Lá ao fim da rua....

A Rua era o nosso espaço de brincadeiras, morávamos todos no mesmo quarteirão, ou em quarteirões muito próximos, tínhamos todos mais ou menos a mesma idade, mais ou menos.
Os nossos pais já se conheciam assim de miúdos, nalguns casos os nossos avós.
A zona onde morávamos tinha sido uma quinta, onde o meu pai contava que ia roubar fruta, a Quinta da Cerca, a Casa da cerca ainda lá está.
Brincávamos horas a fio, a tudo, apanhadas, escondidas, eixo, berlindes, tardes a andar de bicicleta, skate. Trocávamos de livros de Banda desenhada, cada um de nós tinha uns quantos, passavam de mão em mão, Asterix, Lucky Luke, Spirou, os outros também, Patinhas, Mónica, Mandrakes.
Quase todos tinham alcunhas ou diminutivos, o Bidu, o Cowboy, a Preta, o Cavalo, o Feto, o Calimero, O Patinho, O Texugo, O Chinês, outras menos dignas…que não vale a pena falar.
Crescemos assim, não éramos betinhos, surfistas, góticos, ou outras coisas, não tínhamos grandes etiquetas a demarcar estatuto social ou a bolsa paterna.
Descobríamos a vida, aprendemos a andar de bicicleta e de patins, a nadar, acampámos, deslocávamo-nos nos mesmos dias para as mesmas praias.
Alguns de nós ainda se cruzam, outros nem tanto, mas quando olho para o fim da rua, num sítio onde existe agora um prédio e onde existiu um espaço livre para brincadeiras e conversas quase que ouço as nossas vozes…

Comentários

salvoconduto disse…
E eu que julgava que só os da minha rua é que nos atreviamos a roubar fruta na quinta do "Barrigas". Olha que os morangos apanhados de manhã quando íamos para a escola, ou quando faltávamos a ela, eram uma delícia, fresquinhos ainda com o orvalho em cima.

Abreijo.
Ana Camarra disse…
Salvo

è certo e sabido que a fruta roubada é sempre mais saborosa!

Beijos
Zorze disse…
Ana,

Eu também vivi uma infância e parte da adolescência plena de brincadeiras. Não havia distinções, éramos todos miúdos sem contaminações sociais. Jogávamos hóquei em patins, mas sem patins e balizas improvisadas, organizávamos campeonatos de futebol e corridas de bicicleta.
A Cidade Sol era uma ilha.
Hoje até mete pena...

Beijos,
Zorze
Anónimo disse…
Andamos todos com saudades do tempo em que eramos meninos!
Quem sabe hoje em dia como se brinca à mamã dá licença? e aos potes? e às fitas?
e a como era a roda do lencinho?

Agora os putos só brincam com computadores e similares, pouco brincam na rua

Um beijinho
Lagartinha de Alhos Vedros
Diogo disse…
Todos temos as nossas correrias, as esfoladelas no joelho, os passeios, as partidas, as corridas de bicicleta, o trepar às árvores, os mergulhos no mar e as gargalhadas. E o tempo vai passando...
O Puma disse…
Memórias

que são inspirações profundas
samuel disse…
O que é dramático é que muitos dos miúdos de agora, à excepção dos que moram mesmo no campo, nem têm noção do que estão a perder... encurralados, sozinhos com os seus computadores e máquinas de jogos... comunicando por SMS.

Abreijos
mugabe disse…
Ai que saudades, ai, ai...como eu te compreendo Ana !

Abraço.
CRN disse…
Ana,

Só a mente escuta ecos da infância, a rua onde me conheci agoniza de silencio, de vida outrora a rebentar, de esperança que brinca às escondidas, de povo unido, em ombros, para lutar.

A revolução é hoje!
Ana Camarra disse…
Zorze-uma infância assim é uma aprendizagem de vida!

Lagartinha-São molinhos, não sabem.

Diogo-O tempo vai passando, mas ainda sei jogar ao berlinde.

Samuel-Podes crer.

Mugabe-Saudades boas.

O Puma-As inspirição profundas são fundamentais.

CRN-Se viver um bocdinho dentro de ti, já valeu a pena!

Beijos
Fernando Samuel disse…
Escuta bem: vais ver que as vozes continuam lá...

Um beijo.
Ana Camarra disse…
Fernando Samuel

Continuam dentro de mim!
E no sorriso franco com que nos encontramos e de repente não vejo o Engenheiro, o Professor, o Operário, vejo os meus amigos de borbulhas e bibes, berlindes e livros aos quadradinhos!

beijos