Até sim...




Agora o meu corpo todo assumiu que é Outono.
Agora tenho as alergias cíclicas que me fazem sonhar mais com o Verão, espirro, comichões na ponta do nariz (cheguei a pensar que era por coçar a ponta do nariz tantas vezes que ele ficava arrebitado), a alergias cansam-me, fico alérgica a mim própria…
Pronto eu até acho que o Outono tem coisas boas, não me esqueço a floresta do Algonquin, pintada com todos os tons entre os resquícios de verde, passando pelos vermelhos gritantes e os amarelos dourados, em plátanos selvagens, (que não libertavam aquele algodão odioso que cá libertam, apenas porque não estão no sitio certo, então libertam aquela forma de protesto farrapos de algodão peganhento e sujo), e guardei numa taça folhas que trouxe de lá, ainda têm cor, até gosto do cheiro das castanhas assadas, das batatas doces (fininhas, amarelas por dentro, são da Comporta, são sim menina! Na volta são de Israel ou Tombuctu mas desde que sejam fininhas e amarelas por dentro…), e gosto da luxúria das maçãs, as maçãs são importantes, reinetas e bravo esmolfe, a melhor maçã do mundo a perfumar a cozinha (e os plátanos me deixassem cheirar), marmelos, dourados agora, polpas com o resto de sabor de Verão, todos os citrinos a aparecer, não aqueles normalizados, os outros, ácidos de tamanho desiguais e cascas entre o verde e o laranja (tanjas, tangeras)...

E ainda ontem fez um frio tremendo e todas as partes do meu corpo suspiram pelo sol…
Ainda assim gostei de ver as nuvens a descarregar os raios, assim com trovões em surdina, e clarões por cima do rio, iluminando a Siderurgia, durante a noite (mas ainda assim sonhei com Verão), troco os sapatos, abertos por fechados (ouço o coro de recriminações, para quê que as mulheres querem tantos sapatos, opto por não responder e penso nas botas que quero comprar, pretas, lisas, rasas, quase impossível porque só vejo modelos alucinantes de saltos diabólicos ou enfeitados de pregos, tachas e correntes), os meus pés queixam-se com esta restrição, são como eu, troco cobertas, faço arqueologia nos armários em busca de casacos de malha, despeço-me com magoa de roupas leves.
E penso que Outono trará ainda outras vicissitudes, será mais difícil para os velhotes que se acumulam de madrugada frente ao Posto Médico, que ainda assim não tomaram vacina da gripe e para a tomarem precisam de consulta médica, que só conseguem indo para a porta do posto medico de madrugada, a serem açoitados pelo vento, para conseguir uma consulta com o medico de família que também não têm.
E comecei a vestir os meus pijamas pouco adultos, de flanela, povoados de cães e ursos, coroados com meias de riscas garridas e bonecos alucinados (não sei porque olho de lado para o roupa escolhida pelos meus meninos povoadas de frases estranhas e provocatórias ou símbolos incongruentes, quando existe esta parte de mim que se recusa a crescer).
E ainda assim a parte de mim que é crescida equaciona que com o frio virão outros problemas, dos que tem falta de tudo, terão ainda mais coisas para colmatar, sem conseguirem.
Mas sim, até gosto do Outono…

Comentários

Anónimo disse…
E de repente o Outono ficou mais colorido. Bonito, Ana.

Abreijo.
Mário Pinto disse…
Ana,
Sem o outono não migravam as aves, os peixes e não veriamos uma alcatifa, excepcionalmente colorida, a qual, ao contrário das vermelhas sintéticas que assinalam uma porta para massas elitistas, nos torna privilegiados pela exclusividade em cada passo.

Boa lista.

A revolução é hoje!
Anónimo disse…
Bela descrição... Pois é moça o Outono está aí... Adorei essa ideia da arqueologia da roupa no armário...
Abreijos
Ana Camarra disse…
Salvo conduto - O Outono tem a sua paleta própria.

CRN-Poios era sem Outono não existia essa migração fundamental nem essa passadeira natural.
Ainda bem que gostas da lista.

Ludo-Não é arqueologia?

