O Casulo



Por muito que me queira manter no casulo encantado das férias, longe de chatices e amargos de boca, as coisas acabam por chegar.
Confesso que tenho evitado os telejornais, tenho comprado menos vezes o jornal do que é habitual, não consulto noticias on-line, não abro mails de trabalho, no carro ouço música de CD em vez de rádio…
Não trouxe relógio nem telemóvel de trabalho.
Leio, muito mesmo, durmo a sesta, perguiço, vou à praia, passeio no campo.
Tenho dias em que me dá os amoques de saúde um pouco instavél, tenho dias que me esqueço por todo, estou queimada, vejo montes de cortiça, vejo as vistas, moinhos de vento a sério e em funcionamento….
No entanto as coisas chegam cá e impossível manter-me no casulo: para além do jornal que me dá conta de mais distúrbios em Bairro Sociais, que me parece absolutamente previsível face à situação económica e social do país; para além do rescaldo de toda a parvoíce envolvendo a participação nacional nos Jogos Olímpicos; para além do comboio que cai no Tua, outra vez, com quase a certeza que algum subalterno da CP vai ser acusado de negligência, não obstante as constatações obvias do desinvestimento destes sectores; do avião que caiu em Madrid, dos incêndios no Centro do país, dos mortos civis do Iraque, para além da noticia no Diário de Notícias, edição impressa, na qual se constata que 49 bebés morreram na Índia vitima de cobaias da industria farmacêutica ocidental, que procedeu a testes….

Vem-me à lembrança os recentes posts do CRN, do Ai Portugal, sobre a Eugenia, que raio serão aquelas crianças a menos que as outras?
Que raio de globalização é esta?
Cobaias do hemisfério sul para tratar do hemisfério Norte?!
Tento manter-me ainda dentro do casulo acolchoado das férias mas entre isto tudo, o cantoneiro que não varre as ruas e louva Oliveira Salazar e os senhores do café que em altos brados dizem que a medalha de ouro de Nelson Évora não conta porque nem é português….é preto!
Tento recolher ao casulo, pelo menos mais uma semana!

Comentários

Anónimo disse…
Sem dúvida um retrato de uma das faces de Portugal, a mais negra, por certo, como negra é última foto deste teu post.

Abreijo
Anónimo disse…
Ana
Não te serve para nada o casulo porque ele tambem evolui, o que agora é daquí a pouco já não é!
Sabes a estória da semente não é verdade; pensa assim que sofres menos amiga.
bjos
AnA disse…
Estou mto chocada com o que contas das crianças, desconhecia.
Nem comento
Zorze disse…
Quem sou eu para dar conselhos?
Mas, mesmo assim, arrisco.
Aproveita o teu casulo. Não leias jornais, não vejas televisão. E de certeza quando regressares voltarás mais pura do ponto vista consciencial.

Beijos,
Zorze
Anónimo disse…
O casulo pode resultar paradoxal em quem se preocupa com o mundo do qual faz parte. Ainda distanciando-se fisicamente o impacto da realidade com tempo para a assimilar, pode resultar inquietante, assumindo que não é fácil, a quem está acordado, deixar de situar dentro da realidade.

Cumprimentos.
PDuarte disse…
desliga a net. o pior de tudo são os amoques.
quanto ao que ouves na rua...não vou dizer o palavrão.
Ana Camarra disse…
Salvoconduto – É a foto de um homem mesquinho, mau, que conseguiu deixar ainda assim estes resquícios de idolatria que me entristecem e preocupam.

José – Pois eu acho que evoluímos sempre, mas faz falta por vezes o fechar no casulo, para continuar com o resto.

Ana – Pois também fiquei chocada, não é só nos filmes, é a sério…

Zorze – Pois, tento aproveitar, mas tenho um galo do caraças amanhã desloca-se à zona o Sr. Silva, vê lá tu!

CRN – Pois, nunca conseguimos fugir totalmente o casulo só atordoa a coisa, um bocadinho!

Pduarte - Estás autorizado a dizer o que te dar na real gana, os amoques já estou habituada, já começo a saber viver com eles, é aproveitar os dias bons e abrandar nos dias menos bons, porque enquanto estiver viva nenhuns serão maus.

Beijocas
Ana Camarra disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse…
Para quem está dentro do casulo, estás muito bem informada.
É verdade, que raio de globalização é esta que leva os donos da democracia a invadirem outros povos.
Que raio de globalização é esta que se serve de seres humanos como ratos de laboratório.
Dizem que é o preço do progresso mas se isto é progresso, não admira que o outro dê vivas ao Salazar. A história já provou que é desta insatisfação que vivem os ditadores.

