SILÊNCIO


O Silêncio é uma coisa bela e assustadora.
São belos tantos silêncios.
O silêncio da Paz.
O silêncio do reencontro connosco, que não é solidão, é diferente, solidão escolhida, por opção.
O silêncio do Amor que grita, sem palavras, sem som.
O silêncio gritante dos olhares.
O silêncio ruidoso das mãos.
O silêncio da música, que com o seu som enche a alma e apaga todos os outros pensamentos, todas as outras conversas.
O silêncio de uma respiração tranquila, compassada, que dorme em nuvens de sonho em asas de pássaros.
O silêncio das pedras quentes ao sol e o silêncio das arvores.
O silêncio cantante da água corrente, o silêncio compassado das ondas.
Depois outros silêncios
Silêncios que ferem.
È assustador o silêncio da solidão
È assustador o silêncio dos que se calam, dos que teimam em não ver, não ouvir nem falar.
“Isto não é nada comigo” Pensam em surdina, em silêncio.
Não lhes interessa o que corrói a vida, o que destrói o futuro, o que lhes mina o presente, o que lhes mascara o passado.
Não estão vivos a sério, são umas coisas….ruidosas e silenciosas!

Comentários

Anónimo disse…
Todo o texto está soberbo, mas destaco a segunda parte, porque me fez lembrar aqueles que não vivem e se limitam a existir.
Coisas ruidosas e silenciosas, como diz!
Anónimo disse…
Gosto do silencio dos olhares... dizem-me sempre mais que o som das palavras...

Um dia feliz... hoje é menos um dia para segunda ;)
Ana Camarra disse…
AP - Pois é, são coisas.

Korrosiva - Pois os olhares dizem tudo.

beijocas
Anónimo disse…
Anita

Que posso dizer, este seu silêncio é brutal.
A Ana vai de férias mas primeiro deixa-nos estes rasgos de génio.
A imagem é linda também
A primeira música revela-se estranha mas depois é surprendente e agradavél.
È como a Ana e como dizia Pessoa "Primeiro estranha-se depois entranha-se"

beijos
Anónimo disse…
Ana

Belo texto sim senhora!
Os silêncios são assim mesmo, esses belos que fala e os outros infames.
Mas Ana é uma mulher que até nos seus silêncios é uma pessoa que fala.
Fala muito bem.

Beijos

Augusto
Anónimo disse…
Miudona

Estás em grande forma, pois sim senhora, não há nada como a perspectiva de férias…
Minha rica menina.
O texto está muito lindo, grande orgulho que tenho em ti….

Beijões

Paulinho el niño
LuisPVLopes disse…
Olha, para mim o silêncio tem muitas conotações, mas aquela que vou deixar aqui, é a que a meu ver, mais se coaduna com o silêncio a que te referes:

De Alexandre O'Neill

"Poema pouco original do medo"

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos


Ouss
Anónimo disse…
Brutal!
Anónimo disse…
Ana

Ainda bem que existe para nos chamar a atenção para estes coisas.
è de facto verdade o silêncio dos olhares é belo.
o silêncio dos indifrentes é feio.

A Ana tem uma bela carola...

beijos

Anónimo Barreirense
Anónimo disse…
Por acaso recomendaram-me este sitio, em boa hora tenho andado a chafurdar e é interessantissimo, inteligente de bom gosto, inteligência profunda a sua, familiaridade que nos leva a querer conviver com uma pessoa tão profunda e que congrega á sua volta tanta gente.

Belas imagens, boa banda sonora (já percebi que muda conforme o texto, já perdi uma data de coisas).
Agora não despego.

olha permita um beijo ou dois
Anónimo disse…
Gaja

Palavras para quê?
Tu no teu melhor.
Silêncio Respeitoso.

Beijos muitos

Lena G.
Anónimo disse…
São a maioria silenciosa deste país, não nos calemos pois.

Abreijo
Anónimo disse…
Não sei de fundo de si tira estas coisas mas olhando só assim para si ninguém diria.
Embora já me surprende-se consigo sempre pela positiva, já vi que já lhe disseram, mas sim escreva um livro!
Anónimo disse…
Aninha,
Epectacular as tuas palavras, cada vez tenho mais orgulho de ter uma amiga como tu, bela por dentro e por fora.
Relativamente ao silêncio dos que se calam... Ficam aqui as palavras do José Régio que tão bem escreveu...


Cântico negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


Bjokas
Patanisca
Ana Camarra disse…
Anónimo das 14h13- Não sei o que quer dizer…

Anónimo Barreirense – Obrigada

Fernando – Bem-vindo, venha sempre que quiser

Lena G. – TU no teu melhor.

Salvoconduto – Não podemos deixar que o silêncio se instale.

Anónimo – Não sei quem é, mas obrigado na mesma.

Patanisca – Obrigado por tudo, pelos elogios, pelo belo poema, acima de tudo pela tu amizade.

