Desalinho


Houve alturas em que estava pelo menos duas vezes por dia com o meu pai, que dormia com a minha avó, que me deslocava sempre sob a observação intensa da família, alturas em que os meus filhos me pediam colo de braços esticados.
Houve alturas em que tinha as medidas certas, nessa altura não só me camuflava como não tinha dinheiro para comprar roupas.
Houve alturas que queria que o tempo corresse, houve alturas em que achava que a minha vida estava assim parada num curso de lago que se mexe com uma pedrada ou se renova com a chuva.
Hoje, tenho saudades do meu pai e da minha avó, o que tomava como certo, constante, imutável desapareceu, tive de ser eu a seguir o rasto da família cada vez mais dependente de um afago, não consigo pegar nos meus filhos ao colo, são eles que me abraçam. Cresceram como trepadeiras, uns homens, meigos e vibrantes, mas tenho saudades dos meus bebés.
Hoje até tenho mais flexibilidade financeira para trapos, não tenho as medidas certas.
Hoje o tempo corre depressa demais, a minha vida é um rio com cascatas pedras, agua rápida, da nascente até à foz sempre no mar.

Comentários

Maria disse…
Precisas de férias, Ana.
Este ano foi, é, está a ser muito intenso. De trabalho e não só. De emoções também.
... e não me fales em medidas certas... :)))
Quero ver-te sorrir! Mas temos cada vez mais falta de tempo para repetir o encontro de há uns tempos. Quem sabe na Festa!

Beijos
Fernando Samuel disse…
Seguir o rasto da família, é tão bonito...

Um beijo.
Anónimo disse…
Que bem que dizes as coisas aninha.
também já tive medidas certas e pouco dinheiro para as roupas certas.
Já tive o tempo tão ocupado que nem na casa de banho podia estar, porque uma mãozinha sempre batia a reclamar atenção.
Já andei sempre acorrer a vencer 4 transportes públicos diários durante as 4 h que gastava em viagens.
Agora tenho muito tempo e é bom,não uso relógio, não sei em que dia estou, mas posso ler de noite porque não me levanto às 6h da manhã.
Posso fazer viagens na época baixa porque são mais baratas.
Finalmente foi o enfim sós com meu companheiro de mais de 30 anos e descobri que o amor não envelhece.
Mas tenho saudades da minha bebé a pedir colo, de conversar com o meu pai de passear com a minha mãe no jardim.

Um abracinho aninha
Diogo disse…
O tempo voa cada vez mais rapidamente. Ainda ontem tinha trinta...
Zorze disse…
Anuelle,

O teu Pai e a tua Avó também têm saudades tuas.
Mas saudades não alimentam o girassol...

Tens a tua vida!

"a minha vida é um rio com cascatas pedras, agua rápida, da nascente até à foz sempre no mar."
É um ponto de vista possivelmente real. Mas pode ser diferente...

Beijos,
Zorze
mugabe disse…
É sempre assim !!

Abraço!
LUA DE LOBOS disse…
temos periodos na vida em que o desfasamento é total... aguenta-te à jarda! porque é mesmo assim...
xi
maria
Elaine Gaspareto disse…
Olá!
Estive lendo teu blog e gostei muitíssimo. Parabéns pelo modo como expressas os sentimentos.
Beijos e fica com Deus.
Ana Camarra disse…
Maria-Eu ainda assim, sorrio todos os dias várias vezes ao dia.

Fernando Samuel-Sigo sempre!

Lagartinha-Ser crescido tem vantagens e desvantagens....

Diogo-Eu tenho trinta .........e doze

Zorze-Vou tentar que seja diferente!

Mugabe-Pelos vistos!

Maria de São Pedro-pois tenho que aguentar a jarda.

Elaine-Mi casa su casa.

beijos