A Rádio







Já tinha prometido um capítulo sobre a rádio.
Não vivi o ambiente retratado no belissimo filme de Woody Allen “Os Dias da Radio”, sei que os meus pais e tios viam o filme com a alegria própria de quem via a sua infância retratada. No entanto não tendo vivido nessa época a rádio teve na minha infância e adolescência um papel muito importante, como já expliquei televisão só emitia poucas horas por dia e era só um canal, não havia gameboys, consolas, computadores e outros artigos indispensáveis á ganilha de hoje, indispensáveis porque nós ajudamos á festa, mas enfim, não existindo nada disso líamos muitos (Os Cinco, Os Sete, todos do Emílio Salgari, a Colecção Fruto Real, Tin Tin, Asterix, Spirou e Fantasio, Tio Patinhas, Mónicas, Mandraques), para alem de ler brincava-se na rua e ouvia-se rádio.
Ouvia-se rádio na rua, uns rádios pequeninos com antenas extensíveis enormes e capinhas de napa de cores variadas, existia ainda um sofisticado sistema de auricular (mono) que se acoplava ao dito e era ver aos domingos grupos de homens com rádios a ouvir o relato de futebol.
Nas aldeias as pessoas juntavam-se na taberna, na colectividade ou numa casa particular, juntavam-se onde existisse um rádio.
A minha avó tinha um rádio grande, com honras de naperon, verde claro, de baquelite, tinha um local tão privilegiado como a ainda recente televisão
Ouvia-se rádio para saber as noticias e para ter noção das novidades discográficas (ainda hoje se faz, principalmente durante a condução), mas na época era mais que isso: era a paragem total do país quando passava o folhetim (era o nome) do “Simplesmente Maria” , era a tia Maria que rezava o terço acompanhada quando não podia sair de casa, era “Os Parodientes de Lisboa ” ouvidos em quase todas as casas pela hora de almoço, era a minha tia Mariana que seguia atentamente o teatro radiofónico (As Pupilas do Senhor Reitor), era o mítico “Quando o Telefone Toca” onde ao preço de uma chamada telefónica se dedicava a musica mais romântica a quem se desejava, o excelente “Pão com Manteiga” fazia-me levantar mais cedo ao domingo para rir com um humor muito avançado, eram o “Rock em Stock” e a “Febre de Sábado de Manhã” quem regulava os ídolos e as novas tendências musicais.
No Barreiro houve mesmo um concerto fabuloso da “Febre” no Estádio do GD Fabril, numa época em que não existiam Festivais de Verão, excepto a Festa do Avante e os grandes Concertos aconteciam quase de dois em dois anos, uma tarde inteira de música ao vivo (GNR, Rádio Macau, TNT, Rui Veloso) era o mais parecido com o Rock in Rio.
Ainda guardo discos de vinil com o autocolante “Top nº 1 – Rock em Stock”.
Foi através da rádio que Portugal acordou na sua madrugada mais bela, foi através da ocupação estratégica da rádio que os Capitães de Abril recrutaram em poucas horas um povo inteiro.
Foi na Rádio que se ouviu o “pai do rock português” a cantar o “Xico Fininho”.
Foi na Rádio que ouvi que o Chiado ardia....

Comentários

Anónimo disse…
Olha também passava dias a ouvir rádio, tinha um gira discos, mas poucos discos...

muito giro gostei muito deste espaço.
Rei da Lã disse…
Com essa fizeste-me lembrar que estou quase com os pés para a cova!
bivolta disse…
A radio quando eu era criança:

Professora para o menino rico, diz lá Luizinho, o que fazes depois do jantar?
Sora, vamos para a Lareira, o meu pai abre o rádio e ouvimos musica e conversamos.

E agora tu manel, o que fazem lá em casa?

Depois da sopa, vamos para de roda do lume, assamos uma boletas e como não temos tefonia, o mê pai dá peidos e a gente ri-se.
Anónimo disse…
Excelente fotografia de outros tempos, ainda incluiria os 5 minutos de jazz, a 24ª hora, o eng. sousa veloso ou, consequência desta sociedade fútil, a tele-escola, que não estaría demais ainda hoje -mas essa é outra questão.

