O conforto do uivo do lobo


O vento uiva lá fora, como um lobo perdido da alcateia, faz-me apreciar mais o conforto de estar cá em casa, se bem que o conforto de estar cá em casa também de depende de outras coisas, de ter acordado e limpo, certas partes funcionais da casa, para depois ter tomado o banho sacramental que lavou o suor e o cheiro dos detergentes e perdido um tempo que é só meu para espalhar creme entre o corpo num ritual que não abdico, depende de ter perdido tempo depois de uma tarde de mais ou menos vigília de sábado, no trabalho, para juntar ovos e outras coisas e fazer um bolo, que faz parte do conforto, do conforto faz parte o almoço dominical em que nos sentamos à mesa, da casa materna, com lugares que vão sendo eliminados e outros lugares surgindo, do almoço dominical espera-se que eu contribua com o pão, levo sempre o pão, eu ou alguém leva vinho, outro uns bolos, assim cumprimos este ritual de nos sentarmos juntos, três gerações.
Do conforto ainda depende, dedicar-me já a seguir a temperar para assar um naco de carne que conforme a inspiração pode levar alecrim e cebolinhas, castanhas ou o pimentão alentejano, ser acompanhado de frutas, legumes salteados ou puré de maçã, aproveitando o forno aceso junta-se ainda batatas doces, talvez castanhas retalhadas, no fim o conforto depende de esticar-me no sofá analisar a casa com tudo quase no sitio, arrumar na cabeça os compromissos de amanhã, ler mais um pouco, ver um filme que gosto enroscada com um pijama cheio de estrelas, esquilos ou outra coisa qualquer, deitar-me na cama como num ninho, sonhar com coisas fantásticas e continuar a ouvir o vento a uivar lá fora como um lobo perdido da alcateia.

Comentários

Mar Arável disse…
é bom ouvir o vento

sem lobos

a uivar
Anónimo disse…
Pena que o fim-de semana passe tão depressa.
Beijos.
Anabela
Zorze disse…
Ana,

Faço minhas as palavras da Anabela.
Os domingos farruscos também têm a sua graça própria.
Tive uma sucessão de sonhos, daí este domingo ter sido ligeiramente diferente, no plano pensénico.

Beijos,
Zorze
Akhen disse…
Ana

Não é tanto o uivo do vento, ou o barulho dos ramos da nespereira a dançarem ao sabor do vento.
É mais o bater da chuva contra as vidraças, os pingos escorrendo como lágrimas e isto visto apenas com a claridade de um candeeiro que está plantado no passeio e do qual eu deixo que a sua luz se filtre através de um estore mal corrido.
Fico voando ou com a chuva ou nas asas dos meus pensamentos.

Ah! mas sem o tal bolo que fazes o favor de confeccionar, apenas para que nos fiquemos babando e tentando adivinhar qual o sabor do "famigerado" bolo que eu já provei em pensamento.
Qual o gosto?
E tu dizes: Adivinhem!!!!!!!!

Paz e Luz na tua casa
mugabe disse…
Esse Zorze é um grande malandreco.

Quem não quer ser Lobo não lhe veste a pele.

É pá, mas eu até gosto dos lobos, são uns animais simpáticos..!! não percebo a embirração com os bichanos !!!

Beijo
Fernando Samuel disse…
A verdade é que sem o vento a uivar lá fora, o conforto não sabia tão bem...

Um beijo.
Ana Camarra disse…
Mar Arável

Embora o uivo dê um toque especial.

Anabela

No meu caso foi só meio fim de semana...

Zorze

Os sonhos podem ser bons.

Akhen

è com açucar mascavado, raspa e sumo de laranja, gengibre e canela...

Mugabe

Eu gosto de lobos.


Fernando Samuel

Pois não!

Beijos