Sem filtros, sem pensar em que tecla tenho de tocar, sem parar para desenhar letras de palavras que se tornam menos espontâneas por terem esse compasso de espera, sem premir o ouvido a um qualquer dispositivo, sem ficar frente a frente a ver-te num ecrã com a voz retorcida numas colunas, uma imagem plana, onde não se sente a respiração, o cheiro, o brilho do olhar, essas coisas que comunicam também, falar só, simplesmente, com as palavras saídas do âmago, da vontade, da emoção, ou doutro sitio qualquer que pode ser o coração, não o motor que bombeia o sangue, porque somos muito racionais para isso e sabemos que o coração nada guarda apenas bombeia sangue, todo o dia, toda a noite, todo o dia e toda a noite outra vez, num ritmo surdo, sem a minha voz ser transportada por satélites e torres de sinais estranhos que nunca percebi, onde por vezes ouço.
Apetecia-me falar com calma e vagar, sem horas de chegada e partida, sem cronómetros, uma conversa com silêncios pelo meio, um projecto, uma recordação, o constatar de um pássaro mais veloz, a subida de um cheiro de maresia, uma gargalhada, também, um tecto de abóbada azul escuro, da cor da tinta das canetas permanentes, como um pano rasgado cheio de pequenos furos, de uso, de desgaste, onde brilham picos, parecem, pequenos mas não são, são estrelas, com a lua pendurada...
Apetecia-me falar com calma e vagar, sem horas de chegada e partida, sem cronómetros, uma conversa com silêncios pelo meio, um projecto, uma recordação, o constatar de um pássaro mais veloz, a subida de um cheiro de maresia, uma gargalhada, também, um tecto de abóbada azul escuro, da cor da tinta das canetas permanentes, como um pano rasgado cheio de pequenos furos, de uso, de desgaste, onde brilham picos, parecem, pequenos mas não são, são estrelas, com a lua pendurada...
Assim só conversar…
Comentários
"tb numa dimensão diferente..."
Um beijo.
como diz o fernando samuel: falar apenas.
abraço deste vale.
È soberba esta tua escrita.
Conversar às vezes, às vezes muitas... é difícil.
Tem que se conversar primeiro, para depois conversar...
Beijos,
Zorze