Uma tareia!



Parece-me que levei uma tareia, dói-me o corpo todo.
Embora em abono da verdade a única tareia que levei na vida foi à muitos anos atrás, teria cerca de seis anos e lembro-me perfeitamente, estava assim como agora um tempo meio quente, cinzento e chuvoso, e passava férias com os meus pais, Natal, Carnaval, isso já não me lembro. Lembro-me de sarnar a minha mãe para me deixar vir brincar para a rua, depois de um grande choradinho consentiu com multiplicas recomendações “Não te molhes!”.
Pois está claro que o único gozo dos dias de chuva é enfiar os pés nas poças e chapinhar, voltei para casa, debaixo de um ralhete, as botas foram postas a secar, quando secas calcei-as e comecei o choradinho, da rua, que não fazia mais, venci pela persistência, claro está que fiz o mesmo.
Aí a coisa já foi noutro tom, já foram usados os dois nomes “Ana Isabel, mas tu estás a gozar comigo?!”, regressei a casa as botas secaram, cá em baixo os companheiros de brincadeiras faziam sinais e desafiavam-me e eu de nariz colado à janela numa tristeza infinita, recomecei a ladainha, mas obtive uma vitória parcial, podia descer mas não podia sair do jardim, ficando assim privada do convívio da canalha, era assim que lhes chamavam.
Sinceramente não gostei, mas desci, não existiam poças, apenas um pedaço relvado, a minha mãe lembrou-se de me avisar “Não vás para a relva que está ensopada!”, grande desafio é claro que olhei para ela e qual soldado marchei direitinha à relva dando grandes passadas de modo a salpicar agua por todo o lado.
“Ana Isabel, pára com isso, a mãe bate-te!”
“Não bates não, que eu vou contar ao meu pai!”
A minha mãe tinha um chinelo ortopédico de madeira, sabem?
Amanhã acho que vou pisar umas poças mas só depois de ir a casa da minha mãe, pode ser que ela ainda tenha chinelos daqueles e já me dói o corpo todo.

Comentários

Maria disse…
Eras fresca, eras...
(éramos, nessa idade...)
:))

Beijos
Akhen disse…
Ana

Uma estória, das muitas, da história da vida de uma criança, que vai continuar a chapinhar mais umas poças de água.
Lembras-te-me o "Dançando à chuva".
Mas quem, um dia, não brincou à chuva, água escorrendo nos cabelos e perolas de chuva caindo das pestanas?
Sabes, só não brincam à chuva as crianças naqueles países onde a chuva não cai mesmo durante meses ou anos e a seca é tanta que são elas, as crianças, que caiem. Umas vão ter a felicidade de brincar à chuva, outras nunca irão saber o que é chuva.
Akhen disse…
Ana, é só para desejar

PAZ e LUZ na tua casa
Fernando Samuel disse…
Às vezes o chinelo ortopédico resolve a situação...

Um beijo.
Mar Arável disse…
São flores

os chinelos das mães

Bjs
Diogo disse…
Os chinelos ortopédicos de madeira tanto endireitam comportamentos como posturas corporais. Tiveste azar com a opção da tua mãe.

Beijo.
Zorze disse…
Ana,

O tal ar de marota arisca...

Chinelos ortopédicos de madeira! Genial!

Beijos,
Zorze
Anónimo disse…
Narizinho arrebitado, hem?
Ana Camarra disse…
Maria

Que nem uma alface!

Akhen

Pois, eu sei que há meninos assim, e choro ou chovo por eles.

Fernando Samuel

Desta resolveu.

Mar Arável

Foi uma flor assim robusta…

Diogo

Mas era a opção possível face a tanta teimosia.

Carlos

Muito!

Beijos
Anónimo disse…
Não sei porquê mas esta história da tareia soa-me a familiar......hum.....Ah!! Já sei!....é que minha mãe também tinha uns chinelos de madeira, que usava em casa, no dia-a-dia,durante o verão, mas não tenho a certeza absoluta se eram ortopédicos, mas o efeito desejado de certo era o mesmo...!!!!rsss
Quando aquele chinelo 36, ou tairoca, se preferirem, saía do pé, ai jesus.....
Como vê Ana, estou solidário consigo...rssss

Mário Moreira
mariomoreira_74@hotmail.com