Mesmo com burocratas e temporais


Hoje o dia está cinzento, nada de mais, é normal, estamos no Outono, levantei-me sem vontade, apetecia ali ficar a ouvir a chuva a cair e aproveitar uma certa moleza, mas não, banho, pão de leite (esqueci-me de comprar fiambre), sumo de laranja, café, vestir-me (ténis, calças de ganga, camisola, casaco de malha, um elástico para prender o cabelo depois se for preciso), ligar o telemóvel (há uma mensagem de ontem, daquelas que gosto de receber), carro, hoje o caminho á outro, papelaria (os meninos compram dentaduras de vampiros e cartolinas. “Hoje vais á minha escola, Ana? Vou sim.), tudo em ordem, tudo preparado, “Ò Ana ainda bem que aqui está a ver se me pode ajudar.”, sala preparada, (“Ò Ana que tens? Estás com bom aspecto!” a conversa repete-se por mais três ou quatro nuances, estás mais magra, fizeste alguma coisa ao cabelo, fica-te bem essa cor), não resisto a espreitar o meu reflexo, acho-me igual.
Os músicos afinam os instrumentos, são simpáticos, competentes, os miúdos deliram, aprendem depressa o que é melodia, palhetas, distinguem o oboé do clarinete e o fagote da trompa, batem palmas e abrem muito os olhos, a menina de trancinhas e paralisia cerebral sorri, com a boca e os olhos, pelo meio surgem outros assuntos tenho de sair muitas vezes, um refeitório onde pinga, um gato morto esborrachado no meio da estrada, os cartazes com as alterações de transito, os documentos que ainda tenho de assinar, mudamos de escola, o Pavilhão é velho, os meninos tiveram de se sentar no chão, os burocratas não os deixaram ir ao concerto, levou-se o concerto á Escola, flauta transversal, fagote, oboé, clarinete e trompa, a Suite Quebra Nozes e o Frere Jacques, com a chuva a bater no telhado de zinco e os meninos a dizerem “é maravilhoso”. E é!
Estou ensopada, apanhei chuva a correr a levar meninos entre um pavilhão e um alpendre, com chapéu-de-chuva emprestado, dois a dois agarrados a mim, felizes e excitados com uma aula diferente.
Assim se constroem os dias diferentes, mesmo com burocratas e temporais

Comentários

Fernando Samuel disse…
E que grande dia foi esse!

Um beijo.
Zorze disse…
São estes dias que ficam na memória.

Beijo.
Anónimo disse…
Só queria que soubesses que usei a tua foto...num post que espero que corresponda à sua beleza. nem é que leia o teu blog, mas o google levou-em até ti :)...não deixa de ser interessante...
Cumprimentos,
Ricardo Sousa
Anónimo disse…
Ps: gostei da música de fundo...
Ass: Ricardo Sousa
Anónimo disse…
Ps: gostei da música de fundo...
Ass: Ricardo Sousa