Volto muitas vezes á infância, não porque a infância fosse só um tempo mágico, não foi só, mas também.
Da infância guardo as coisas melhores, assim como numa escolha de gavetas, em que nos descartamos do lixo, daquilo que não queremos e reservamos para ficar os melhores pedaços.
Guardo a noção das dimensões, o mundo seria tão grande como hoje me parece pequeno.
O que á época me parecia enorme é hoje ridiculamente pequeno, não sei se fui eu que cresci ou o mundo que encolheu, talvez as duas coisas.
Já não existem os quintais da minha infância, o Quintal da tia Deolinda com os seus Gamboeiros, o quintal da prima Aurora com as suas coelheiras e horta, que cheirava a manjerico e hortelã.
Hoje estão lá prédios.
De manhã saia de casa, sozinha, 6 anos, atravessava o Jardim dos Franceses, pelo caminho existiam sempre duas, três pessoas, que me conheciam e que de certa forma tomavam conta de mim, casualmente, subia o Largo Rompana até á Rua José Relvas, passava pela tia Deolinda, que casualmente á janela à hora certa ali estava, lembro-me do esforço intenso de me por em bicos de pés para chegar á janela, dar dois beijos, sentir aquela ponta de nariz gelado, receber uma moeda, “Cuidado a atravessares a rua, Ana Isabel!” e eu tinha.
Chegava á porta do colégio, brincávamos, descobríamos as letras, os números, acabava, voltava, por outro caminho, passava no quintal da prima Aurora, casualmente á hora certa lá estava, era içada pelo muro, com o festim de apertões de rotulo de Bera, minha Bera, ali ficava até o meu primo chegar do Técnico, ajudar-me com os trabalhos de casa e casualmente levar-me depois pela mão ou às cavalitas até à minha avó.
Tenho saudades destas casualidades.
Da infância guardo as coisas melhores, assim como numa escolha de gavetas, em que nos descartamos do lixo, daquilo que não queremos e reservamos para ficar os melhores pedaços.
Guardo a noção das dimensões, o mundo seria tão grande como hoje me parece pequeno.
O que á época me parecia enorme é hoje ridiculamente pequeno, não sei se fui eu que cresci ou o mundo que encolheu, talvez as duas coisas.
Já não existem os quintais da minha infância, o Quintal da tia Deolinda com os seus Gamboeiros, o quintal da prima Aurora com as suas coelheiras e horta, que cheirava a manjerico e hortelã.
Hoje estão lá prédios.
De manhã saia de casa, sozinha, 6 anos, atravessava o Jardim dos Franceses, pelo caminho existiam sempre duas, três pessoas, que me conheciam e que de certa forma tomavam conta de mim, casualmente, subia o Largo Rompana até á Rua José Relvas, passava pela tia Deolinda, que casualmente á janela à hora certa ali estava, lembro-me do esforço intenso de me por em bicos de pés para chegar á janela, dar dois beijos, sentir aquela ponta de nariz gelado, receber uma moeda, “Cuidado a atravessares a rua, Ana Isabel!” e eu tinha.
Chegava á porta do colégio, brincávamos, descobríamos as letras, os números, acabava, voltava, por outro caminho, passava no quintal da prima Aurora, casualmente á hora certa lá estava, era içada pelo muro, com o festim de apertões de rotulo de Bera, minha Bera, ali ficava até o meu primo chegar do Técnico, ajudar-me com os trabalhos de casa e casualmente levar-me depois pela mão ou às cavalitas até à minha avó.
Tenho saudades destas casualidades.
Comentários
as ruas,as praças,as pessoas que eram nossas...e que se mantêm,nossas,neste pequeno livro de recordações,a que chamamos...infancia.
hoje tb acordei lembrando-me...
abraços do vale.
É como te seguisse a ti, o teu respirar pausado, os teus olhos imensos, a forma como olhas as coisas, sempre de forma inesperada, surprendente.
Casualmente penso em ti todos os dias.
Casualmente encontro coisas comuns, coisas que me enternecem, coisas que me fascinam.
Casualmente descubro que talvez não te conheça como penso, que guardas mares secretos, recordações ternas, vontades, libertações, que eu até pensava que estavam esquecidas para ti.
Casualmente no teu texto madrugada, lembrei-me da tua voz rouca, dos cabelos que tinhas longos, do teu sorriso ora aberto ora timido.
Casualmente não te consigo imaginar senhora, só consigo ver-te assim uma mulher, que guarda a menina, que mexe nos cofres da memória, que sonha futuros.
Uma especie de pirata das emoções.
Casualmente, muito casualmente.
um beijo
kl
Mas , não vou comentar!
