Os recursos do planeta não são infinitos a minha paciência também.

Isto tem mesmo dias, hoje foi um daqueles.
Logo de manhã o meu rebento revolucionário que colecciona namoradas como eu coleccionava cromos, que apesar das t-shirts com o Che, é um bocadinho homofónico e machista achou que iria acordar a horas porque sim. Não acordou, portanto acordei-o já com um quarto de hora de atraso, seguindo-se uma cena daquelas do Benny Hill, aceleradas, em que me despachei à pressa para o colocar na escola.

Não assisti à lentidão do mais velho, que faz tudo em câmara lenta, preocupando-se com o seu ar de gótico, mas deitando um olhar comprido de bebé a pedir colo quando estava na maca do hospital.
Trabalho, o normal, chamadas telefónicas parvas, coisas que não consigo despachar, alguém que me telefona a fazer uma pergunta que já respondi, fundamentei e expliquei a semana passada. Não interessa, rebobinaram e fazem-na novamente, talvez pensem que por exaustão me fazem mudar de ideias.
Depois o trivial, papeis, coisas que precisam de resposta, etc.
No meio do etc., um amigo virtual dá-me uma chazada, respondo, não respondo, esquece não vale a pena.
Depois é a vez de um amigo de carne e osso, a conversa deriva, transborda, acabo a dizer o que não devia.
Não termina aqui!
No meio das chamadas surge mais uma, um familiar muito chegado à beira de concretizar uma questão legal “Tenho é o Bilhete de Identidade caducado!”
A cara-metade esquece-se de me dar informações preciosas.
Aparece mais uma sombra de berbicacho em algo que devia de ser alegria e confraternização.
Tenho sono, ando a dormir mal, sonho que estou em lugares desconhecidos (também não é preciso muito é só mandarem-me conduzir para o Feijó e já estou perdida), sonho com pessoas que já morreram e outros que ainda não nasceram.
Começo a ter um certo asco à agenda.

Chegada a casa, um pouco mais cedo do que é normal, na perspectiva de sentar e descansar um pouco no apetecível sofá, dou conta de tarefas domésticas que passaram despercebidas a todos, descongelo o jantar, assisto a outra discussão de adolescentes: o gótico, o revolucionário e o surfista do andar de baixo.
No meio disto, uma amiga angustiada com uma situação de desemprego próxima, outra angustiada com o estrangulamento financeiro de mulher divorciada com filhos a cargo, outra angustiada com a perspectiva de fecho da empresa, outra tão angustiada com a solidão que está internada depois de se ter encharcado em comprimidos.
Penso “Um banho de imersão, Ana! Os sais de banho se calhar já estão estragados mas que se lixe”.
Não, vou tomar um duche, mais rápido e prático, o luxo vai ser um sabonete de cedro, esperar sossegada por amanhã.

Comentários

Diogo disse…
Calma, Ana.

Os problemas da amiga angustiada com uma situação de desemprego próxima,

da outra, angustiada com o estrangulamento financeiro de mulher divorciada com filhos a cargo,

e da outra angustiada com a perspectiva de fecho da empresa,

e ainda da outra tão angustiada com a solidão que está internada depois de se ter encharcado em comprimidos,

parecem-me problemas bastante mais graves que os teus. Tens um gótico e um revolucionário. No multiculturalismo de hoje é difícil querer melhor.

Beijo
Zorze disse…
Annietrte (o teclado deslizou, fica assim),

Já te disse que és uma das meninas mais lindas do mundo? É porque és e oficialmente.

O cunho da credibilidade. Quem for mais credível, que venha que eu respondo. Até questões da sua vida robotizada. Eu respondo a tudo!

O teu post! Ahh, pois é! Já estou noutra dimensão.
A dimensão animalioesca...

A cada hora que passa os monstros vão chegando!
Em vez de Olá! Digo-lhes Olé!

Te bejo espiritualmente,
Zorze, o original "Lo verdadero"

Quando começo a hablar español é a realidade vivencial do blé-blé...
Anónimo disse…
Ana,

Já reparaste que as tuas amigas foram ter contigo?...

Isso deve querer dizer qualquer coisa!....

Tretices amigas para ti.
Anónimo disse…
Depois de um dia desses tiveste por momentos uma óptima ideia e não a concretizaste...

Vá lá, amanhã volta outra vez mais cedo, desliga o telefone e mergulha na banheira. Ah, não te esqueças de comprar previamente os sais de banho! Põe um pos-it no frigorífico! Eu encarrego-me de impedir os virtuais de baterem à tua porta.

Abreijos.
Anónimo disse…
Acordei cedo, tenho uma maratona culinária pela frente, para ganhar alento vim aqui á roda da ana e acabei sorrindo!
Um bom dia para tia, estamos a precisar de umas tortas de chocolate e um chazinho bom!

Abraçinho

Lagartinha de Alhos Vedros
Anónimo disse…
Oi! aninha voltei antes de me escostar ao fogão, levava na cabeça o que contaste sobre o teu filhote mais novo, a sua coleção de namoradas e Che, pois não te lembras que o Che também colecionava namoradas?! o teu filhote só quer imitar!!!!
Aqui para nós aninha, o Che era lindo, o mais lindo do mundo!

Acabou a brincadeira!

Até logo

A Lagartinha
Paulo Lontro disse…
Opá, porra... a coisa não acalma!
Mas...

Não morreu ninguém, o mais novo não engravidou nenhuma, o mais velho não se droga, o teu homem dorme em casa....
Não tens nenhum problema externo amiga por isso tenta ganhar tempo!
:)
duarte disse…
amigos virtuais a darem-te chazadas?
dois miudos diferentes?
amigas a pedirem a tua palavra amiga e o teu aconchego?
Valiosissíma ANA!
é sempre um prazer e um orgulho conhecer-te(ainda que só virtualmente, o que mais me interessa são os valores do intelecto...e desses tens de sobra).
E vive serenamente, não te deixes engolir pelo tempo que sentes premente.
Um longo e amigo abraço.
obrigado pelo Astor.
Ana Camarra disse…
Diogo-De facto não tenho GRANDES problemas, tenho coisas pequeninas que aborrecem para as quais vou tendo mais ou menos pachorra. Como toda a gente acho eu.

Zorze-Estavas mesmo noutra dimensão :)

Tretoso-Tenho esse efeito, vêm sempre ter comigo.

Salvo-Anda não foi desta.

Lagartinha-O Che era uma perdição, o meu menino também.

Lontro-Sim senhor, tudo como dizes.


Duarte-Vamos vivendo.

Beijos
Fernando Samuel disse…
A vida é assim: tem dias...
Um beijo.