem agora a falar comigo, mas acabou-se logo conversamos as duas….tenho de apontar no caderno!

Comentários

Anónimo disse…
A tua playlist encabeçada pela Barca dos Amantes do Sérgio Godinho fez-me lembrar a outra Barca dos Amantes do Milton Nascimento, cujo CD tenho cá em casa. Vou "anotar" aqui para ouvir de novo.

Abreijo
Ana Camarra disse…
salvoconduto

Adoro o Milton Nascimento......

E adoro esta música e este poema!

abreijo
Fernando Samuel disse…
Este é o teu tom, o teu ritmo, o teu estilo...



Um beijo.
Anónimo disse…
Caramba mulher!!!
Inspiração não te falta... falta-te é tempo, não é?
Escrita escorreita, limpa, transparente. Lindo!

Um beijo
Ausenda
Ana Camarra disse…
Fernando Samuel

Pois é, o meu estilo.


Ausenda - Não, por acaso inspiração tenho muita, por vezes tenho medo é de não escrever nada de jeito!
Escrevo de rajada, de uma vez só

beijocas
Anónimo disse…
Estás bem inspirada... Já anotaste, eu vou anotar que escreves muito bem... Kisse Boa Semana
Ana Camarra disse…
Ludo Rex

Escrevo o que sinto, amigo

beijos
A necessidade de tempo para nós é directamente proporcional ao tempo que os outros nos tomam... Eu desde que descobri o botão de desligar no telemovel, sinto-me um homem novo...
O telefone depois de duas horas desligado deixa de se parecer com umas algemas e começa a ser de novo um aparelho de comunicação.
Mesmo a nível profissional é importante termos tempo para parar e pensar calmamente nas coisas procurando novas prespectivas aos problemas do costume...
Ao nível pessoal então, ter tempo para estar sózinho, é fundamental para percebermos concretamente o que queremos e não queremos assim irmos definindo a nossa rota sem correr o risco de naufrágios nem encalhar nos baixios que a vida nos põe à frente.
Sem pausas não ha musica, só ruido.
Pára uma beca rapariga. Faz-te falta.
Ana Camarra disse…
Sostrova

Tu conheces-me!
Sabes que quando estou parada estou doente.
Mas preciso de me encontrar comigo a sós, conversar comigo, sim.
Tenho de marcar na agenda.
Faz-me falta.

Beijocas
Anónimo disse…
Miuda

Este sostrova é alguém que eu conheça, é que me acudiram logo á ideia uma data de gajos que só estorvam e que tu tens pachorra para aturar.
Mas diz bem o gajo, tira uma beca para ti.
Já agora se tens saudades de um cacau, arranja-se um na ribeira!

beijaças e xi corações

Palo el niño
Anónimo disse…
Anita

Estes teus registos pessoais são sempre fora de serie.
Mas tens de arranjar um bocadinho para ti, só para ti, afinal és tão boa companhia!


beijos

Zé Manuel
Ana Camarra disse…
Paulinho, meu menino – Olha o cacau na Ribeira, ainda no outro dia falei nisso! Não, acho que não conheces o Sostrova.

Zé Manuel – Olha isto de ser boa companhia, tem dias…

Beijos