como costumávamos fazer


Esta semana tive um sonho estranho, acabei tarefas, acho eu, daquelas que não posso acabar nunca, consegui ainda abraçar o meu pai, vai fazer uma dúzia de anos que partiu, dei um cigarro à minha tia que morreu em Setembro, tinha deixado de fumar o seu SG Gigante dezoito anos antes, mas confessava amiúde que sonhava com um cigarro e que lhe apetecia muitas vezes, entraram vivos no sonho também, era tão real que me doeu, entretanto acabo outras tarefas, espreito e espero um mail importante que tem já dois dias de atraso, só depois de o ler poderei tomar decisões, adiantei o jantar que repousa na cozinha á espera que eu o termine, bifes de peru enrolados em bacon, num molho de azeite alhos e limão, couve salteada, falta cozer o arroz, falta tirar ainda a receita das analises, apresentar-me logo de manhã, em jejum de braço estendido, para que me contem células que separam daquele tubinho cheio do meu sangue, falta ainda aquietar o meu filho, que sim muitos chumbam em Matemática, mas que tudo vai correr bem, vou ainda escutando sobre os mortos e feridos na Madeira onde a água e as ribeiras se conjugaram com os leitos sujos e as construções onde não existiu bom senso nem ordenamento do território, as noticias irão ainda referir, quase com toda a certeza, as teorias da conspiração de figuras do poder, as candidaturas gémeas á Presidência da Republica, falta organizar a pasta para que não chegue à reunião de pasta cheia de cadernos todos escritos, como fiz na sexta-feira, falta apalpar a roupa estendida e avaliar se está seca, lavar o fogão depois do jantar, beber um descafeinado, preparar a roupa para amanhã de maneira que conjugue com o único par de sapatos que não me faz doer o pé, ver um filme, talvez, ler um pouco já enroscada no ninho da cama, entretanto vou fumar um cigarro, se a minha tia me aparecer hoje em sonhos, acompanhada pelo meu pai, fumamos os três, conto-lhes das notas dos miúdos, as gracinhas dos mais pequenos, da situação politica do país, enquanto fumamos os três num prazer perverso, como costumávamos fazer.

Comentários

Diogo disse…
Um sonho bastante atarefado. Que o revolutear do fumo dos cigarros te traga alguma paz de espírito.

Beijo
Fernando Samuel disse…
Esse encontro a três - todos a fumar - vai ser um espanto...

Um beijo.
Zorze disse…
Ana,

Tenho a certeza que não é só sonho. Tenta-te relembrar e repara no que eles falavam, o que falavam, porventura seria lógico e racional?
Ou seja, poderia, quiçá não ser fruto da tua imaginação, ou a relativa capacidade que temos de construir personagens?
Ou seriam eles mesmos, manifestando e se inter-relacionando contigo mesmo?
Deixam-me te dizer que para esse tipo de contacto, estiveram muitos outros seres a suporta-lo, pois estabelecer contacto entre dimensões é difícil.

Vieram ver, observar, a menina laroca e reguilota. Não te prendas em interpretações confusionistas.
Coisas deste e do outro mundo são vestidos de rotulagem complexa, mas, são mais simples do que parece.
É preciso despir as palas que os normativos sociais impõem.
Estás no caminho certo. E desfruta não uma, mas duas ou três cigarradas...
Desfruta os momentos... E olho atento! Cérebro já tens...

Beijos,
Zorze
Anónimo disse…
ola ana
é bom encontrar no sonho alguém que partilhe, momentos de ócio.
é bom recordar sentindo.
abraço do vale