Mundo de Aventuras





Escrever tem sido um exorcismo de mim própria.
Dos meus fantasmas, das minhas angustias, das minhas, recordações, das minhas experiências, das minha opiniões que valem o que valem.
Agora sinto quase a obrigação diária de reportar algo a este blogue que funciona como o pequeno jornal que eu e os meus primos elaborávamos em miúdos, em folhas arrancadas a cadernos, batidos á máquina na velha Smith Corona do meu avô, que supostamente portátil, mas que pesa alguns vinte quilos.

Fazíamos os jornais, desenhávamos as ilustrações, até nos dávamos ao trabalho de fazer uma pequena banda desenhada ou um cartoon.
Depois fazíamos o jornal passar de mão em mão, pela família, cobrávamos uns tostões era uma espécie de aluguer.
Por vezes tenho alturas que acho que me tenho de me deixar disto, que as coisas que escrevo não interessam nem ao menino Jesus, mas depois tenho o retorno de amigos, dos carne e osso e dos virtuais, virtuais então que aprendi a respeitar e considerar, a ter em conta a opinião, a sensibilidade.
Fazíamos outras coisas também, teatros de improviso, a especialidade era enfiarmo-nos os três no roupeiro, sairmos de lá vestidos com a roupa da avó, mascarados e fazermos uma peça de improviso, tudo servia.
Com a família a assistir paciente.
Hoje somos pessoas muito diferentes uns dos outros, radicalmente mesmo, tendo em linha de conta o percurso de vida, as opções a todos os níveis, mas partilhamos ainda uma cumplicidade só nossa.
Também andámos no faroeste, no sofá da sala atrelávamos os cavalos de balouço, com um lençol fazíamos a cobertura da carroça de pioneiros, levávamos farnel, espingardas de lego e outras improvisadas, view master como binóculos, e lá examinávamos a pradaria em busca de fora da lei, índios e manadas de búfalos tresmalhadas, lá apareciam e tínhamos batalhas renhidas, eram assim os dias de chuva…

Passado pouco tempo escrevia redacções na escola, quando eram tema livre, recheadas com essas aventuras.
Enquanto os meus colegas se chateavam com a imposição da redacção ter pelo menos x linhas, eu extravasa para além disso, faltava-me muitas vezes a ilustração final, mas não tinha muita importância.
Fazíamos finais alternativos a todas as histórias, brincávamos aos Cinco, vivemos todas as Aventuras de Huckleberry Finn e Tom Sawyer, tínhamos estojo de maquilhagem do que surripiávamos das nossas mães.
Exultávamos com o Sandokan, e andamos perdidos em vulcões, ilhas, balões, foguetões e submarinos com todos os livros de Júlio Verne.
Na praia tínhamos aventuras radicais com monstros submarinas, barcos afundados, polvos gigantes, tesouros submersos que se reduziam a um punhado de conchas e o milagre de encontrar vivo um cavalo-marinho vê-lo enrolar-se em si próprio e devolve-lo ao mar.

Não sei se é por esse gosto ás aventuras que não vivi que escrevo, não se escrevo por achar que existem coisas maiores que eu que não me cabem no peito, não sei se escrevo porque enquanto escrevo estou no fundo a conversar só comigo, embora me saiba bem o retorno dos outros que se juntam á conversa, não percebi ainda se escrevo por outros motivos por vezes, porque a indiferença me choca, a injustiça choca-me, a torpeza me choca, muita coisa choca-me.
Quase tantas as coisas que me fazem feliz.
Agora vivo outras aventuras, a aventura máxima de ter produzido dois seres humanos, em co-produção, que me enchem de orgulho, onde detecto coisas minhas, mas que sei que não são meus são deles próprios.
Outra aventura, vivida diariamente, intensamente a de querer tornar este país melhor, este mundo melhor, para todos, não só para mim e para os meus….

Comentários

LuisPVLopes disse…
Mundo de Aventuras, pois é!... Este mundo é mesmo de aventuras, sempre o foi e sempre o será, mas a maior aventura de todas, é a de viver todos os dias.

PS(salvo seja)
Recordar, também é viver!