Abraços.
Anónimo disse…
Ana
Tambem és do meu tempo em que nos sentava-mos para ouvir rádio,a novela da "cochinha" a Laura Quinter, a BBC, etc.
A juventude de hoje nem acredita o que foi a nossa juventude!
Eu conto todas essas estórias ás minhas netas, claro que o entusiasmo,e a curiosidade é um nunca mais acabar!
Abraço camarada.
Ana Camarra disse…
Anónimo - Obrigado

Rei da Lã - Mas que mau humor Majestade! Velhos são os trapos, não as lãs, desde que nascemos que caminhamos a cada segundo para o fim, temos é de rentabilizar cada segundo. Não me diga que os fins de semana o transtornam? Beija mão Real

Bi Volta - Essa é velha mas as coisas boas não envelhecem


beijocas
Anónimo disse…
Aló Miuda

Estás mais bem dispostinha?
Só acordei agora e tenho a boca a saber a papel de música, pareço um destroço do Titanic...
A rádio toda a gente tinha, horas a ouvir, a Febre de Sabado de Manhã era a nossa curte, tu como eras mais á frente era o Rock em Stock.

beijocas loucas

Paulinho el niño
Anónimo disse…
Querida Ana

Estás mesmo disposta a abrir a porta secreta das recordações, dei comigo á procura do VHS dos Dias da Rádio para ver á noite, a São levou todos os dvds

Lá mexi no computador ao fim de semana por tua causa e as miudas a quererem saber o que é que eu ia ver, eu disse um blogue de uma amiga do pai..
Ficaram todas numa impaciência se eras a minha namorada e tal, lá tive de explicar que te conheço desde pequenina e que somos muito amigos apenas separados pelas circunstâncias e que és uma senhora casada e com filhos.
A mais nova olhou para mim como se eu fosse imbecil e disse "E qual é problema, estavas casad e a mãe já tinha namorado..."

Enfim, mais de um ano depois ainda doí saber destas coisas assim.

Quando for aí temos muito que conversar

Grande beijo amiga

Zé Manuel
Ana Camarra disse…
Crn Pois muito mais há para dizer, mas já falei de algumas dessas coisas que referes, num texto para trás que publiquei em 1 de Abril e que se chama "Brincar na Rua".
Falta falar também no fascinio das voizes dos grandes locutores e do impacto que eles tinham.
As fotos é que arranjo.

beijos
Ana Camarra disse…
Poesia no Popular - Não sou tão crescida como tu, acabei de chegar ao quarenta, mas partilho aqui as minhas memórias sobre a Rádio.
Isto agora anda tudo muito depressa...

beijos
Ana Camarra disse…
Paulinho Meu Menino

Estou mais bem disposta, obrigado.
Toma Gurosan e não tomes mais alcool hoje.
Eu acho que o teu figado faz mal ao alcool...

Tem juizinho

beijos
Ana Camarra disse…


Nem sei que te diga.
A miuda disse isso de forma irreflectida, talvez não tenha sido assim.
Essas coisas demoram tempo a sara, mas pensa no saldo positivo, as miudas e com certeza outras coisas.

Tens de partir para outra.

beijo e abraço
Eric Blair disse…
rádio?...
70/80: relatos do Sporting, fechado no quarto, para poder espernear à vontade
80/90: rádios pirata, a Caos (Rock na Garagem) e a Rádio Cobra (estica mas não dobra)
90: entrevista fictícia com 3 amigos. Vendemos a história de que tínhamos uma banda - Sua Santidade e os Três - e demos uma entrevista de uma hora (tudo fictício).
90: rebeubeu pardais ao ninho
00: Xfm e a outra que a substituiu, de cujo nome não me lembro.
Na cozinha (sei cozinhar, estava a meter-me contigo, no outro post)e no carro: tsf entre anúncios, antena 1 e 2, e a club, por vezes.
Pronto, rapariga, tens a minha vida a nu.
Mário Pinto disse…
Olá Ana,
Quando me refiro à fotografia, refiro-me ao conjunto do artigo, resulta uma bonita fotografia.
Por outra parte, para que o meu último post não resulte, só por si, como único delator da minha tendênia politica, aqui te deixo outro, com mais letras..

http://caparicaredneck.blogspot.com/2008/05/jovem-parece-ser-que-ainda-misturas.html

