Plano de quê?



Por motivos pessoais, políticos, profissionais e afins tenho vindo a estudar a prestações (porque de uma penada só revela-se doloroso) o tão falado Plano da Pólvora seca, também conhecido por Plano de Estabilidade e Crescimento e ainda por Plano para Encher os do Costume, dentro das múltiplas medidas destacam-se o agravamento da idade da reforma na Função Pública, estica-se até aos 67 anos de idade, já não vou falar do que vai para trás mas olhando de repente consigo imaginar certas coisas: a educadora de infância a quem artrite não permite pegar nas crianças, a professora cega com as cataratas que debita a sua ciência para uma plateia de adolescentes a trocar SMS’s ou a jogar PSP, por falar da PSP, o agente asmático a tentar correr atrás dos meliantes do roubo por esticão, o varredor de ruas que pede ajuda ao transeunte para apanhar o papel do chão porque a espondilite anquilosante não lhe permite dobrar-se. Os exemplos são muitos, humorísticos se não fossem tristes. Entretanto parece que não se mexe nas reformas acumuladas de quem passou alguns anos ou meses por qualquer administração de qualquer empresa com Capital do Estado, entretanto os pequenos, mini, micro, nano, minúsculos empresários que resolveram transformar o seu desemprego com uma indemnizaçãozita e as poupanças de uma vida, num café de bairro, num táxi, numa oficinazinha, numa lojeca onde se fazem arranjos de costura e se passa a ferro, carregam o ónus do berbicacho, pagamentos por conta de lucros que se calhar não vão ter, Imposto de Valor Acrescentado de facturas que ainda não conseguiram cobrar e mais uns brindes, dos poucos que ainda trabalham e descontam muito, para não terem educação gratuita para os filhos, para não terem saúde gratuita e já agora nem a pagar qualquer coisita, esses vão chegar ao final do ano, entregar a declaração de impostos e ver que se calhar ainda devem dinheiro, porque as despesas de saúde, casa ou educação são luxos a que não nos podemos dar, por outro lado se os que trabalham vão continuar a trabalhar mais do que esperado, é normal que quem entre no mercado de trabalho fique á porta, talvez eternamente? Ainda por outro lado o país vai continuar a envelhecer, porque é normal que ninguém se arrisque a ter filhos para lançar a esta barbárie, de qualquer das maneiras já se fecharam escolas e maternidades a contar com isso, não foi? Bom mas ainda assim a malta quer acreditar que isto vai melhorar, porque quanto mais não seja não se consegue imaginar pior, mas o pior é que se consegue…
Um dia destes um dos meus filhos informou-me: Sabes o que o Japão está a fazer para combater a crise? Não filho, diz lá! Decidiram sobre taxar todas as importações de produtos que se produzem internamente e aumentar os salários, assim dinamizam a economia, o dinheiro circula, as pessoas consomem!
Por isso estou a pensar seriamente: se importamos jogadores de futebol, treinadores, seleccionadores, apresentadores de televisão, corredores de fundo, porque não um ministro da economia e finanças?

Comentários

Diogo disse…
Será necessário decapitar o Teixeira dos Santos, para que este não se sinta preterido.
Zorze disse…
Ana,

O descalabro a que estes gajos nos levaram e pior com o consentimento deste povo letárgico-induzido.

Não quero ser desmancha-prazeres, mas isto ainda vai piorar mais, observando a realidade, os números - sempre os números - e a crescente perda de capacidade de decisão nacional.
Estamos cercados de vampiros e sanguessugas internacionais.
Temos que nos preparar para o pior...

Beijos,
Zorze
malinka disse…
Um belo artigo.
Muito certeiro.
Quanto ao aos letárgicos, depende de cada um de nós insistir, insistir,esclarecer, esclarecer, lutar, lutar.

Posso publicar o teu artigo no meu Blogue?...meu não nosso..
Fernando Samuel disse…
Mas primeiro deveríamos exportá-los todos: ministros, primeiro-ministro, futuros ministros, futuro primeiro-ministro...

Um beijo.