Afinal, a culpa é minha!






Infelizmente o mundo não mudou tanto como nos querem fazer crer, parece que os governantes abismaram-se com a mudança do mundo em três semanas, com a crise, que parece que para eles foi uma surpresa, para mim não foi, convivo com a crise há algum tempo, desde que me diziam que não podia ser isto ou aquilo, convivi com a crise em contas de sumir infinitas para ver como pagava luz, creche, fraldas e ainda assim pagava os óculos ou o seguro, convivi com a crise quando me congelaram a carreira, o salário, quando me deram férias em vez de aumento ao nível da inflação, quando tive familiares desempregados, quando a minha mãe olha para a pensão e vê que não chega para medicamentos, renda e mais alguma coisa, convivi com a crise quando me contavam histórias de sapatos com cartão a tapar buracos na sola, sardinhas para três e outras. Portanto a crise existe há muito tempo, tem vindo a ser alimentada, com o fecho de industrias, com o desmantelar da pesca, da agricultura, com o arrasar das dunas, dos pinhais, das florestas, dos olivais, dos sobreiros, para construir casas horríveis, estradas mal feitas e campos de golfe, entre outras coisas, mas parece que ninguém tinha dado por isso, ninguém a nível de quem toma estas decisões, então vá de cortar a direito. Onde?! Em quem?! Nos que já estão habituados, mas por outro lado, não habituados o suficiente para deixarem-se ficar, assim trezentos mil manifestaram-se, muitos mais se somarmos os que de todo não puderam manifestar-se, no seu espanto infinito, governantes clamaram pela concertação por oposição à contestação, o que eles não sabem é que todos daqueles que contestam também preferiam um sábado tranquilo para passear com a família, talvez ir ao cinema, levar os miúdos a um Museu, ao jardim Zoológico, ao Oceanário, fazer um fim de semana de Termas, aquelas que o médico recomendou, que não passam de uma miragem, preferiam sem dúvida que sentados a uma mesa: governantes, representantes dos trabalhadores e de empregadores medissem a justeza das medidas que se tomam das acções que se levam a cabo, que fossem atendidos os pedidos de quem leva para casa um magro salário em vez dos pedidos dos empresários da zona do país com maior concentração de Ferraris, que fossem apoiados os desempregados em vez dos bancos, que poderão continuar a somar os seus mais de cinco milhões de lucros diários, livres dos impostos que atormentam os comuns mortais…

Portanto não existindo mais ninguém a culpa deve ser minha, que meti na cabeça que todos devem de ter condições de trabalho, salário e reformas condignos, férias, educação e saúde gratuita, protecção social, livros mais baratos, habitação, cultura acessível, estabilidade no emprego, justiça célere e mais uma data de luxos…

Comentários

Zorze disse…
Ana,

Estou dentro da tua linha de pensamento, és uma pessoa boa e eu acredito que também o seja.
Só que o mundo não é mais ou menos como nós, infelizmente.

É um mundo do caralho! E isto está do caralho!
Em toda a sua força assertiva da questão.

Einstein deixou esta frase (ridícula para a maioria hipócrita), que quando as abelhas desapareceram o homem só tem 4 anos de vida.

Repara, que caminhamos a todo o alarve...

Vivemos tempos fascinantes! E isto vai ser demais!

Beijos,
Zorze
Fernando Samuel disse…
Está visto: és tu a culpada da crise...

Um beijo.