Talvez


Talvez se ficar muito quieta passe.

Talvez se não fizer ondas, se passar um carro com uma matrícula em capicua, se conseguir apanhar os semáforos todos verdes, talvez, talvez…

Talvez se te tivesse encontrado, naquele dia, àquela hora, quando eu tinha os cabelos e saias longas e sorria porque estava sol, porque a minha sombra me perseguia e bastava só isso, sorrir porque estava sol, o cabelo longo a fingir que voava conforme o vento, a sombra da minha saia como um sino, aquela hora, naquele dia e encontrar-te assim a sorrir.

Talvez se os dias não se tivessem ficado mais curtos e os sorrisos mais raros, talvez as mãos fossem mais próximas, podendo correr lenta e ansiosamente do cabelo até às minhas costas, até às minhas coxas, subindo outra vez até aos seios, passando sempre pelos cabelos, desfiando sorrisos e afastando as sombras.

Talvez ainda haja tempo de te encontrar outra vez, mesmo com o cabelo menos longo, mesmo sem me espantar com o mistério da sombra, talvez te encontre outra vez, o teu corpo nas minhas mãos e as tuas mãos no meu corpo, a correr lenta e ansiosamente das minhas coxas, pelas minhas costas chegarem aos seios parando sempre no cabelo.

Comentários

Jorge disse…
Talvez...


Um beijo.
Zorze disse…
Ana,

"Talvez" um caso de raro talento.
Como eu aprendo contigo!

Os ritmos, os enfâses, um sentir de leve e forte.

És do melhor, que ciranda as órbitas!

Quase que torcionas, a lei da gravidade, a sério...

Beijos,
Zorze