Sem Curso ou Livro de Instruções


Hoje é 1 de Junho, Dia Internacional da Criança, por um lado é claro que todos os dias são dias das crianças, mas ainda assim é necessário assinalar a data.
Não com a questão comercial das prendas, aliás essa parte será a mais pobre, talvez fazendo o exercício do que é ser criança hoje.

Se por um lado há cerca de um século as crianças eram vistas como uma espécie de adultos em miniatura, tratados como tal, tanto os meninos ricos que eram treinados em preconceitos e normas como os outros que mal sabiam andar sozinhos iam trabalhar, trabalhos duros, duríssimos por vezes. Trabalhavam a terra, em oficinas, pastavam gado, eram mal tratados e mal nutridos.
A verdade é que de certa forma, de muitas formas as crianças são vistas como propriedade, dos pais essencialmente, mas não só.


Olhando á volta, vemos ainda o trabalho infantil em muitas partes do mundo, como sustentáculo de uma economia desumana, vemos estas lutas Judiciais onde a parte mais fraca é sempre da criança (A menina Russa, a Esmeralda, etc), vemos que as crianças são as primeiras a sofrer com as guerras, com a fome, com as diversas catástrofes naturais ou infligidas pelo homem.
Vemos ainda outro tipo de crianças, meninos moles, ocupados em múltiplas actividades pós escolares, dança, musica, inglês, desportos, num rodopio de horários que os deixa atordoados. Vemos os pais que compensam a falta de tempo, de atenção, de paciência, de carinho, com coisas, coisas, muitas coisas, computadores, playstation, game boys, brinquedos…

Meninos que nunca viram uma joaninha, um pássaro no ninho, que aprendem a distinguir-se dos outros pela carrinha do Colégio e a marca dos sapatos…
Eu não tirei um curso de mãe, nem tão pouco os meus meninos traziam livros de instruções, nasceram também com personalidades próprias, não são MEUS, fazem parte da minha vida, como já fizeram do meu corpo.

Tento equilibrar, entre aquilo que recordo de feliz na minha infância, com o mesmo cansada ter tempo para os ouvir, para precaver mais que a sua roupa, alimentação e abrigo, para os ver não como extensões de mim, apenas os plantei e eles crescem da sua forma própria.

Comentários

samuel disse…
Muito bom!
Ainda há muito para fazer até que as crianças cresçam como seres originais e livres e não como cópias piratas ou vítimas.

Abreijo.
Paulo Lontro disse…
Cada vez menos podem ser originais, também elas já estão globalizadas e formatadas...
Infelizmente só nos resta estimular a criatividade e o sentido de humanidade, já não é pouco mas, é tão pouco...
Fernando Samuel disse…
Excelentíssimo texto. Parabéns.

Um beijo.
Zorze disse…
Ana,

Muito bom texto.

A natureza humana consegue do melhor e do pior e as crianças são sorvedouros dessas mesologias que um dia irão passar a outras crianças.
É um ciclo sem fim.

Beijos,
Zorze
Bonnie disse…
Reatámos os assaltos
Diogo disse…
A cara de terror do garoto da fotografia com uma arma ao ombro diz tudo. Gostaria de encontrar na rua um administrador da empresa que atulha aquela zona de armas e de morte.

Beijo
Zorze disse…
Diogo,

Nem mais. E olha para a carinha do que está atrás, que já passou umas das fases da aprendizagem do terror.
Capaz de esventrar a própria mãe. A natureza humana é insana.

Já somos capazes de pegar em flores e de coisas que nem ao diabo lembra.
Anónimo disse…
Dediquei-me, durante alguns anos a estudar as questões do trabalho infanti em Porugal, na Ásia e na América Latina.
Hoje, no Delito de Opinião, escrevi sobre crianças que conheci por essas paragens e , mesmo alguns anos passados, não deixei de sentir um nó apertado na garganta. Tal como Saramago referia em relação à Declaração dos Direitos do Homem, também os Direitos das Crianças são um papel com 50 anos de existência, que nin guém se preocupa em pôr em prática
Diogo disse…
Exacto Zorze, já foi formatado ou já passou por tudo. Mundo cão!
PDuarte disse…
é o teu dia também.
acho que ainda tens coração de menina.
salvoconduto disse…
Chego tarde em relação ao dia assinalado, mas muito a tempo de partilhar as tuas preocupações.

Abreijos.
Ana Camarra disse…
Samuel-Falta muito mesmo!

Paulo-è pouco, mas é algo

Fernando Samuel-Obrigado.

Zorze-Algumas rompem esse ciclo.

Bonnie-Não escolham o BPP...está falido!

Diogo-O Director de empresa? O governante? O Comerciante de diamantes de sangue?

Zorze-Estás a falar com o Diogo mas a natureza humana é insana e como insana tanto é capaz dos maiores horrores ou das coisas mais altruistas.

Carlos-È verdade só em papel não chega! Também tenho esse nó...

Diogo-Há meninos que nascem logo para não o serem.


Pduarte-ès um querido! Tento ter.

Salvo-Eu já desconfiava que partilhavas essas preocupações.

beijos
Anónimo disse…
Lindo texto!
Aninha, nesta nossa sociedade, com os pais a trabalhar de sol a sol para pagarem casa,infantário e todas as necessidadesque o consumismo capitalista desencanta,ténis ao preço de mobílias, fatos de treino ao preço de um fogão, jogos ao preço de frigoríficos, etc. as crianças são quem mais perde.
E quando surge o desemprego e começam as discuções, separações, só resta o desamor e o caminho para a solidão
Não queria ser trágica
Porque as crianças são de facto o melhor do mundo

Um beijinho
Lagartinha de Alhos Vedros