Beijinho.
Capitão Merda disse…
E sobre o namoro da Merche Romero, tens a dizer nada?

;)

Boas férias
Mac Adame disse…
Louva o cantoneiro e começo a louvar eu. O Botas, tirando aquela parvoíce da PIDE, era bem mais competente do que muito democrata que por aí anda. Beijinhos.
Anónimo disse…
Ás vezes penso que este Portugal não aprendeu nada com o 25 de Abril... Continuamos o 'mesmo' país tacanho e pequenos nos horizontes...
Kiss
samuel disse…
A fotografia a preto e branco do senhor idoso... explica muito do que se passa por cá, mas infelizmente, 35 anos depois do 25 de Abril, já não explica tanto como se pensa.
Ao fim de todos estes anos, temos que concentrar as atenções nos que estão vivos e bem vivos e a enriquecer dia após dia com tudo o que se passa.
Aproveita o casulo mais um pouco...

Abreijos
Fernando Samuel disse…
No casulo... observando - e observando com lucidez.

Boas férias.
Ana Camarra disse…
Atever – Pois é disso que tenho um certo medo que desta insatisfação nasça outra aventesma….
Quanto a estar informada, o que queres, sou assim.

Meu Capitão – Quero que a menina Merche seja muito feliz e coma uma perdiz….nem sei muito bem quem é a moça quanto mais o namorado.

Mac – Bem-vindo meu lindo, louvo o caraças, já o meu amigo JJay lhe gritou que é por causa de gajos como ele que isto não anda, o meu cara-metade optou por lhe responder em francês, o homem é uma chaga. Quanto à incompetência de alguns “democratas” à proporcional ao adormecimento colectivo do país…

Ludo Rex – Mas ainda assim é diferente!

Samuel – subscrevo o que dizes, vou tentar aproveitar mais o casulo mas tenho um sacana de um feitio que me põe sempre em modo de vigilância.

Fernando Samuel – Juro que tenho muitos dias que duvido da minha lucidez.

Beijões
Anónimo disse…
Impossível fugir à teia noticiosa. Só mesmo nu monte alentejano,sem televisão por perto e onde a venda de jornais mais próxima fica 8 quilómetros.
Boas férias
Ana Camarra disse…
Carlos Barbosa de Oliveira

A minha condição financeira e ainda o facto de ter dois adolescentes não me permite um desligar desse tamanho.
Mas qualquer dia faço-o, ai faço, faço.

beijos
Ana Camarra disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Zé do Cão disse…
Por muito que não queiramos, nós, nós próprios estamos encurralados dentro ou fora do casulo que outros teceram, mas com os votos da maioria deste povo que trata a politica com a mesma paixão cega, como ama o clube de futebol da sua eleição.
Meu bisavô dizia-me que Portugal era um País miserável, meu avô, por outras palavras dizia a mesma coisa, meu pai nascido em 1900, dizia-me que nunca viu nada de bom para o povo e que posso dizer eu aos meus filhos, que os vejo na realidade licenciados com cursos que em qualquer País civilizando seriam aproveitados pela nação, e aqui no seu próprio País, para ter um trabalho mesmo precário terão de se inscrever numa empresa de exploração de mão de obra.
Tenhamos esperança, dizem-nos. Esperança, esperança de quê? De que venha a morte e nos leve? Julgo que é o que nos espera.

Beijocas, Ana
Ana Camarra disse…
Zé do Cão

Não.
TEMOS DE TER ESPERANÇA!
E mais do que esperança contribuir sempre para dar a volta, porque há uma volta a dar, se olhares para a vida do teu pai e do teu avô, foram diferentes da tua, porque alguém lutou, reinvindicou, denunciou....não por bondade divina ou dos grandes deste mundo.
EU acredito num mundo melhor, luto por isso todos os dias.

Beijocas
Anónimo disse…
Posso-lhe afinaçar que há locais muito baratos no Alentejo para passar dias assim. Já visitou o site "Férias Alentejanas"?
Ana Camarra disse…
Carlos Barbosa de Oliveira - Não visitei não senhor, para concretizar tal coisa tenho de esperar que a ganilha não queira ir comigo de férias, desconfio que não falta muito, até lá faço o sacrificio maternal de não me isolar assim tanto.

beijocas