Número femininos...


O dia da mulher é mais logo, o centésimo, um número redondo, inevitável pensar no texto de Maria Velho da Costa onde diz o que ELAS fazem, desde tricotar, carregar a água, migar o comer azedo para dar aos animais, abrirem-se cansadas para um homem, lembro-me também sempre doutras coisas como o Poema da António Gedeão, Calçada de Carriche, onde uma Luísa sobe e desce calçada, cansativamente, nestes dias que passaram também escolhi poemas para amanhã distribuir cedinho a outras mulheres junto com uma flor, escolhi um poema de Sidónio Muralha, onde se fala de uma gravidez não concretizada, um de Eugénio de Andrade, onde se reflectem os mistérios da feminilidade e um espantoso de Ana Luísa Amaral, dedicado a uma mulher-a-dias, recordo ainda as mulheres importantes da minha vida que já cá não estão, a minha avó, as minhas tias, conjugo com as mulheres importantes da minha vida que por cá andam, juntei-me com muitas mulheres, mais ou menos amigas, todas juntas num almoço de aniversário especial, o almoço de celebração dos 89 anos do nosso partido, um número redondo, mas talvez não porque nem o oito nem o nove têm ângulos rectos, são curvilíneos, como as mulheres. A principal oradora foi uma mulher, falou um homem, também e calhou-me a mim apresentar os dois, porque sou mulher, também, depois desse momento de festa e convívio passei por uma capela para dar um beijo de carinho a dois homens que perderam uma mulher importante, a companheira de uma vida, para um, a mãe para outro, nunca mais o meu amigo irá dizer que se tem de acabar a reunião porque a mãe fez joaquinzinhos fritos com arroz de tomate, também não vai assistir ao crescimento de outra mulher importante na vida do meu amigo, a sua filha, que mal acabou de chegar ao mundo. No dia da mulher um primo meu, divertido e bonacheirão, generoso, costumava fazer a ronda por todas as mulheres da família, da mais nova á mais velha com um cravo rubro para cada uma, lembro-me sempre dele, acho que me lembrei no espaço de tempo onde a carne assava no forno e eu me estendi no sofá, deixei-me dormir, acordei sobressaltada, porque ainda me faltava terminar o jantar, arrumar umas coisas, preparar a manhã de amanhã em que me vou levantar mais cedo, distribuir flores e marcadores de livros feitos com carinho, com os tais poemas seleccionados, olhar antes de me deitar para o copo de vidro onde repousam cravos brancos e vermelhos que o meu homem me ofereceu já hoje, entre um almoço comemorativo e um abraço a dois homens que perderam uma mulher.

Comentários

Anónimo disse…
Como habitualmente, o Dia de amanhã, no CR será inteiramente dedicado às mulheres. Principalmente, lembrando algumas histórias que vale a pena recordar às mulheres mais jovens que desconhecem a luta que as mulheres tiveram de travar ao longo dos séculos, para se libertarem da subalternidade em relação aos homens.
Ainda há um longo caminho a percorrer, eu sei...
Maria disse…
Um abraço muito especial para ti, Camarada. E que não nos falte energia para continuarmos a nossa Luta!

Tem um dia muito bom!
salvoconduto disse…
Algumas mulheres eu admiro, outras nem por isso. Para as primeiras deixei algures uma rosa, para ti uma margarida?

Abreijos.
Fernando Samuel disse…
Subscrevendo o que diz o salvoconduto, digo:
Viva o Dia Internacional da Mulher!

Um beijo.
Zorze disse…
Ana,

Hoje também distribui flores...

Deixo-te também uma flor e um beijo,
Zorze
Ana Camarra disse…
Carlos

Muito longo, muito mesmo...


Maria

Ando a precisar de carregar as baterias solares

salvo

Porque não faço parte das que tu admiras?!

Zorze

Para outra vez entrega uma flor a sério, pode ser?

Beijos