O meu pai morreu há dez anos, não faz hoje dez anos, não me agarro a essas datas, até porque ele me faz falta todos os dias.
Por me fazer falta todos os dias, nunca quis encarar a sua campa, a perspectiva de ver escrito em pedra as datas de início e fim de uma vida, infelizmente curta, repugnou-me sempre.
Acho que o tenho mantido vivo sempre, por não passar um dia que não sinta a sua falta e a sua presença.
O meu pai, foi sem dúvida uma influência marcante, por tudo, pelo seu exemplo de dignidade, honestidade e princípios, pela sua frontalidade, pela sua sensibilidade e ternura não assumidas.
Era um falso bruto, com uma aparência pouco amistosa à primeira impressão onde avaliava e media as pessoas depois restavam poucos caminhos: a indiferença total e absoluta, sem dúvida o pior; o gozo, nem por isso muito bom e a amizade aí assim, podiam contar com ele sempre em qualquer circunstâncias
Incansável, trabalhador e abnegado teve sem dúvida na paternidade a sua maior alegria, só depois reavivada com a chegada dos netos a este mundo.
Chorava com certas músicas, disfarçadamente, com certas cenas de certos de filmes.
Lia o jornal de traz para frente, como eu e a minha irmã, sem darmos conta.
Contava anedotas (eu também), amava as coisas simples, a família, o convívio, a conversa comprida…
Tenho a mesma maneira de andar, bato com os pés no tornozelo oposto, tenho os mesmos olhos, a mesma maneira de falar e expressar-me, os mesmos lábios cheios, o mesmo sentido de humor, durmo como ele, sento-me como ele, não por imitação, foi mesmo transmissível, falamos com as mãos também….
Nas férias adoravas, sentar-se num Largo calmo, no Alentejo, só a apreciar a ordem e luminosidade das casas caiadas com jornal e a bica à frente, o jornal na mesa, o cigarro nos dedos….quase que Juro que esteve ali comigo na esplanada, ainda há pouco….
Por me fazer falta todos os dias, nunca quis encarar a sua campa, a perspectiva de ver escrito em pedra as datas de início e fim de uma vida, infelizmente curta, repugnou-me sempre.
Acho que o tenho mantido vivo sempre, por não passar um dia que não sinta a sua falta e a sua presença.
O meu pai, foi sem dúvida uma influência marcante, por tudo, pelo seu exemplo de dignidade, honestidade e princípios, pela sua frontalidade, pela sua sensibilidade e ternura não assumidas.
Era um falso bruto, com uma aparência pouco amistosa à primeira impressão onde avaliava e media as pessoas depois restavam poucos caminhos: a indiferença total e absoluta, sem dúvida o pior; o gozo, nem por isso muito bom e a amizade aí assim, podiam contar com ele sempre em qualquer circunstâncias
Incansável, trabalhador e abnegado teve sem dúvida na paternidade a sua maior alegria, só depois reavivada com a chegada dos netos a este mundo.
Chorava com certas músicas, disfarçadamente, com certas cenas de certos de filmes.
Lia o jornal de traz para frente, como eu e a minha irmã, sem darmos conta.
Contava anedotas (eu também), amava as coisas simples, a família, o convívio, a conversa comprida…
Tenho a mesma maneira de andar, bato com os pés no tornozelo oposto, tenho os mesmos olhos, a mesma maneira de falar e expressar-me, os mesmos lábios cheios, o mesmo sentido de humor, durmo como ele, sento-me como ele, não por imitação, foi mesmo transmissível, falamos com as mãos também….
Nas férias adoravas, sentar-se num Largo calmo, no Alentejo, só a apreciar a ordem e luminosidade das casas caiadas com jornal e a bica à frente, o jornal na mesa, o cigarro nos dedos….quase que Juro que esteve ali comigo na esplanada, ainda há pouco….
Comentários
Ivone
Sabes eu também leio o jornal de trás para a frente, tal como o meu pai que fazia o mesmo. Será que a malta do Barreiro Velho aprendia a ler de trás para a frente? E, sabes, ambos iam te adorado estar ali sentados naquela esplanada sem nada se fazer, só ... estando... entre amigos, algo a que nós tanto valor damos tal como eles...
Beijo
JJay
A ternura com que a Ana embala as frases que dão vida ao seu pai é um grito de amor. E sim, Ana ele estava lá...
Kiss
Poderemos falar desse sentimento teu durante horas.
Guardo-o para falarmos pessoalmente.
Beijos,
Zorze
Fica bem...
Abreijo
"É uma fé!"
Sabes?... Ele não morreu!... Pois como ainda hoje nos referimos a ele de uma forma presente, ele está vivo nas nossas memórias, brincamos com as alcunhas que colocava a amigos e nem tanto e, que ainda hoje persistem. Como vês, apenas estamos privados do seu corpo, mas o seu espírito permanece bem vivo em todos os que com ele comungaram ideias e ideais.
Até sempre António
Ouss
JJay – Pois se calhar estavam connosco ali enquanto os sentirmos assim, não é amigo?
Capri – Obrigado, e sim é um grito de amor, de uma forma calada o meu pai também me ensinou a amar as coisas simples da vida. Como diz a canção “A vida é feita de pequenos nadas”
Ludo Rex – Linda frase, vou registar.
Mugabe – Sabes para além de toda a genética que o meu pai me deixou éramos grandes compinchas, com muitas cumplicidades e um grande respeito mútuo. Portanto não perdi só a figura paternal, perdi um grande amigo e não sei o que me dói mais e todos os dias, mesmo todos os dias penso nele, não de uma forma angustiante, penso que ele gostaria de ver aquele filme, ler aquele livro, ouvir aquela música, ver aquele por do sol. As opiniões de dele fazem-me falta, faz-me fala debater com ele mil e uma coisa e por vezes falo mesmo com ele, cá dentro….
Zorze – Pois se calhar sou extrafisica e não sei…mas sim falaremos pessoalmente.
Menina Idalina – Nós somos o hoje mas trazemos o ontem, sim também acho o nosso passado feito de ternura.
Salvoconduto – pois esteve, é verdade existem muitos vivos que estão mortos e não sabem e muitos mortos que caminham ao nosso lado.
Sensei – “È uma fé” é um clássico do meu pai para explicar os inexplicáveis, como tu dizes está vivo porque amigos, colegas de trabalho e família continuam a falar: se o António aqui estivesse, quando o António disse e quando o António fez…por isso está vivo não só para mim.
Beijocas a todos e obrigado por partilharem este momento tão íntimo
Beijinho.
Obrigada por também me fazeres recordar. É bom recordar os que partiram como se eles ainda aqui estivessem.
Dou por mim muitas vezes com a sensação de que o meu pai, que também já partiu há 8 anos,está ali. É um cheiro, é um som, é uma conversa ou uma situação e é bom recordar os bons momentos porque a saudade e o amor nos fazem esquecer as coisas menos agradáveis.
Continuação de boas férias.
Anabela
Atever - Tens razão amigo.
Anabela - As recordações são sempre agridoces...mas uma parte substancial é doce...
beijocas
um beijo!
Beijocas
(galo na piscina = Pinto da Costa, é?)
bjs