Beijões
Anónimo disse…
Concordo com tudo o que foi dito aqui, belo texto, melhor soberbo texto, de alguém com uma bela cabeça sem dúvida.
Anónimo disse…
Aninhas

Vou de férias, não virei visitar-te de férias...
Espero que as tuas sejam tudo o que desejares e mais ainda, tu mereces.
É bom ver que continuas a juntar tanto amigo.
Quanto ao texto que posso dizer uma maravilha, embora se calhar eu seja dos que se calam...não devia, tenho de aprender contigo a ser mais reinvindicativo.
Os silêncios belos que falas são fantásticos.
Os poemas que te mandaram são lindos.
Mas mereces tudo e muito mais.

Beijos e abraços
Optimas férias

Zé Manuel
Anónimo disse…
Ana

esse poema do José Régio és TU...
A Patanisca ou será O Patanisca? Conhece-te bem.
Não deve de ser O Patanisca, porque o Patanisca que conhecemos é um beto parvo que não sabe de poesia.

ès mesmo assim.
Para quem cá vier e não saber ainda a MINHA AMIGA ANA é assim.

E eu tenho um orgulho filha da p. de ser amigo dela e de ela ser minha amiga....

BEIJÕES outra vez

Paulo El niño
samuel disse…
Texto muito bonito... e atento!...

Abreijos
Ana Camarra disse…
Anónimo das 19h16 – Obrigado

Zé Manuel – Boas férias aproveita as tuas meninas.

Paulinho – Não filho é uma Patanisca, não é o beto, Obrigado por esse orgulho todo caramba!

Samuel – Obrigado, faço por ser atenta.


Beijos
Anónimo disse…
Apesar de gostar muito do silêncio, sou daqueles que não consigo ficar calado...
Kiss
Mário Pinto disse…
Podiamos falar muito sobre o silêncio mas dessa forma sería mentira.
Fernando Samuel disse…
Bonito, muito bonito.
Destes silêncios todos, afinal, é feita a nossa vida...
Anónimo disse…
Bem Ana,esta a minha impressão digital.
Bem,no meu blogue recente,tenho um post chamado "O ruído do silêncio".
Já o tinha no meu hi5,há cerca de 2 meses,mas repesquei-o para o blogue e é um dos posts que estão no arquivo.Não sei se a Ana o leu.Resta-me a dúvida.
Pelo menos,tenho a certeza que os comentadores NAO LERAM...mas as minhas irmãs,amigos e colegas de trabalho sim.

Fique bem.Dri
Ana Camarra disse…
Ludo Rex - és marafado!...pois claro

CNR – pois seria….

Fernando Samuel – Obrigado

Dri – Não li, não costumo andar no hi5, mas vou lá à procura quando tiver oportunidade.

beijocas
Ana Camarra disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse…
Ana,continuo com a dúvida.O meu blogue tem o nome "embalando as horas" e nós já nos encontrámos,mais do que uma vez,no blogue "azul ao longe",onde éramos as únicas comentadoras.Sabe disso.
Ainda bem que lhe servi de inspiração...Podia era ter deixado um comentário,tal como eu fiz aqui.
Fique bem.
Dri
Ana Camarra disse…
Peço lhe desculpa mas nunca fui ao seu blogue, estava a pensar ir lá agora, se me tivesse inspirado no seu texto ou em qualquer outro pode ter a certeza que referia.
Parece-me que está zangada mas não esteja, talvez tenhamos escrito coisas parecidas por sermos pessoas parecidas?!
Vou lá ver agora...

beijocas
Ana Camarra disse…
Peço lhe desculpa mas nunca fui ao seu blogue, estava a pensar ir lá agora, se me tivesse inspirado no seu texto ou em qualquer outro pode ter a certeza que referia.
Parece-me que está zangada mas não esteja, talvez tenhamos escrito coisas parecidas por sermos pessoas parecidas?!
Vou lá ver agora...

beijocas
Ana Camarra disse…
Dri deixo aqui o mesmo comentário que deixei no seu blogue

"DRI

Li Atentamente e gostei.
Tem semehanças, mas não é igual, garanto-lhe que não me inspirei AQUI porque foi a primeira vez que cá vim....
Inspirei-me noutras coisas do dia a dia que talvez sejam semelhantes ao seu...inspirei-me no silêncio tranquilo de certas coisas que nos fazem bem e no silêncio incomodo de certas coisas que nos fazem mal.

Continue gostei do seu blogue voltarei cá.

bjks"
Anónimo disse…
Ana,peço desculpa se fui injusta consigo.E é claro que não é igual.Não podia ser.
Mas convenhamos que temos um olhar parecido nalguns pontos o que é natural.
Fiquei um pouco incomodada e lamento tê-la aborrecido também.É que eu não sou de comer e calar embora às vezes...devesse.
Obrigada pela sua honestidade.
Fique bem
Dri
Zorze disse…
Bonito Ana, existem tantos silêncios ...

O silêncio magoado, o silêncio triste e alegre. O silêncio gritante e os silenciados.

Beijo em silêncio,
Zorze