Maio, o primeiro

Maio, o primeiro dia, não é um feriado qualquer, em 1886 cerca de meio milhão de operários da cintura industrial de Chicago, Estados Unidos da América saiu para as ruas, o que pediam eram jornadas de trabalho de oito horas, em manifestação pacifica.
Esta manifestação foi reprimida brutalmente, resultando na morte e ferimentos graves em muitos dos manifestantes, cinco dias depois voltaram à rua, o saldo foi de 8 lideres presos, 4 executados e ente os presos, 3 condenados a prisão perpetua…
O movimento operário internacional foi de tal ordem, que os julgamentos foram repetidos, com novos júris e foi reconhecida a inocência dos trabalhadores e condenado o próprio estado pela repressão.
Em 1889 o Congresso Operário Internacional reunido em Paris, declarou o Dia como Dia do trabalhador, no ano seguinte, os Estados Unidos da América fixaram 8 horas, como o horário de trabalho.
Até nos podemos perguntar se valeu a pena? Valeu!
Se ninguém se tivesse mexido ninguém teria esta consciência!
Não foi por acaso que por cá, Portugal, o dia começou a ser festejado como tal em 1890, regra geral com picnics de confraternização e romagem a campas de operários mortos a defender todos.
Com o fim da Monarquia foi ganhando estatuto de Festa de rua, desfile, celebração e afirmação e apesar de ser proibido pelo Estado novo, havia sempre forma de dar a volta à coisa e assinalar o dia.
Em 1962, a coisa tomou outras proporções, manifestações: pescadores, telefonistas, operários da Carris, da Cuf e bancários. Cem mil pessoas em Lisboa, vinte mil no Porto e cinco mil em Setúbal, brutalmente reprimidos e é claro iniciou-se aí um enorme movimento de trabalhadores rurais assalariados, com principal incidência no Alentejo, onde cerca de duzentos mil iniciaram uma greve que impôs ao regime, a jornada de oito horas de trabalho!
Podia ser feriado por Mozart ter estreado as Bodas de Figaro ou ser também a data da abolição da escravatura na Colónias Inglesas, mas não, foi um dia escrito por milhares que acharam que passo a passo podiam mudar o mundo, e mudaram.
Por cá inesquecível o primeiro de Maio de 1974, onde todos se juntaram livremente, toldados pela emoção a festejar.
Amanhã festejo, apesar de existirem muitos jovens que lhes é imposto muito mais que 8 horas de trabalho diário a troco de quase nada, apesar de em muitas ocasiões trabalhar muito mais que oito horas num dia, apesar de existirem muitos lugares no mundo onde estas coisas são impensáveis, de existirem muitos que acham que este feriado é por causa de qualquer coisa que nem é com eles ou uma oportunidade de umas mini férias.
Amanhã festejo, na Alameda, entre crianças e velhos, conhecidos e desconhecidos, a passar pelas janelas de onde atiram cravos rubros, festejo pelos que antes de mim quiseram mudar o mundo assim passo a passo na esperança de deixar um mundo melhor com os meus passos e a certeza de que parados não se chega lá!


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