Pronto e finalmente hoje cheirou
a Primavera e mesmo que num dia qualquer a seguir chova outra vez, hoje já
cheirou a Primavera e o casaco essencial de manhã tornou-se em mais uma coisa
extra a transportar no saco, o barco que se atrasou foi apenas para ganhar
tempo para respirar e afinal encontrar alguém amigo que se calhar nem estava
ali por acaso para me indicar como fazer um percurso diferente.
Se calhar ter ido com muita
antecedência foi só para ter tempo de admirar fachadas de azulejo e mansardas
nos telhados, para beber um café solitário com calma, para ver os cachos de
lilases.
Talvez ter ido ali parar, não
tenha sido uma coincidência, porque afinal descobri outras coisas, e bebi outro
café solitário, mas servido com simpatia, num jardim secreto onde caem estames
de flores de laranjeira no meu cabelo, onde o céu é azul, onde arrumo umas
ideias para as coisas que me esperam, e quando as flores se transformarem em
fruto, as ideias em concretizações e as arrume num caixote, haverá sempre o
momento mágico de um jardim secreto onde sosseguei debaixo de uma chuva doce de
estames de flores de laranjeira, perfumados, a cheirar a Primavera.
Hoje cheirou a Primavera, e eu
senti que quase tudo é possível, ainda que o menos provável possível, que os
inesperados são coisas boas, que descer numa paragem diferente permite ver a
maré cheia de gente e de sol, encontrar um amigo, abraçar.
O cheiro da Primavera, ainda que
chova, já ficou nas telhas vermelhas, nos azulejos pintados das fachadas, nas
ideias que me ajudaram a crescer e montar outra coisa, dar outro passo, no
abraço com sol e carinho, na antecedência inequívoca que nunca é tarde.
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