Cumprimentos.
Anónimo disse…
A rádio foi uma descoberta fantástica.
Durante a 2ª Guerra mundial via o meu avô correr para a mercearia do lado a certas horas, para ouvir se os Aliados já tinham dado cabo do "boches"...
Tempos velhos mas já promissores. A TV seguiria pouco depois e não muito longe apareceria a NET.
Este de agora poderia ser um admirável Mundo Novo se os HOMENS pudessem!
Anónimo disse…
Ola,

para mim falta ai um programa que até aos dias de hoje ainda resiste, "Oceano Pacifico". Foi ao som dele, nas noites passadas na Lagoa de Albufeira, na ilha da Armona e outros tantos locais, que muitas estorias se contaram, muitos olhares se trocaram muitos corpos se cruzaram, promessas e juras para quase uma vida. Maz tb foi a companhia noutros momentos bem dificieis passados por esse grupo de praia. Enfim, dias da rádio. Os teus filhos ainda sabem que existe rádio?????

bjs

jjay
Ana Camarra disse…
Eric – De facto esqueci-me de todo o capítulo das Rádio Piratas, ainda estive envolvida em dois projectos.
Que grande lacuna.
Pois eu rádio agora é no carro e no trabalho. (ainda bem que sabes cozinhar)
E pezinho do menino?

beijoca
Ana Camarra disse…
Crn – Já lá fui, já comentei, já percebi,

um abraço grande camarada
Ana Camarra disse…
Zecca gallo – As tuas recordações vão bem mais longe que as minhas.
De facto se todos quisessem este mundo poderia ser bem diferente.

beijocas
Ana Camarra disse…
Jjay

Como sabes a minha onda não era a Lagoa de Albufeira nem a ilha Armona, era mais a Arrábida, Porto Covo e a Ilha do Pessegueiro, o resto era tal e qual.

O oceano por vezes ainda ouço e é sempre bom, foi bom companhia em noites de estudo.

Os meus filhos sabem sim senhor que existe rádio, para além de ouvirem no carro, o mais velho é do Clube de Rádio na Escola onde tem sido responsavél de um sector.

beijocas
Anónimo disse…
Era na rádio que ouvia os "parodiantes de lisboa".

Desligáva-o quando começava assim:"teatro Tide apresenta..."
Anónimo disse…
O "TIDE", a "MARIA"...
Eu lembro-me de todos estes, especialmente depois de nos anos 80 terem surgido as "Piratas", tudo em FM Stéreo, porque antes a rádio era em AM e Móno. Lembro-me do Júlio Isidro ter trazido os Fischer Z (so long) ao Estádio de Alvalade (1982???)...
Mas eu sou um bocadinho (só um bocadinho) mais velho e lembro-me do Serão Para Trabalhadores e do teatro radiofónico com o Canto e Castro, tudo num dos primeiros "transistores" da Phillips (pilipes, como a gente lhes chamava), que o meu velho acabou por pôr no "prego" para pagar contas em atraso...
Puta de vida, tanta porra que um gajo passa, tantas recordações...
Acho que a saudade também mata. Mata lentamente, mas também mata!

Beijinho.
Mac Adame disse…
É, eu também tenho umas certas saudades da rádio tal como era. E, para educação do povo, acho que acabava por ser melhor do que a televisão. Veja-se a demonstração nesta comparação: "foi através da ocupação estratégica da rádio que os Capitães de Abril recrutaram em poucas horas um povo inteiro"; por outro lado, foi através da ocupação estratégica da televisão que o Engenheiro do Choque Tecnoilógico enganou em poucos dias o mesmo povo inteiro. Beijinhos e cuidado com a televisão, desconfia sempre deles.
LuisPVLopes disse…
A saudade, ao contrário do que diz o nosso amigo atever, não acredito que mate, apenas nos faz recuar um pouco e ver como as nossas vidas foram de alguma forma preenchidas, é nessa retrospectiva que a nostalgia nos assalta mas no bom sentido, é que no fundo trata-se das nossas vidas, do nosso passado, daquilo que para o bem e para o mal nos marcou, aí aprendemos a ser homens e mulheres, bem melhores, digo eu!
A rádio é por si uma via de acesso a esses tempos de correria pelas ruas, dos carrinhos de rolamentos, de jogos gerados na nossa infindável imaginação, ricos em ideias, nem sempre felizes, partíamos ou qual Peter Pan para uma terra do nunca e, nunca crescíamos, era isso que sentíamos, aos 14 desejávamos ter 16, aos 16 desejávamos ter 18, aos 18 desejávamos ter 20, o tempo era lento, os planos e projectos que concebíamos para o futuro eram magnânimes, queríamos ter a nossa casa o nosso carro, sempre um bólide, mas ainda faltava tanto, que não nos preocupávamos muito, íamos concebendo projectos e castelos no mais puro dos éteres.
Valeu a pena viver nesses tempos, independentemente de tudo, mesmo dos momentos mais difíceis?
VALEU SIM SENHOR!
Ana Camarra disse…
Salvoconduto – O Patilhas e Ventoinha, não era?

