Coisas sem importância




Ando a prestar muita atenção a coisas sem importância nenhuma, não sei se é o meu espírito mais aéreo que o costume se é esforço para não pensar em coisas tristes, para aquietar inquietações, umas imediatas, outras a mais distância, se é esta tendência para pensar em coisas sem importância nenhuma, como a forma dos raios de sol a entrar pela janela, uma flor que nasce num meio de um baldio, a minha aversão aos protocolos, a cirurgia que decorre no corpo de alguém que importa, a árvore que vou plantar com meninos pequeninos, de manhã, antes de uma reunião regular e de outra mais formal quase de seguida, antes de noite de amanhã que é ocupada e da noite de hoje que também, já coloquei a caixa mágica ligada á tv para gravar coisas que gosto de ver mas que vão ficar, se calhar acumuladas num cantinho á espera que eu espreite as minhas gravações, que no fundo não têm importância nenhuma porque são essas benesses da tecnologia, outra das benesses da tecnologia é conseguir nos intervalos de coisas procurar uma música que toca dentro da minha cabeça, falar com um dos meus primos separados de mim por oceanos, procurar rever um pedacito de um filme que gosto, falar com um amigo que não encontro as vezes que gostava, mas pronto são coisas sem importância nenhuma, até há quem me acuse de só escrever coisas sem importância nenhuma neste espaço, talvez tenham razão, mas das coisas sem importância nenhuma hoje consegui olhar para o formato das nuvens antes do sol dizer até amanhã, consegui baralhar o que está escrito pela minha mão na agenda, consegui parar um pouco para as coisas sem importância nenhuma e para ouvir uma canção, daquelas quase esquecidas, quase sem importância nenhuma, reguei os tais vasinhos, jardins insignificantes, conheci um rosto de alguém de dois anos de idade que nunca conheceu outro local sem ser a enfermaria hospitalar, que de vez em quando fala ao telefone comigo, numa voz maviosa a enviar-me beijos a repetir “adoro-te”, no seu tom infantil, quase sem importância, sem importância será este acto de descarregar este sumário de coisas inúteis e insignificantes antes de me dedicar a coisas, aparentemente, mais importantes.


Comentários

Diogo disse…
A vida compõe-se de pequenos nadas, interrompidos, a espaços, por ocorrências com muito de bom ou muito de mau. Sou determinista – penso que tudo já está escrito no livro do universo.

Beijo
Ana Camarra disse…
Diogo

Eu gosto de pensar que risco algo pelo menos no Bloco de Notas do meu pequeno Universo...

Beijos
Anónimo disse…
Aninha do meu coração, eu gosto tanto dessas pequenas coisas!
Por exemplo gosto de colares de pinhões, já não há?

Um beijinho

Lagartinha
Fernando Samuel disse…
Que importantes são as coisas sem importância nenhuma!...

Um beijo.
Zorze disse…
Ana,

Nas small things escondem-se grandes things.
Nos apelidados coisas de nada estão exemplos para os que publicitam grandes coisas.

O teu espaço é uma big think, tão grande, como o Universo.
Sem referir que existem infinitos Universos. Por isso a margem é grande.

Beijos,
Zorze