Banal


A luz dourada cai em jorros entre as copas dos pinheiros.
No chão deitada sobre a manta velha e áspera deixei cair o jornal com preguiça, ao longe o som dos carros na estrada, aqui o som do estalar dos pinheiros e das pinhas e um adejar de asas entre as ramadas.
O corpo dói com prazer, amachucado pelas ondas do oceano, torturado pelas pequenas lágrimas de sal que ficaram como testemunho, do mergulho gelado da alegria do encontro com o mar salgado e cristalino.
A preguiça coroa o repasto que terminou com o banquete de frutas de Verão, fatias rubras de melancia, como se de feridas se tratassem, figos rebentados pelo calor doce do verão.
A mão que me afaga do ombro à coxa fá-lo de forma distraída, natural.
A manhã de praia foi banal, a praia de sempre de areia de açúcar, de toldos ás riscas, da Serra a espreitar, dos gritos das cigarras no restolho.
O pinhal não é diferente, se nenhuma força do progresso não o transformar em urbanização, continuará, com o seu cheiro a pinho, a caruma a picar os pés descalço e o estalar das árvores.
A tua carícia não é anormal, nem o teu olhar, que já foi de surpresa, porque uma carícia é nova mesmo que igual a todas as outras, porque é sempre única.
Todo é normal, banal, único e irrepetível: o grito das cigarras, o arranhar do sal, o estalar das pinhas, o adejar de asas, os figos rebentados, a carícia indolente, o cheiro a pinho, a luz dourada que cai em jorros.

Comentários

Anónimo disse…
Texto bonito como quase todos que aqui lí.
Continue.

Augusto