Ouss
Anónimo disse…
Ana

Já estava á espera de si hoje...
Começou mais tarde ou teve outros afazeres.
Lindas as suas recordações e as suas cumplicidades de infância.
Importantes as Aventuras que vive hoje.

beijos grandes

Augusto
Anónimo disse…
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia, máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista, que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva, alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


A revolução é hoje!
Anónimo disse…
vizinha

hoje já estou do best :)
e parece que tu também!

gostei muito da ideia final do texto - um mundo melhor para todos.
that's the only way!
and by the way
viste a notícia do Vaticano (soberana instituição política) ter considerado que pedir esmola é um Direito Fundamental do Homem?
Viste? Quando o sub-prime aperta e o petróleo sobe, bora lá institucionalizar a mendicidade.
Agora é que vai ser ver como é que a Isabel Jonet vai descalçar esta sandália (Chanel, for sure!)

está combinado que descerei da Torre de marfim para 2 dedos de conversa e uma água tónica com 2 pedras de gelo e limão.

o vizinho de cima
AnA disse…
Mais importante do que saber porque se faz certas coisas, é sentir que elas nos dão prazer. ;)
Anónimo disse…
Anita

A Ana é uma contadora de histórias, fantástica aliás.
A maneira como encadeia as coisas umas nas outras é fantástica.
Pois vê-se logo que luta por um mundo melhor, com um coração desse tamanho...

lindo mesmo!

Beijões
Anónimo disse…
Miuda

Escreve um livro, porra.
Escreves melhor que aquelas tias estupidas que lançam livros a metro.
Até a parva da Fátinha já escreve livros...
Esqueceste-te de dizer que viver perto de ti é que é uma grande aventura, sempre.
Lutares por um mundo melhor, desde pequenina credo, deve ser genético...

beijões

Paulo el niño
Anónimo disse…
Quem é o vizinho de cima, pá?

Paulo
Ana Camarra disse…
Sensei- Pois é uma grande aventura!


Augusto – Ao contrário daquilo que já se disse faço mais coisas na vida para além de blogar…

CRN – Lindo poema, linda canção, linda mensagem.

Vizinho – Ainda bem que está do best.
È mesmo a única via.
Vi a noticia é tão atroz que não merece comentários.
A instituição da esmola….
Amanhã á tarde pode ser a água tónica, fico á espera, sim?
(tão raro encontrar alguém que também goste de água tónica…)

Ana – Certas coisas dão prazer, outras fazemos quase por dever mas há satisfação do dever cumprido…


Paulinho – Não és o primeiro a dizer para escrever um livro
A Fátinha sempre foi uma croma.
Sermos amigos é que é uma aventura.
Não tens nada a ver com o vizinho de cima, não sejas cusco.

Beijocas
Anónimo disse…
Grande tola!
Rica menina.
Anónimo disse…
Que posso eu dizer, Ana, se não que cada vez gosto mais de cá vir.
Um espanto.

Um beijo
Anónimo disse…
Permita-me que lhe diga que foi um imenso prazer ler este texto.
Lembrou-me tempos já esquecidos, que o peso da vida adulta teima em ofuscar.
Ana Camarra disse…
Anónimos - Obrigado

AP - Apesar das nossas diferenças, ainda bem que gostou, volte sempre.


bjks
Anónimo disse…
Olhe até escreve muito bem.
Mas um mundo melhor dirigido por comunas, cruzes canhoto!
è ver o que andam por cá a fazer.
Com a sua inteligência podia dedicar-se a outras coisas.

Fique Bem
Ana Camarra disse…
Eduardo - Esqueci-me de si,não foi por mal, obrigado.

Anónimo das 16h08 - Olhe sabe o que mais pense o que lhe apetecer, nem lhe vou responder aos elogios nem á parvoeira....

beijocas para o Eduardo
Talk Talk disse…
A vida também é feita das recordações...

Beijinhos
Anónimo disse…
Ana
ao lêr otitulo do teu post recordei os meus tempos de infância e as duas revistas da altu que eram "o mundo de aventuras" e o "Cavaleiro Andante"
AlÔ Silver!
Não vale a pena fazer comparações, o que vale a pena é viver,fazer amizades ser solidário, fazer democracia todos os dias, como tu muito bem sabes fazer,.
Bjos
Ana Camarra disse…
talk talk - as recordações fazem de nós o que somos.