Não quero interromper…
Deixo-te a saborear o texto que Kl te escreveu.
Que sorte ter quem nos escreva coisas assim…
Abraço!
Já nada é como era, mas tudo aquilo que vivi já ninguém mo tira :))
beijinhos :)
KL-Não estava á espera! Obrigado pelas tuas palavras. Casualmente este fim-de-semana falei em ti, no facto de termos tantas coisas em comum, simultaneamente tantas coisas diferentes.
Paulo Lontro- Comenta á vontade, as palavras de uns não sufocam as de outros. KL é velho conhecido, quer dizer não é muito velho, apenas alguém que me conhece á muito e muito bem, eu nem suspeitava que seguisse estas minhas andanças bloguisticas!
Mugabe-è uma salvaguarda para os outros dias.
Korrosiva-Exactamente, o que está vivido ninguém nos tira!
Beijos
p.s.ás vezes penso no tempo que passo por "aqui" e se será bem empregue.Depois leio textos como os teus e comentarios como o de KL e tenho a certeza que sim.
Agora ao ver esta foto dos coelhos, bateiu-me uma saudade- sabes já cheguei a ter aquí 70, todos branquinhos, depois de esfolados pareciam cabritinhos, agora os u´nicos animais que tenho são piriquitos e caturras.
Tive sorte que conseguí voltar ás origens, de que tu falas e sentes saudade.
Bjos amiga
Beijo
Saltávamos de quintal em quintal, à procura do tesouro que os adultos enterravam e, lá teria que ser, a fruta do vizinho era sempre melhor do que a nossa...até áquele dia em que o Armindo farto de atirar pedras às maçãs, tão vermelhinas, na quinta do Barrigas, mas que nós nos antecipávamos a apanhar, lançou a pedra e correu célere a apanhar as maçãs que caíam, esquecendo-se infelizmente da pedra que caiu primeiro. E lá fomos todos para o hospital para coser a cabeça do Armindo. Até o cão, o Bóbi foi connosco com o rabo a abanar sem se aperceber do sofrimento do dono. Escusado será dizer que primeiro apanhámos as maçãs e só depois cuidámos da desgraça do Armindo. Tenho a certeza que ele nos perdoou porque voltámos a reencidir na quinta do Barrigas...
Abreijos
Isto não tem dias, porque todos os dias nos despertas doces recordações, transportando-nos para a nossa infãncia, ou juventude.
Lembro-me da minha mãe a fazer-me as tranças para ir para a escola, mais tarde usei, como quase todas as raparigas desse tempo, o cabelo muito longo e caído pelas costas.
Contigo lembrei-me do meu bibe de bordado inglês com a história da carochinha bordado, lembrei-me do vestido de veludo azul com golinha de renda e dos sapatinhos de verniz com botãozinho de lado.
Contigo, lembrei-me de brincar na praceta, ás fitas, aos potes, á viscodessa, á mamã dá licença, tanto que eu brincava.
Mais tarde lembro-me das festas de anos e das músicas dos Beatles, lembro-me de filmes como "A Laranja Mecânica" e antes todos os da Sarita Monteel(é assim que se escreve?)
Sabes Ana, as crianças de agora têm outras vivências, não vão para a rua brincar, para eles é tudo máquinas.
Serão mais felizes?
Mais tarde muito mais tarde já aqui por estes lados são muitas as recordações de lugares e pessoas, o Alfredo Matos, O Apolinário, o Teixeira, a Apolónia o Valegas, sei que pelo menos um dos nomes foi muito importante para ti, é assim a vida amiga.
Um Abraço bem afectuoso
Lagartinha de Alhos Vedros
As recordações e as saudades plasmam a nossa personalidade e os nossos actos presentes e futuros. Somos o que somos derivados das experiências passadas.
Eu também sou daqueles que guardo tudo. Até os meus cadernos da primária. De vez em quando leio as composições que escrevi quando tinha 8/9 anos.
Abraço,
Zorze
Conde-Já sou crescida agora!
José (Poesia) – Não como coelho, também não era capaz dos esfolar, eu sei que isto pode ser hipocrisia, tenho pena das vacas e dos borregos mas não peguei neles ao colo.
Carlos-Polaroids da minha memória.
Rei da lã-Meu menino!
Diogo-E é bom essa vivência.
Salvoconduto-De certeza que sim!
Lagartinha-Não sei se são mais felizes, é tudo diferente. Quanto ao fascínio acho que é exagero. As pessoas que referes, algumas foram pessoas muito próximas.
Zorze-Não guardei os cadernos, guardei tudo na cabeça!
Beijos
Sabe bem ler as tuas diversas casualidades.
Bjs