Não me lembro há quanto tempo, 12 ou 14 anos, talvez, de qualquer das formas múltiplos de dois e há mais de onze, era a quinta-feira antes da Festa, da nossa Festa e havia Bienal de Artes Plásticas. À saída do trabalho o meu pai diz-me com um sorriso maroto: O Virgílio precisa de te pedir uma coisa!
Fiquei de sobreaviso, o Virgílio, amigo de sempre da família, responsável de múltiplas coisas no PCP, conseguia levar-me sempre à certa, tinha uma simpatia enorme por aquele homem, de sorriso franco, com que sempre me relacionei desde que me lembro, calmo, simpático, paciente, meigo, inteligente, a manchar tudo isso, ou talvez não, só a sua gaguez, que lhe conferia até um toque de timidez que levava quem não o conhecia a subestima-lo.
O Virgílio lá me ligou: Aninhas preciso de ti! - Isto mais arrastado, estava a cravar-me e a gaguez acaba por se agudizar, era para ajudar a montar a Bienal que estava com um atraso, ainda refilei “Ó Virgílio tenho os miúdos pequenos e hoje é quinta-feira, agora é que se lembram?!”
Mas não resisti e depois de jantar dirigi-me ao ponto de encontro onde o Virgílio num carro e outro amigo de infância noutro recolheram cerca de oito pessoas, incluindo eu, amigos e camaradas, todos com a particularidade de estarem habituados a montar exposições, pelo caminho refilávamos meio a brincar, cada qual munido com pequenas ferramentas que levávamos: fitas métricas, níveis, caixinhas com múltiplas coisas desde pioneses a lápis.
Fiquei de sobreaviso, o Virgílio, amigo de sempre da família, responsável de múltiplas coisas no PCP, conseguia levar-me sempre à certa, tinha uma simpatia enorme por aquele homem, de sorriso franco, com que sempre me relacionei desde que me lembro, calmo, simpático, paciente, meigo, inteligente, a manchar tudo isso, ou talvez não, só a sua gaguez, que lhe conferia até um toque de timidez que levava quem não o conhecia a subestima-lo.
O Virgílio lá me ligou: Aninhas preciso de ti! - Isto mais arrastado, estava a cravar-me e a gaguez acaba por se agudizar, era para ajudar a montar a Bienal que estava com um atraso, ainda refilei “Ó Virgílio tenho os miúdos pequenos e hoje é quinta-feira, agora é que se lembram?!”
Mas não resisti e depois de jantar dirigi-me ao ponto de encontro onde o Virgílio num carro e outro amigo de infância noutro recolheram cerca de oito pessoas, incluindo eu, amigos e camaradas, todos com a particularidade de estarem habituados a montar exposições, pelo caminho refilávamos meio a brincar, cada qual munido com pequenas ferramentas que levávamos: fitas métricas, níveis, caixinhas com múltiplas coisas desde pioneses a lápis.
O Virgílio chamou-nos “Força de Intervenção”, nem imaginávamos quanto, chegados ao recinto, menos de vinte e quatro horas da inauguração, o pavilhão da Bienal exibia só um tímido esqueleto, faltavam-lhe as paredes, a intervenção que teríamos de fazer!
Insultámos o Virgílio que sorria e apelava à nossa boa vontade, o certo é que carregámos, montámos, pintámos, pendurámos obras de arte e dispusemos esculturas, segundo o esquema, era madrugada e faltava só os arrebiques, as plantas, etiquetas, pormenores desses, a tarefa mais importante estava cumprida, regressámos, parámos para comer um hambúrguer e confraternizámos sempre refilando com “o sacana do Virgílio”, alguns de nós não se encontravam há anos, houve gargalhadas e anedotas, o sorriso de uma missão cumprida. Voltámos para casa, uns para um banho e um passar pelo sono para voltar à Festa, eu para um duche, um encosto, despachar duas crianças para a escola e um dia de trabalho, antes da Festa.
Sempre gostei da Bienal de Artes Plásticas, naquele ano senti um orgulho maior, mostrei ao meu companheiro o que me tinha tirado de casa toda a noite, sentia cada elogio que ouvia dos visitantes como uma coisa pessoal.
Ainda hoje falamos daquela noite, nós os da Força de Intervenção, sempre que qualquer coisa nos recorda o Virgílio ou a Bienal, com o carinho dos bons momentos.
O Virgílio já morreu, cedo demais, de uma doença longa, prolongada, sofredora, daquelas que ninguém merece e que me tem retirado os mais queridos familiares e amigos. Lembro-me muito dele, do seu sorriso da sua inteligência, embora o seu sorriso o veja nas filhas, muitas vezes, felizmente.
(Publicado em simultaneo no blogue colectivo Cheira-me a Revolução)
Comentários
Não digo nada, talvez somente obrigado "Força de Intervenção".
Só uma pergunta:
O catálogo da Bienal é a cores ou a preto e branco (que também são cores)?
Um abraço grande .....para abraçar toda a Festa.
Abreijos.
Na bienal costumo sentar-me num banquinho em frente aos quadros e fico a ver o máximo de tempo que posso.
Infelizmente não deu até hoje para comprar, quem sabe um dia quando não houver crise também para mim?!( ando em crise desde sempre)
Obrigada por teres mostrado o meu pintor preferido
Um abracinho
Lagartinha de Alhos Vedros
Amanhã lá na festa
Não foi necessária a "Força de Intervenção". Correu-nos bem, tão bem, que não resisti em contactar os meus amigos/Camaradas.
Simplesmente, lindo.
Como milhões de histórias de vidas.
Mas contadas por ti ganham outro relevo.
Beijos,
Zorze
Lá estarei, apesar da festa de aniversário do Rochedo.
Beijos
Um beijo.
Abraço recebido, soube bem!
Salvo
uma força motriz!
Lagartinha
Pintei tantos murais desenhados por ele na Ajuda.
Zorze
E estavas comigo quando tornei a rever o sorriso do Virgilio este ano!
Samuel
A Festa é assim.
Carlos
Se calhar cruzamo-nos.
Paulo
Porra!
Fernando Samuel
Deixa lá, tu ontem também me fizeste comover.
Beijos