Desculpem qualquer coisinha...


Sou despassarada, já o escrevi várias vezes.
Por despassarada entenda-se que existem coisas fundamentais para os outros mas perfeitamente dispensáveis para mim que me passam ao lado, em que não reparo, tenho enganos, não cumprimento pessoas porque estou tão absorta que não reparo nelas, as marcas e os modelos dos carros não me dizem nada, sei do meu, pouco mais, de resto o do amigo A é cinza, amarelo, preto, verde e pronto.
Esqueço-me de coisas fundamentais, esqueço-me que o meu tique de abanar o pé abana a mesa inteira de reuniões, piso o pé de um amigo no café num bar convencida que piso a base da mesa, já tentei abrir carros de outras pessoas, já entrei em carros de outras pessoas, já disse Olá com um sorriso feliz a alguém que me parecia conhecido, já passei trombuda e esquecida por alguém conhecido num gesto facilmente conotado com falta de educação.
Dos telemóveis, automóveis, telefones, computadores e outros aparelhos, pretendo apenas que funcionem, não me interessa de todo conhecer outros mistérios que encerrem.
A minha secretária, as minhas gavetas, a minha mala a minha pasta são uma confusão, onde eu sei a localização de tudo, ou não, mas entendo-me.
Tenho tanto de atitudes contidas como desabridas, parece que por vezes me fecho num mutismo que aos 10 anos me dava um ar de adulta, ou então esqueço os 42 anos, alguns cabelos brancos que espreitam, um peso a mais e ajo como se tivesse 16.
Não resisto a cantar num concerto, a pular, a abanar-me ao som da música, a fazer trombas e olhares arrevesados a quem não gosto, a fugir de um sitio que me oprime, a molhar os pés na praia, só os pés que seja, a molhar o dedo na massa do bolo e provar, a contar uma anedota, a dar uma gargalhada, que respeito imenso, mais as gargalhadas do que as lágrimas como canta Caetano... Até porque as lágrimas costumam ser escassas, são traiçoeiras e se limpam a alma, também turvam a visão.
Ultimamente o cansaço e outras ocupações fazem-me mais despassarada que o costume, portanto desculpem qualquer coisinha….

Comentários

Capitão Merda disse…
Portanto, não tens pássaros,

Ainda bem.


Bj.
Anónimo disse…
Minha Linda

Mais valia contares tudo!
Por exemplo saires com roupa do avesso, esqueceres sistemáticamente a mochila, sapatos diferentes, nunca, nunca saberes os caminhos...
Assim de memória, mas se te perguntarmos sobre livros, filmes, letras de canções, isso é outra conversa....

Beijos

kl
Diogo disse…
Estás desculpada. Belíssimo texto minha cara.

Beijo
Anónimo disse…
Ana,

a foto é uma caricatura lindA!

Falando em lágrimas... Hoje quando acordei nem conseguia abrir meus olhos...
Mas vai passar!!!


Tô soltando o verbo lá
no Verbo de Rm!!

http://verbofeminino-rm.blogspot.com/


Beijus!!
Тєтê .......ям иσ νєявσ
Akhen disse…
Ana

És feliz assim?
Sentes à tua volta o carinho de toda a tua familia e se, eventualmente, te chamam a atenção para qualquer desatenção, fazem-no sorrindo, sentindo nisso o amor que se espalha em tua casa?
Amiga, se com essa forma de ser e para além dela, sentes o calor de uma felicidade, que se procura que seja plena na tua familia.
Amiga, deixa que a felicidade te escorra pelos cabelos e inunde o paraíso que diáriamente te esforças por criar na tua casa.
O resto, vai tentando dar de ti um pouco dessa tua felicidade a quem saibas que tem necessidade dela.
Quanta mais deres, mais cresce em ti.
(Agora que tornaste o meu ambiente mais leve, ah isso tornaste...lol)
Anónimo disse…
E eu apensar que era problema meu, Ana. Fiquei mais tranquilo, agora.
Zorze disse…
Ana,

O que me irrita mais é esse teu telemóvel estar sempre a tocar.
Qualquer dia, pego nele e atiro-o ao rio. Pode ser que os peixinhos atendam a chamada.

Beijos,
Zorze
Mar Arável disse…
Pois sim

uma mulher completa

que dá gosto ler
CPrice disse…
adorei ler. e em várias linhas achei-me também. tal e qual.
Ana Camarra disse…
Meu Capitão

Não tenho não, já tive mas não tenho!

Tetê

Já lá fui espreitar.

Akhen

Não sei se sou feliz, por vezes acho que sou e nem m e dou tempo para me aperceber, mas apesar de tudo, sim tenho essa rede de carinho.
A familia já se habituou mais ou menos a certas coisas, como eu não saber os caminhos, divertem-se com
isso.
Se aligeirei a tua vida de algum modo sinto-me feliz...


Carlos

Não estás sózinho!

Zorze

Isso é poluição...

Mar Aravél

Corei!

CPrice

Não estamos sós no mundo.

Beijos
Anónimo disse…
hummmm... linhas minúsculas em acentuadas maiúsculas. vc se descreve extremamente bem e é bom ler a quem muito se entende.
Fernando Samuel disse…
Eu desculpo... e mais do que isso: aplaudo...

Um beijo.
Anónimo disse…
Aninha, tu és um pássaro livre!
Lindo e linda também a imagem escolhida!
beijinho
Lagartinha de Alhos Vedros
Ana Camarra disse…
j. de andrade lemos

Escrevo exactamente como penso.

Fernando Samuel

Tu és um querido

Lagartinha

é uma imagem de uma mulher passarada ou despassarada?

beijos
MC disse…
No fundo és uma pessoa normal...

So what?

(realmente a imagem é divinal)