A minha veia cientifica!

Não sei a inspiração veio através de Panoramix, grande Druida Celta, mentor de Asterix, dos livros de Júlio Verne ou de outro sítio qualquer.
A verdade é que em miúda descobri uma veia científica, partilhada por o meu primo, três meses mais novo.
As experiências eram complexas, as primeiras, lembro-me constituíam em excursões á casa de banho munidos de uma taça de sobremesa, copo de iogurte ou qualquer outro receptáculo digno de laboratório, acompanhado de colher de café ou pauzinho de gelado ou daqueles que o Dr. Rebelo nos ofertava depois de nos inspeccionar a garganta.
Munidos desses artefactos científicos misturávamos tudo, mesmo tudo o que podíamos. Por tudo entenda-se o conteúdo do móvel existente na casa de banho: tintura de iodo, Cetavlex, pó de talco, água oxigenada, tintura de merteolato e benjoim, exilir, creme Atrix, Nívea e Lauroderme, álcool, por vezes um pouco de éter, o que houvesse.

As doses eram cientificamente estudadas e era tudo muito bem misturado até ficar com a consistência de uma mistela de cheiro e cor pouco agradável.
Depois convencíamos o avô Zé, único adulto que dava cobertura ás nossas experiências cientificas, a aplicar semelhante mistela, geralmente num braço. Ele fazia-o, coitado, por vezes com reacções estranhas como ficar com uma mancha persistente durante vários dias.
As experiências não terminavam aqui, também fazíamos experiências pirotécnicas, a mais popular consistia em encher uma lata de Ceralac de bombas de Carnaval, coloca-la no meio do quintal familiar e ver a que altura se elevava.
A melhor de todos ia provocando uma síncope cardíaca, neste caso à bisavó dos meus primos. Mastigámos, cada um de nós, seis pastilhas super gorila, até conseguirmos fazer um balão, depois fechámos os balões, colocámo-los no congelador do frigorífico. Um frigorifico arredondado, com um barulho horroroso, devidamente decorado com autocolantes do Super Maxi e com um pinguim de cartola e bengala colocado no cimo.
Esquecemo-nos dos balões!

A Bisavó Aurora foi guardar qualquer coisa no congelador, quando o abriu saíram três esferas cinzentas a flutuar que com o contacto com o ar rebentaram com um sonoro Plop!
Fomos severamente repreendidos, a senhora levou semanas sem abrir o frigorifico, estávamos na época das contínuas noticiais sobre ÓVNIS e outros fenómenos, até mais tarde nos oferecerem Jogos de Química, com consequências nefastas, as experiências ficaram suspensas.

Comentários

Rei da Lã disse…
E tinham autorização da ASAE para o efeito?
Na minha rua tambem faziamos experiencias cientificas... uma vez o Inacióssauro decidiu por uma bombinha de carnaval num escremento de cão e ficar a ver o que é que acontecia...
J. Maldonado disse…
Veia de cientista? Hummm, acho que era mais de terrorista... :))
Ainda bem que o Hamas nunca tomou conhecimento das tuas experiências, senão era capaz de ter recrutado... :))
Anónimo disse…
Grato pelo teu saboroso relato das vossas "experiências", que me fez recordar outras vividas, com "a malta da minha rua".
E o meu filho, a caminho dos nove anos, também me anda ultimamente pela casa, furtivo, surripiando como nós o que pode - produtos de limpeza, remédios, sumo de limão...
A História não se repete, já o sabemos, mas lá que às vezes parece, lá isso parece.
Saudações.
Diogo disse…
A minha amiga e o primo mais novo, com toda essa experiência, teriam lugar garantido na Al-Qaeda como técnicos superiores de armas químicas, nucleares e bacteriológicas. Teriam direito a camelo próprio, افغانستان اسلامي جمهوریت , tickets refeição kebab e um ordenado de 5600 afeganis por mês.
Anónimo disse…
Aninha, que relato ternurento as tuas aventuras infantis faziam prever uma grande agitadora e assim foi.
Não é verdade que agitas consciências?
Um grande braço
Lagartinha de Alhos Vedros
Anónimo disse…
Que raio, porque é que no meu tempo ainda não havia super gorila?

Abreijo
Anónimo disse…
Adorei o delicioso relato das experiências de infância. Ou melhor das traquinices!
Tive um grande desgosto na minha infância por a minha mãe nunca me ter oferecido um estojo científico. Mas redimi-me quando no secundário optei por ciências. E gostei.
Mas nunca fiz experiências como as tuas! ;)
Ana Camarra disse…
Rei da Lã-Magestade ainda não existia essa PIDE do prazer!

Sostrova-Nunca me ocorreu essa, grande lacuna!

Maldonado-Não ficaram por aqui, fiz mais, voltarei ao tema.

Julio Filipe-Deixa o rapaz, faz parte do crescimento.

Diogo-Podia ter sido o meu futuro.

Lagartinha-Pois, era muita agitada, fresca que nem uma alface.

Salvoconduto-Tenho pena foi uma experiência muito interessante.

AP-Eu fui para quimica....estás a imaginar?

beijos
Fernando Samuel disse…
E olha que bastante falta nos fazem, agora, umas experiênciazinhas desse género...


Um beijo.
Anónimo disse…
Fartei-me de rir, mas imagino o susto da Bisavó Aurora.Coitada!
Para descanso dos meus progenitores nunca fui dado a experiências científicas. Só com palavras.