Pé de chinelo




Peço desculpa por este tempo longo de silêncio, talvez nem tenham sentido falta nenhuma das minhas reflexões parvas sobre tudo e sobre nada, por vezes tenho necessidade de fugir para dentro de mim, não foi o caso tenho vindo a retirar todos os pedaços de mim e a distribuir-me por várias coisas, como é normal, só que foram mais coisas, com mais de mim a ser distribuído por mais sítios, no entretanto foi “pescando” umas coisas daqui e dali, fiquei a saber que a crise afinal é boa para a linha, porque a ministra da saúde acha que podemos aproveitar no global para emagrecer comendo sopinhas caseiras em vez de comida rápida e gordurosa, deve ter chegado a essa conclusão depois de ter passado acidentalmente na baixa lisboeta onde empregados de escritório e de comércio se amontoam ao balcão daquelas tascas de sempre a tapar o buraco do estômago com um panado ou pastel de bacalhau, daqueles que estão em pilhas nas montras, isto depois de talvez, ter comido um peixe grelhado em qualquer restaurante na docas com vista para o Rio e legumes cozidos no vapor, talvez, digo eu.
Fiquei a perceber que o melhor jogador de futebol do mundo não chega para ganhar campeonatos, daí que estes títulos de melhor são sempre muito relativos, fiquei a saber que o ministro das finanças nos pede para poupar, embora não saibamos já muito bem no quê, dei conta que os casos judiciais que envolvam governantes continuam a ser arquivados, começa a ser monótono, pelo número de casos, pelo número de escândalos, entretanto chegou o verão com toda a sua plenitude, o que é bom para dar mergulhos, estar em esplanadas, menos bom para quem está a trabalhar, principalmente se o trabalho for montar e desmontar tendas e festas á torreira do sol, num recinto de alcatrão, mas a vida não são só festas, são reuniões, compras, fazer almoço e jantar, actualizar sites, fazer Assembleias, contas, dormir, embora sempre com sonhos malucos, agora sim dormir, desde que o médico me receitou algo novo, que me faz reduzir as dores de cabeça, reduzir o estado da ansiedade permanente em que me encontrava, portanto basicamente os problemas estão todos comigo na mesma, mas aparentemente encaro tudo de uma forma muito mais descontraída, pronto continuo cansada, muito cansada, ainda falta mais de um mês para ir férias, ando cansada de corpo e alma, mas penso que pior das coisas piores que tinha nas mãos já passaram, sobra o pior das coisas piores deste país que eu amo e que nos maltrata e as pedras nos sapatos diário, por causa disso ando de chinelos….

Comentários

Maria disse…
De facto já tinha saudades de te ler. É bom saber que o dia a dia volta ao normal, com todas as preocupações e raivas que as notícias nos trazem, e que ansiamos por férias...

Beijo, Ana.
Storyteller disse…
Já passei por aqui várias vezes, a ler-te, mas nunca tinha comentado. É a minha estreia neste teu lado, porque no teu outro lado interajo contigo todos os dias!
Adorei este teu post.
Tal como tu, também eu não consigo entender este nosso país em que vivemos e que nos está entranhado na alma. Tal como tu, não consigo aceitar as barbaridades - sim, são barbaridades! - com que dia sim dia não (quando não são todos os dias) os nossos governantes nos brindam.
Sei que temos muita tendência para trazermos a nossa realidade diária para discussão quando falamos na realidade diária do nosso país e das nossas gentes, mas não posso deixar de falar do meu caso (e de tantos semelhantes ao meu). Trabalho como freelancer, ou seja, pertenço à famosa «Geração dos Recibos Verdes». Como é possível que as pessoas como eu sejam obrigadas a pagar IVA como se fossem uma empresa? E nós, ao contrário das empresas, não conseguimos fugir ao pagamento do IVA.
Porque é que o meu trabalho, que é denominado «trabalho intelectual» tem de ser taxado como se de uma simples mercadoria se tratasse?
Nós as duas, minha querida Ana (julgo que já posso tratar-te desta forma, dada a nossa interacção diária noutras paragens), estamos em lados opostos da barricada no que concerne a ideais políticos, mas acredita que estamos na mesma luta!
:D
Um beijo!
Anónimo disse…
E se a menina deixasse de querer controlar tudo à sua volta?
Sou psicóloga e acho que a autora deste blog, chama a si e arca com toda a responsabilidade que deveria ser repartida por todos aqueles com quem habita. Sofre por antecipação e sofre mesmo a sério.
Solte-se, minha querida, solte-se.
Vai ver que vai começar a dormir melhor e a encarar a vida de outra forma.

Mime-se. Sobretudo, mime-se.

Tudo o resto são cantigas. Os seus filhos um dia não a vão ter, para lhes resolver todos os problemas.
Não queira viver a vida deles, por eles. Já são crescidinhos.

Volte-se mais para si e mande algumas coisas às urtigas.
Ana Camarra disse…
Maria/Fernando Samuel - è tão bom saber que tinham saudades minhas!

Storyteller_ eu não que nãop consiga entender, eu consigo, mas revolta-me profundamente, magoa.
Estreia-te á vontade, gosto muito que cá venhas.

Psicologa Anónima-Qualquer dia tem de me fazer terapia. Eu acho sempre que faço de menos que tenho de fazer mais, que não ajudo todos como devia, que estou em falta, que devia dedicar mais de mim e é verdade colocxo-me sempre no fim da lista das necessidades, de vez em quanto dou o berro!

Beijos
Zorze disse…
Anuette,

Eu também ando de chinelo, mas só quando chego a casa, porque no meu trabalho não mo é permitido.

No que toca a comida, ao almoço como que nem um animal num restaurante de um colega reformado, com o prazer acrescido de assistir a touradas entre famílias ciganas que vendem carros em 2ª mão no parque em frente.

À noitita, é só saladinhas. Sou uma pessoa consciente e não embarco em aventuras.

Queria deixar uma palavrinha à psicóloga, que me cheira da U.I. e perguntar, és boa, tipo boazuda?
Que tipo de terapias fazes?
O meu Abreu, com este calor, só faz asneiras e depois tenho que andar a pedir desculpa...
Que habilidades terapêuticas farias ao meu Abreu?
E se te perdesses, no calor da noite?
Anónimo disse…
Olh'ó Zorze armado em Zézé Camarinha. Isso fica-te mal, pá. Até porque a psicóloga até me parece uma pessoa correcta, que não merece esse tipo de abordagem da tua parte.
Zorze disse…
Anónimo, por quem és? Por quem és?

Não creio que a abordagem tenha sido incorrecta, apenas um pouco mais esticada.
Por vezes tem de se brincar um pouco e às vezes também, porque não demais.
Como vivemos num mundo hipócrita e de falsas virgens ofendidas com pouca abertura mental, as pessoas ao mínimo pisar da linha fazem sempre aquele ar de muito chocado.

Às vezes pergunto, será que já reparam no mundo em que vivem, e os seus tremendos dramas diários?
Ficar semi-preocupado por um singelo comentário num blog, comentário esse meio brincalhão, meio ordinário, só pode ser uma mente que ainda não acordou para a vida, para a realidade insana do dia-a-dia.