Al Berto

Al Berto foi uma especie de poeta maldito, ligado ás artes plásticas, auto exilou-se em 1967 em Bruxelas.
Homem de excessos, viveu a vida como se tratasse de cada minuto o último.
Dos seus versos inquietantes, gosto de todos, há um que inquieta por ter sido um homem a escrever.
Um homem com tanta sensibilidade que escreveu no feminino, sem pudores, como se de uma mulher se tratasse.

Há-de flutuar uma cidade



há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado



por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos...sem ninguém


e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta...dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci...acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade

Comentários

Anónimo disse…
Olha que poema tão bonito!
Anónimo disse…
Ana

Que posso dizer a sua sensibilidade é muito grande.
Este poema é lindo.
Como muda da brejeirice do engate para esta profundidade!

beijos

e muito obrigado por ser assim

Augusto
Menina Idalina disse…
Ana: Um poeta "maldito" e absolutamente essencial.
" Que o dia te seja limpo" .
Estes nossos gostos ...LOL
Anónimo disse…
Miúda

Cá estou!
Bebi a bica e cá estou!
Como é, está triste ó só com veia poética.
Contigo é possível uma coisa ou outra.
Mas pronto sempre foste assim, alegre e maricas com os poemas, as músicas e isso tudo.
Maricas como sensível.
Porque não és maricas, és corajosa como uma pantera.

Beijaças

Paulinho el niño
Anónimo disse…
Ana

Pois que és uma mulher sensível, só de ler isto, toda a gente sabe.
Mas quem te conhece minimamente sabe mesmo.
È bonito trazeres um poema escrito por um homem, que escreve como uma mulher, prova que os homens são sensíveis.

Beijo grande abraço apertado

Zé Manuel
Ana Camarra disse…
Anónimo - pois é, lindo!

Augusto - Já viu o nome do estaminé?

Menina Idalina - Essencial, imprescindivél. Pois é gostos muito pareciditos....

Paulinho - Não estou nada triste, é preciso estar triste para apreciar poesia? Essa da pantera, dás conta de mim!

Zé Manuel - Só um homem especial entra assim na tola das gajas!

Beijos
Anónimo disse…
Dizem que a paixão o conheceu, título de um poema seu mas que serve para o caracterizar.

Abreijo
Capitão Merda disse…
É normal que escrevesse como se de uma mulher se tratasse, dada a sua homossexualidade.
E isto não é uma crítica moralista. Estou-me nas tintas para isso...
Ana Camarra disse…
salvoconduto - esse também é muito bom!

Capitão - Não o sabia homofóbico, mas não é...
Mas sim era homosexual, mas isso não faz dele um melhor ou pior poeta.

Abreijos
Fernando Samuel disse…
Foi lá, em Bruxelas, que o conheci - e não era de trato fácil, mas era bom poeta, o que, para o caso, é o que mais importa...

Um beijo.
Anónimo disse…
Bem escrito mas imoral, abjecto, quase assassino, nada que ver contigo (a não ser nalgum poço de ar).
A espera angustiante pela felicidade pode impedir-nos de contemplar o mundo na sua verdadeira dimensão, quiça saber que esta não visita grutas, que se oferece nas lutas ou que escuta o malhão!

Cumprimentos.
Ana Camarra disse…
fernando samuel - pois era uum poeta, para o caso o que interessa. Mas era um homem atormentado como tal devia de ser dificil.

crn - Pois percebo-te, ficar á espera da felicidade é morrer mais depressa.
Só para que saibas, não me revejo no poema, apenas o acho belo.

abreijos
Anónimo disse…
um poeta da minha terra, com quem tive a sorte de conviver algum tempo... uma alma muito muito grande... bem lembrado, Ana!
pbruno
Ana Camarra disse…
pbruno

Sines, adoro Sines.

bjks
Anónimo disse…
Al Berto, nasceu para a poesia, era um óptimo poeta, gosto de ler, os seus trabalhos, como poeta e como poetisa.
bjos
Zorze disse…
A ideia do "Ser Feliz" e do "Temos que Ser Felizes" enchem e enchem os consultórios dos psicólogos. E eles agradecem, claro.
O pior são as depressões e as frustações na tentativa desesperante de atingir os ideais que nos "vendem" acima descritos. Nem nos apercebemos que a verdadeira felicidade, muitas vezes, é aquilo que já temos.

Beijos,
Zorze
Ana Camarra disse…
José - Também gosto, muito.

Zorze - Pois é por vezes somos felizes e estamos tão preocupados em perseguir a felecidade que nem damos conta dela...


beijocas
samuel disse…
"acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão"

É muito bonito!

Abreijos
PDuarte disse…
acho que este poema nada tem a ver contigo.
acho.
tens tudo para envelhecer feliz.
sim tens.
acho.
Ana Camarra disse…
samuel é muito bonito também gosto, muito.

pduarte - tem dias que tem um bocadinho.

beijocas