Beijos
Anónimo disse…
Eu já andei hoje, também, na Arqueologia do Armário...
Kisses
samuel disse…
Quando gostamos de estar vivos, todas as estações têm grandes e belíssimos pretextos.
Diogo disse…
Eu acho que devíamos ter quatro estações com duração em progressão geométrica do tipo:

Inverno = 4 elevado a 1 = 4 dias
Outono = 4 elevado a 2 = 16 dias
Primavera = 4 elevado a 3 = 64 dias
Verão = 4 elevado a 4 = 256 dias

Total = 340 dias. Os 25 dias que faltam para os 365 seriam para passar férias ao estrangeiro.

Eu também gosto de dias frios e chuvosos mas acho que deviam ser reduzidos a quatro ou cinco por ano. Dar um mergulho no mar ao fim de uma tarde quente de verão é um dos maiores prazeres que conheço.
Ana Camarra disse…
Ludo – Pois tem de ser.

Samuel-è verdade, mas umas mais que outras.

Diogo-Subscrevo inteiramente esse teu modelo, era o ideal para mim também.
Não há coisa melhor que esse mergulho no final do dia.

Beijos
Marco Rebelo disse…
xiça, imagem bonita :)
Anónimo disse…
Ana, não me faças chorar....!

E não tenho arqueologia do armário.

Abraço!
Ana Camarra disse…
Mugabe

Chorar?!
Porquê amigo?
Não tens arqueologia porque não precisas....

Marco Rebelo

Bem vindo, ainda bem que gostas!

Beijos
F Nando disse…
Concordo em absoluto agora até ao Natal é ver os dias a ficarem cada vez mais pequenos...
Anónimo disse…
A Primavera não é flor que se cheire para mim,começo a espirrar e a comichar em Março e acabo em Setembro, mesmo com todos os mergulhos no mar ao fim da tarde.
O Outono aquece-me o olhar, com os seus tons rubros.
No Inverno fico mais sádia, como as tuas macãs.

Beijos
Ausenda
Anónimo disse…
Ana, não chorei por causa da arqueologia, aí estou muito bem, mas sim pela descrição das pessoas e nomeadamente os velhotes ao frio e à chuva nas bichas nos centros de saúde que sabes como funcionam.

Abraço!
Ana Camarra disse…
F Nando - Pois ficam, dá-me uma tristesa anoitecer tão cedo, apesar de também gostar da noite.

Ausenda - Percebo, mas mesmo que espirre a possibilidade de banhos de mar atrai-me muito, aliás o mar até me cura essas coisas também.

mugabe-Pois uma realidade dessas bichas é assustadora.

beijos
Marco Rebelo disse…
mto obrigado pelos coments ana. olha "cachupa rica" leva galinha sim. tens razão quanto ao ter olhado pouco pro publico, foram os nervos.por incrivel q pareça as pessoas apesar disso riram-se... bj
Zorze disse…
Espero que nessa arqueologia descubras o Tesouro perdido na ilha mágica. Na ilha do mental-soma.

Eu também gosto de dias de chuva, para ficar em caselas. Também são bons para as couves medrarem.

Beijos,
Zorze
LuisPVLopes disse…
O Outono é como um quadro de Vincent Willem van Gogh.

Ouss
Fernando Samuel disse…
E quem é que poderá não gostar de um Outono tão bem... pintado?


Um beijo amigo.
Ana Camarra disse…
Zorze - Não conheço essa ilha, ilhas quero ir a Cuba.

sensei- Mesmo pelo Van Gogh gosto mais do verão....

Fernando Samuel-Mesmo com cores linda, Verão, Verão sempre.

beijos
Anónimo disse…
Cara Ana Camarra,

Os meus parabéns pelo interessante Blog e em particular este texto que com quase 1 ano, se vai tornar novamente actual.

No entanto, a forma como cheguei a ele é que me deixou um pouco surpreendido. Através de uma busca nas imagens do Google, em que procurava saber se uma fotografia minha estava bem colocada nos resultados do Google, encontro essa mesma foto inserida nesta página do seu blog.
Trata-se da fotografia com as maçãs Bravo de Esmolfe.

http://www.flickr.com/photos/joaolimao/2084798481/

Não me entenda mal, eu agradeço-lhe a escolha da fotografia e não me oponho de todo a que seja usada neste contexto. Mas tal como as músicas que se ouvem no blog têm à vista o seu autor, também as fotografias o deveriam ter. É uma questão de justiça.

Cordiais cumprimentos,

João Almeida

bandolimao@gmail.com