Era uma vez....

Há algum tempo, nem sei se muito se pouco existia uma princesa, linda como a aurora na primavera, como princesa foi educada para muitas coisas: não falar com a boca cheia, comer pedaços pequenos de comida, ter um ar recatado, que se reflectisse na falta de curiosidade ou mesmo na maneira e cruzar as pernas em público, a fazer compotas, a bordar coisas etéreas e lindas, um pouco inúteis, mas lindas, a estar sempre bem.
A determinada altura a Princesa foi confinada a um castelo, numa ilha, no meio de um pântano, guardada por um dragão.

Seria resgatada dali por um cavaleiro, brioso, corajoso, que derrubasse o dragão e depois a tomasse como esposa.
O tempo corria devagar, a princesa foi lendo os livros que se amontoavam cheios de pó e teias de aranha, lá dentro do castelo, os livros sequiosos por serem lidos, mostraram-lhe como se vivia noutros sítios, como as mulheres tinham começado a descortinar o milagre de enterrar sementes e daí nascer outra planta, normal, guardiãs de vida, os livros mostravam-lhe outras coisas, contavam histórias, sussurravam poemas, levavam-na em viagens por terras tão frias que as casas eram feitas de gelo, planícies tão extensas que homens e mulheres limitavam-se a seguir manadas de animais, que lhes davam comida e conforto, que matavam, sim, com respeito. Mostravam ainda as maravilhas do fundo do mar os caminhos imperceptíveis dos desertos, descreviam especiarias, tantas coisas.
Quando não lia, saia e dava a volta ao castelo, apercebeu-se que o dragão era manso, gostava de festas no pescoço, tinha só aquele aspecto de lagarto voador, mas os olhos de um cão brincalhão.
Tornaram-se amigos.

Um dia soou uma trombeta e numa barcaça linda com duas filas de remadores, montado num corcel vinha um cavaleiro.
Belo, alto, imponente, com uma espada brilhante.
Ajoelhou-se frente a ela declarou o seu amor eterno, disse-lhe mais, onde viveriam, quantos filhos teriam, que papel ela desempenharia no seu reino…
A princesa pensou que não era isso que queria, deu um sinal ao dragão que veio assustador, brutal, a cuspir labaredas e rugidos até assustar toda a comitiva.
A Princesa então cortou os vestidos lindos e etéreos, usou a habilidade de bordar para das saias fazer calças, amarrou o cabelo em vez de o deixar assim caído e sedoso, mas pouco prático, escolheu alguns livros para bagagem, libertou e despediu-se do dragão, pegou no bote e remou, decidiu viver a sua vida.

Comentários

Anónimo disse…
Maravilha, maravilha, maravilha de princesa.

Abreijos.
Anónimo disse…
O nome da Princesa será Ana?

:)
Só tu Ana, consegues contar coisas destas. Apetece-me roubar-tas.
Bjs
Anónimo disse…
Adorei a história, mas principalmente o final.
Só tu para contares estas coisas desta forma.
duarte disse…
E muita sorte teve o princípe...
é que pelo que vi da princesa, ainda podia ter levado uma pedrada!
abraço
Anónimo disse…
Se foi de bote, foi muito bem ...!!!!

Abraço!
Zorze disse…
Acho que sei o nome dessa Princesa!

Sabes que tens muito jeito para contar "contos"?
Pode estar aí um jeito de ganhar muito Euros.

Beijos,
Zorze
Fernando Samuel disse…
Excelente princesa!

Um beijo.
Ana Camarra disse…
Salvo-As princesas crescem e algumas são espertas.

Anónimo-Não pensei nisso.

António Ferrão-Estás à vontade para usares o que quiseres.

AP-O final tradicional de "viveram felizes para sempre nunca me convenceu"

Duarte-Capaz disso era ela.

Mugabe-Foi pois!

Zorze-Sabes tu eu não.

Fernando Samuel-Uma princesa e peras!

Beijos