Matateus, Rolhas, Lá Vai e falsificação de bilhetes para o cinema






Das memórias do Barreiro, ficaram para além das Bolas de Manteiga e das tortas de chocolate do Tico Tico, outras especialidades, nomeadamente Matateus e Rolhas.
Parece que eram bolos escuros, pesados, que enchiam, baratos.
Vendiam-se no “Lá vai”, pequena leitaria na esquina das Ruas Eusébio Leão e Dr., Câmara Pestana, mesmo por cima da “Cova Funda”.
O nome Lá Vai era a alcunha do proprietário de estabelecimento, pessoa irascível, que guardava um chicote no balcão, conhecido também pelo que se diz, pela sua atracão por jovens imberbes. O nome dele era Mário Solano.

Das histórias que se contam, uma existe de colocar os cabelos em pé a qualquer inspector da Asae, eram os “pratos de bolos”, era simples o cliente pedia um prato de bolos e vinha um pires com várias qualidades, o cliente comia, mexia, respirava, com um bocado de azar deitavam uns perdigotos para cima, depois o prato recolhia com o que sobrava, voltava para a vitrina para ser servido ao próximo cliente.
Um mimo!
Segundo me contava o meu pai, ele e os amigos conseguiam, na sua fase de crescidotes fazer o seguinte, pedir o famoso prato, escavar por baixo os ditos cujos, repô-los no prato com ar de intactos, pagar o café e sair…
Mais jovens faziam outra patifaria, o Lá Vai apurava-se a lavar garrafinhas, a espremer limões e a encher as garrafas com uma coisa a que chamava “Limonada da Rosinha”, o truque era pedir “Uma lexivia”.
Mário Solano pegava no dito chicote, ofendidíssimo, corria atrás do descarado, outro entrava no balcão e roubava o carimbo
O roubo do carimbo era fundamental, conjugado com o roubo dos restos do papel usados para fazer os bilhetes do Teatro Cine, propriedade do Sr. Miranda.
Assim restava-lhes carimbar os pedaços de papel com o carimbo do Lá Vai, garantindo assim a entrada no “piolho” do Teatro Cine, dado que o porteiro era analfabeto.
Assim na geral concebida por exemplo para 20 traseiros, chegavam a estar 50, miúdos, reguilas, com empurrões e insultos, o porteiro resolvia a situação colocando na Rua um grupo escolhido aleatoriamente.O resto ficava, de bilhete falso, a ver o filme e com o dinheiro do bilhete empregue em Rolhas e Matateus...

Comentários

Anónimo disse…
Para mim foi sempre mais fácil, dois porteiros amigos da família, apagadas que fossem as luzes do cinema, deixavam-me entrar a mim e ao meu irmão. Escondidos num recanto do cinema assistiamos aos filmes, mesmo aqueles que eram considerados para adultos. Semelhante a isso só mesmo a carrinha com os livros, da Gulbenkian, que em vez dos dois ou três livros da ordem, à sucapa, me deixava trazer o saco de ginástica cheio deles, que eram devorados até ao dia do mês seguinte em que a carrinha voltava a passar.

Abreijos
Zorze disse…
Ai, ai, essas diabrices!

Por isso, sempre digo, nos dias de hoje nunca se reclama no restaurante antes da comida ser servida.
Nunca se sabe, mas pode, haver um Lá Vai de qualquer coisa que não estava na ementa.

Beijos,
Zorze
Diogo disse…
Os perdigotos nos bolos do Lá Vai constituiam o segredo das suas receitas.

Beijo
Anónimo disse…
Os bilhetes de cinema falseados, vá que não vá, agora os bolos desventrados "Vai Lá Vai"!
Ana Camarra disse…
Salvoconduto-Era a chamada borla cultural!:)

Zorze-O meu pai e os amigos eram terriveis!

Diogo-Talvez tenhas razão!

Carlos-Pois aqueles rapazes, hoje os que estão vivos respeitaveis avós, eram ferteis neste tipo de coisa.

BEIJOS
Fernando Samuel disse…
Eu via os filmes da cabine de projecção - como aquele miúdo do Cinema Paraíso (o o cinema também era da Igreja, e os filmes eram os mesmos, e o padre censurava as cenas de beijos, e depois do filme projectado tínhamos que colar os pedaços com acetona... e, um dia, na casa onde vivia, em Lisboa, a minha mãe deixou um recado para mim: diga-lhe que morreu o senhor João do cinema...)


Um beijo.
Unknown disse…
Adoro ouvir e, neste caso, ler histórias do meu Barreiro. O meu pai devia estar metido nessas histórias... ou não! :-)