pormenor de quadro de Marc Chagall |
Há preocupações cá atrás de
coisas maiores, mais pequenas, mas há a amiga de sempre e os amores-perfeitos
nas ruas, e há uma música que paira dessa minha teimosia de o acordar, e umas
contas de sumir, há um arranjo na escala, para conseguir fazer outra coisa, há
a conversa e o riso fácil, o sol que aparece de vez em quando sobre as nuvens,
e aquela música lá atrás, as contas de sumir, a minha teimosia em amar as
árvores, as raízes, o tronco, a casca, as folhas, as flores, eu à espera de uma
coisa, à procura de outra e a encontrar o que não procurei.
“Esta paisagem ainda não foi inaugurada.
Tudo é novo como no primeiro dia.
Dei o teu nome a uma das ilhas.”
José Eduardo Agualusa
“Nação crioula”
Dou conta que há em mim uma paisagem que inauguro, como se fosse um
filme, que tivesse um disco, que fosse um livro, mas que fosse táctil, como um
quadro pintado com emoções, tácteis, luminosas, macias.
Dou o meu nome a essa paisagem e guardo ilhas por nomear.
Um chão chamado asa, um desejo chamado esperança, um sorriso chamado
rosto, uma casa chamada barco, um galopar de calma, um rio de alegria, um
abraço de cor.
Uma paisagem a despontar.
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