A conta-gotas

pormenor de retrato que o Filipe Cardeira me tirou
Nem sei quantas gotas somos até sermos nós, ou se alguma juntamos todas as gotas que nos fazem, se somos aquele ciclo infindável de gotas doces ou salgadas, que se evaporam, cristalizam, caem, sobem outra vez, que alimentam, transbordam, que na sua ausência secam.
Podem ser suaves e mornas, refrescantes, ácidas, em pedra, geladas, límpidas, turvas, paradas, cantantes, imensas, tempestuosas, assim sou a conta-gotas.
Há gotas que ficam em poça, reservatórios, dentro de mim, por vezes gelam, por vezes doem, por vezes estagnam, demasiadas vezes prendem-se na represa que construo.
Outras parecidas, são as das decisões importantes, de vez em quando abro essa represa e correm livres numa cascata, tal e qual como as que me fazem criar coisas, ideias, projectos, as dos afectos são assim também, por vezes esbarram em muralhas…fazem ondas dentro de mim que se enrolam numa tempestade submersa.
Há gotas acidas, pequenos venenos espalhados, que se diluem devagar, deixam marcas pois.
Ainda assim, sem contar as gotas de mim, a conta-gotas há a essência que sou eu.

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