Como tenho muito frio só me consigo lembrar das tardes de calor em que um vestido leve e uns chinelos são incomodativos como botas e sobretudo, consigo fechar os olhos lembrar-me de uma qualquer música meio tropical, da sensação da areia da praia a escaldar os pés, da necessidade de entrar no oceano muitas vezes, os gritos das cigarras, quase a ensurdecer, o cheiro dos figos maduros de dia e das flores abertas dos jasmins na noite, o dormir inquieto sem roupa vestida ou lençol por cima, porque de facto tenho muito frio, acho que funciono a energia solar/térmica e nesta altura do ano começo a perder reservas, devia de hibernar como os ursos e as tartarugas, mas isso é improvável porque durmo pouco, acordo sempre à mesma hora como se tivesse engolido um despertador à nascença e levo a noite inteira a discursar e gesticular, dizem-me, mas tenho de facto muito frio que combato com meias grossas, mantas no sofá, aquecedores ligados, camisolas com pêlo por dentro e outros atavios, canecas e chá e chávenas de café, tenho as mãos e os pés permanente frios, a ponta do nariz gelada como um cão de caça (já pensei em tricotar algo para o nariz), tomo duches a escaldar, escolho espumas de banho e sabonetes que tenham cheiros mais estivais, o creme também é uma mistura de flores e uvas com um leve cheiro a mosto, doce e fresco ao mesmo tempo, tento mentalmente pintar o céu de azul, intensificar o brilho solar, mesmo que seja só dentro e mim, porque fora de mim está tudo gelado, os empregos, os salários, as injustiças sociais cristalizaram como um cristal de gelo imperfeito, o vento uiva zangado, a chuva é gelada, tão gelada como os números diversos que caem em catadupa e eu estou farta desta sombra gelada que se infiltra por todo o lado, aqueço-me entre cafés e chás, mantas e peúgas, recordações de outras coisas que sempre vão aquecendo, uma tarde de Agosto onde depois de uma manhã de praia, o corpo salgado e dorido das ondas, nos abrigámos na sombra de uns pinheiros, sobre as toalhas ainda salgadas, a ouvir o mar lá longe, os miúdos, pequenos a dormir e o rádio do carro a tocar, baixinho para não espantar o sol.
Comentários
Beijo
Imagina os esquimós e o friozinho que deve ser.
Imagina o frou-frouzinho que eles e elas fazem nos seus iglos. Decerto que deve correr uma aragenzita.
Por isso sou da opinião que para o friozinho, um casaquinho de malha nunca é de mais.
No meu caso, no qual corre sangue quente nas veias, é raro ter frio.
A não ser que fosse homeless em New York ou Moscovo e meus pertences cabessem num carrinho de compras e mais não tivesse, morreria congelado numa madrugada qualquer, impediosa e sem conhecer o coração de quem sucumbe.
Vivemos e partilhamos um mundo do caralho.
Beijos,
Zorze
Nada de livro especial, mas apenas porque acho que também a minha amiga aninhas também adora o sol, como os nórdicos.
Amiga estar em casa a ouir bos música e ver lá fora a chuva também tem algum encanto.
Andas tão rabugenta... tens razão, a vida prega-te cada partida,tens um carnaval privativo!
Um "GANDA" beijinho, faltam 4 meses para o Verão
Lagartinha de Alhos Vedros
Um beijo.
Não era mal pensado...
Zorze
Não me consigo imaginar esquimó!
Lagartinha
AINDA faltam 4 meses!
Fernando Samuel
Sorte tua, amigo!
beijo