José- Pois esses são antiguinhos, faz-se o que pode.

beijos
Anónimo disse…
Lindona

Só cheguei cá agora.
Só tu para começares com a escrita, passares pelo faroeste e acabares na tua vontade de mudar o mundo.

Cabe tudo no teu peito amiga e continua a escrever por favor, é um orgulho que tenho.


è um favor que fazes.

beijões muitos

Lena G.
Anónimo disse…
Não interessam nem ao menino Jesus? Pois eu menino, não jesus, confesso que gosto.

Abreijo
Ana Camarra disse…
Lena - Estás sempre a dar-me mimos.

salvoconduto - Pois por aparecerem meninos como tu é que eu cá vou continuando.

bjks
PDuarte disse…
fomos todos iguais. há uma época nas nossas vidas que são cópias das vidas de todos os outros. é na época em que ainda não fomos envenenados.
Ana Camarra disse…
pduarte - a infância também serve como profilaxia de certos venenos, não achas?

beijocas
Zorze disse…
Ana,

Bonito o teu texto. Não te questiones do porquê ou para quê que escreves. Escreve porque escreves muito bem.
Somos seres livres.
Tom Sawyer, Sandokan (do que foste-te lembrar)... Eu apesar de muito puto, adorava.

Beijos,
Zorze
Capitão Merda disse…
Retive o último parágrafo!
Sem tempo para mais..
Bj.
Abrenúncio disse…
É bom recordar e dar a recordar (porque eu também vivi muitas dessas descrições que fazes, embora numa versão de macho) esses belos tempos que de certeza já não voltam para trás. E até hoje tudo isso já não passará de "coisas do tempo dos cotas", entretanto substituídas por playstations, computadores e até... blogs.
Saudações do Marreta.
Anónimo disse…
Quando se tem uma infancia que foi vivida na sua plenitude, o futuro é sempre aceite de braços abertos e cheio de vontade de fazer mais e melhor.
Brincar ás aventuras em criança é ganhar arcaboiço para as batalhas da vida :)

Parabens pelo blog ;)
samuel disse…
Fica com uma frase de um escritor (que agora não consigo identificar) que quando lhe perguntaram porque escrevia, respondeu "Escrevo para saber como acabam as histórias!"

Abreijos
Menina Idalina disse…
Escrever é memória, é sentimento . E isso é muito para observarmos o que nos rodeia. Escreves e isso te chega ... Não achas ?
Fica bem
Ana Camarra disse…
Zorze – Obrigado pelos elogios, pois Sandokan era uma coisa fantástica até tinha um português com o mesmo nome do Presidente da Republica (Eanes).

Meu Capitão – Essa Naviarra dá conta de si! De qualquer das formas reteve o importante.

Marreta – Eu quase que as vivi como macho também, porque era a única no meio de rapazes. Pois até são substituídas por blogs, mas ainda bem senão nunca encontrava pessoas como tu.

Korrosiva – Tens razão, viver é uma aventura e sempre se ganha calo. Bem vinda.

Samuel – Bela frase, também não identifico o escritor. Mas é mesmo assim começamos a escrever sabemos como começamos mas o texto ganha vida própria.

Menina Idalina – Obrigado pelo o elogio, mas sou uma mulher sempre insatisfeita á espera de outras aventuras que a vida me traga.

Abreijos a todos
Zé do Cão disse…
Ana, é bom, salutar, viver com saudades dos tempos da meninice. Coisa bela, bela.
"Numa das quintas de meus pais, o Zé
com 3 anitos fazia pipi (mija, xixi,urinadela etc)
Passa uma vizinha, pergunta. Que fazes tu Zé? Mija, (digo eu).
Não é mija é xixi, diz ela.
É mija...
Não é mija é xixi.
Porra, vê, vê, que é mija? Os adultos sempre gostam de contrariar os pequenitos.

Beijocas, amiga
Anónimo disse…
mata-me k ficas a viver no paraíso: só gente boa, eheheh, deixa de haver corruupção, não há ignorantes, só elites, um mundo perfeito.
enfim, o fim do mundo.
Ana Camarra disse…
cândida - Mato?! Nã sou pacifica