È uma quarta de marmelada se faz favor!
















A belíssima série “Conta-me como foi” transmitida aos domingos á noite na RTP1 teve o mérito de nos fazer relembrar coisas já esquecidas, particularmente as pequenas coisas do dia-a-dia. Hoje existem pormenores que parecem arcaicos, que vão desde a relação aluno professor (o que não haverá para escrever sobre isso), as relações familiares, a hierarquia social, etc..
Neste contexto hoje vou falar das mercearias, estabelecimentos hoje já quase extintos, pelo menos da forma como as conheci na minha infância. Existiam muitas, só na Avenida Alfredo da Silva recordo-me de quatro: o “Bacalhau”, onde hoje existe uma loja de artigos desportivos; o “Real” que era onde hoje se encontra o prédio da Conservatória do Registo Predial; outra um pouco mais a baixo que não me lembro o nome ou a alcunha, mais ou menos junto á loja da Mango (passo a publicidade) e outra na esquina com a Rua Miguel Bombarda onde está instalado o Mac Donalds. Depois existiam dezenas por todo o Barreiro.
A fruta, legumes e peixe eram comprados na praça, a carne nos talhos, a maioria dos produtos de higiene nas Drogarias, o pão era exclusivo das Padarias, tudo o resto era comparado nas mercearias e tudo avulso: grão, feijão, café, farinha, açúcar e arroz, tudo medido com medidas de lata ou madeira e empacotado na hora em pacotes de papel pardo; o bacalhau era cortado com uma faca especial; a marmelada, a manteiga e a banha eram vendidas também avulso e embrulhadas em papel vegetal; também se vendia avulso as bolachas, Maria, Torradas, Belinhas, Baunilha e de Araruta (já não encontro pareciam uns tricórnios).
Quando me mandavam á mercearia comparar uma quarta (250gramas) de marmelada para o lanche, não levava dinheiro, a despesa era apontada num livro e paga de semana a semana.
Das aventuras com as mercearias e os produtos avulso guardo na memória um dia em que a mãe de uma amiga minha a encarregou de fritar carapaus para o jantar, os carapaus ficaram arranjados e só tínhamos de passa-los por farinha e fritar. A farinha estava num pacote de papel pardo debaixo da chaminé, colocámos farinha para um prato e lá passámos os carapaus, quando colocados no óleo os ditos ficavam com aspecto atroz e rijos. Não interessou, cumprimos a tarefa até ao fim para depois descobrirmos que em vez da farinha tínhamos “panado” os carapaus com gesso….
Vicissitudes das embalagens não estarem identificadas.

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