Atever – Não és mais velho és mais crescido. Há hora do romance do Tide era quando tínhamos ordem de soltura para ir brincar para rua, para não incomodar.
Os Fischer Z eram muito maus ainda no outro dia ouvi na rádio e fartei-me de rir.
A saudade é uma dor boa é sinal que por vezes somos felizes e não damos conta

Mac – Ó se desconfio, esses gajos não são de confiança

Sensei – Pois valeu a pena, é claro que valeu, se não, não havia tão gratas recordações

beijocas
Anónimo disse…
Miuda

Ainda estamos na Radio olha que já saiu o Iphone

beijocas

Paulo El niño
Abrenúncio disse…
Bom, bom post!
Foste tocar no meu ponto fraco: RÁDIO!
E que saudades da "velha" rádio.
Lembro-me perfeitamente de todos esses programas que recordas e ainda lhe acrescentaria mais uns, daqueles temáticos com hora marcado e sem a banalidade e a ditadura das playlists de hoje: Meia de Rock (Renascença), O Passageiro da Noite com o Cândido Mota, O Morrison Hotel, O Lança-Chamas e o Som da Frente do António Sérgio, enfim uma carrada deles que marcavam o nosso timing.
Quanto à Febre de Sábado de Manhã, fui àquele embuste de concerto no estádio de Alvalade com os Fisher Z a tocarem em play-back e mais uma série de bandas portuguesas.
Não troco um transistor a pilhas por um plasma, mesmo hoje!
VIVA A RÁDIO!
Saudações eterizadas do Marreta.
Anónimo disse…
Entrei apenas para procurar uma foto bem legal de um rádio, que pretendo ter um dia, destes que tem válvulas mas ainda tocam, mas as recordações vieram. As de meu pai conectando o rádio em um bico de luz na cozinho, único lugar onde havia energia, para ouvir a copa do mundo acho que de 58. Depois das noites mal dormidas, onde de meu quarto escutava o isqueiro acendendo o cigarro e o rádio.
Já moçinha o rádio de pilha ficava ligado em meu quarto para não perder a hora do trabalho, e depois da TV, ele ea companhia só para as noites de insônia na Jovem Pan, Bandeirnates...
Anos depois já casada foi minnha companhia na janela da cozinha, lá houvi as mais alegres e tristes notícias.
E, aos 30 quando me mudei para MG, numa cidade A 1250 metros de altitude as Jovem Pam e Bandeirnates só pegam à noite das 18 às 6 da manhã. Tive ao longo da vida pelos menos uns 30, todos de pilha,grnades com 8 faixas, pequenos com uma, qunado os renovo dou aos vizinhos dos que sobram, daria para fazer um pequeno museu, estou ainda a procura de um pequeno de madeira para admirar todos os dias. Minha filha que mora em Mariana e faz Comunicação na Ufop me disse,mãe aqui no apartamento não tem tv e o computador ainda não chegou, o que eu faço?. Disse-lhe, desce e compra no camelô da esquina uma radinho de pilha que pegue AM e vá se integrando as notícias do Brasil e do Mundo que ainda são mais rápidas que a Internet, e que com um pouco de sorte ainda ouvirás jornalistas como, José paulo de ANdrade, Minton Parrom e vê se aprende alguma coisa de comunicação. Beijos.