As noivas




As noivas foram durante séculos uma espécie de moedas de troca.
Confesso que nunca senti aquela atracção maluca pela festa do casamento e acima de tudo pelo famoso traje de noiva, aliás penso que se a maioria das mulheres reflectisse um pouco sobre os diversos significados associados ao ritual do casamento mudava de ideias.
As noivas no mundo ocidental vestem-se de branco, como símbolo de pureza e virgindade, uma virgindade que é entregue como um sacrifício, já sabemos que isso é muito relativo, mas a intenção é essa, também tem a ver com sacrifício as flores que enfeitam as noivas, por outro lado a chuva de arroz com que são brindados os noivos no fim da cerimónia simboliza o sémen, é uma forma de desejar abundância e uma prole numerosa….
Mais ainda, a aliança tem vários significados, todos maus, desde o significado de posse pura e simples por parte do marido, o compromisso (esta é a menos má) ou ainda uma teoria mais radical que diz que ao principio certas tribos, como os Romanos, quando raptavam mulheres para acasalar, amarravam-nas pelo pulso, à medida que tornavam dóceis era-lhes colocado um atilho no dedo para não se esquecerem a quem pertenciam….

Adoptar o apelido do marido também é renunciar à nossa família.
Pronto, tenho muitas amigas que casaram com pompa e circunstancia, deram muito valor aquele momento, planeado ao milímetro.
Algumas já vão na segunda e terceira volta…
Eu optei por outra via, talvez fruto de ter nascido no seio de uma família um pouco sui generis, a minha mãe também não se vestiu de noiva.
Nunca achei muito lógico gastar um dinheirão em trapos de espécie nenhuma, muito menos num traje para vestir uma única vez.
No entanto já me vesti de noiva!
Não no dia do casamento, mas uns tempos antes, quando nem sequer pensava em casar, onde me desloquei com mais três amigas a várias lojas de Lisboa, em cada loja, uma de nós fazia o papel de nubente, nessa condição experimentamos tudo, vestidos curtos, compridos, chapéus, véus, grinaldas, corpetes, etc.
Pena não existirem máquinas fotográficas digitais para registar tal delírio.
Quando acabamos lanchámos, no Chiado, entre gargalhadas, pouco tempo depois todas nós acasalámos, nenhuma de nós casou vestida de noiva!
Engraçado é que os nossos relacionamentos ainda duram…

Comentários

Maria disse…
Acho que fiquei "vacinada" quando me vestiram de noiva para fazer a comunhão solene e a outra a seguir... bolas, foi demais...

:))

Beijos
Ana Camarra disse…
Maria

Pelo menos és uma alminha de Deus, eu cá sou mesmo um bichinho nem baptizada sou, não baptizei os gaiatos, vivi amancebada....uma alminha perdida!

:)

beijos
J. Maldonado disse…
Dantes o casamento era uma transacção comercial entre famílias, onde a mulher era a mercadoria de troca. Ainda bem que a mulher se emancipou, pelo menos no Ocidente...
Contudo, lamento que no resto do mundo, nomeadamente nas Áfricas e nas Arábias, ainda esteja submetida ao domínio do marido...
Anónimo disse…
Eu casei de calças e fiz o meu copo de água num restaurante chinês.. a unica tradição que cumpri, foram as alianças em ouro amarelo e branco lindas de morrer que me custaram uma fortuna!

Neste caso o casamento foi-se, mas as alianças ficaram ;)

beijinhosss
Bom fim de semana
Anónimo disse…
Há ainda muito caminho para andar...

Abreijos
duarte disse…
HELLO dona ana!
eu tb nunca vesti uma coisa dessas... mas devo confessar que a ideia de posse está bem vista!eheheh...
bom é viver cada sentimento despido de qualquer mascara e dar-se ... isso sim é casamento.
abraço do vale
Zorze disse…
Ana,

Talvez esteja aí o truque para fazer durar relações a dois.

Beijos,
Zorze

P.S.: Acho que este merece aprovação!
Maria disse…
Parece que fui, Ana, fui....
Faz MUITO tempo que não sou mais!

:))

Beijo
Fernando Samuel disse…
Aqui está (mais) um óptimo texto, camarada.


um beijo.
Ana Camarra disse…
Maldonado

Apesar de as mulheres terem feito um longo caminho pelo respeito e gualdade, ainda faz sentido lutar pelos Direitos das Mulheres.

korrosiva

Ora bem!

Salvoconduto

Pois há, amigo.

Duarte

Pois o amor não se mantem com papeis,alianças, festas ou vestidos. Com respeito de parte a parte, com carinho, com liberdade também.


Zorze

Eu acho é que por vezes há casais mais preocupados com o "folclore" do casamento do que com o essencial.


Maria

Eu calculei estava só a brincar contigo, mas tu sabes.


Fernando Samuel

Muito Obrigado,camarada.

Beijos
Anónimo disse…
Aninha, outro belo texto para o livrinho.
Também eu vivi amancebada, depois casamos, porque na altura se pagava menos de Imposto complemantar.
E eu ìa linda... com vestido às florinhas(fartinho de marchar para o trabalho) e o meu namorado lindo,ele é lindo, com as calcinhas de ganga e polozinho branco
Naturalmente que não mudamos de nome e o copo de água, foi pequeno almocinho para 6(nós e as testemunhas)
Romantico!!!! passaram 32 anos
um grande abraço
Lagartinha de Alhos Vedros
Ana Camarra disse…
Lagartinha-E não chegou?!