tag:blogger.com,1999:blog-64820894843936364852024-02-08T00:09:14.467+00:00isto tem diasReflexões inconformistas da Ana CamarraAna Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.comBlogger768125tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-62108236924988816612018-07-24T22:07:00.001+01:002018-07-24T22:07:46.540+01:00O homem que voa<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpxTM_kKBCn2kzN_A3FKgH1QdAuwqx-WCae-JmstEuhI4BzLWJvfLTEy-nT_0mJN1oE5AhBTDrvBtdlK-piWSXdGMR9uaKHpXWHPfe0BoG5FZrPawzAb_OhrftprV5ik7lN-BPaEJwcU8n/s1600/Walton+Ford+Birds.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="610" data-original-width="1200" height="324" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpxTM_kKBCn2kzN_A3FKgH1QdAuwqx-WCae-JmstEuhI4BzLWJvfLTEy-nT_0mJN1oE5AhBTDrvBtdlK-piWSXdGMR9uaKHpXWHPfe0BoG5FZrPawzAb_OhrftprV5ik7lN-BPaEJwcU8n/s640/Walton+Ford+Birds.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Quadro de Walton Ford</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Conforme os horários há rostos
que se tornam familiares e rostos eventuais, ao principio eu era um rosto
eventual, e os habituais olhavam de outra forma, agora sei o nome de alguns, a
profissão de outros, conheço algumas das crianças e passei a fazer parte dos
habituais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cumprimentam com bom dia ou boa
tarde, com um sorriso, um aceno por vezes imperceptível, fazem comentários “Foi
à praia! Fica logo queimadinha!”, “A semana passada esteve um tempo muito
estranho, lembra-se de quarta-feira?”, “Esta menina sabe que faz o mesmo
horário!”, “Então as férias? Espero que tenha guardado uns diazinhos porque
isto não é Verão!”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Três paragens antes de eu sair ou
três paragens depois de eu entrar, entra o homem, tem cabelos brancos, rugas,
uma pasta de cabedal réplica das “antigas”, com chuva botas de cowboy, agora
mocassins, uma testa com abertas, os phones, e faz um ligeiro aceno de
reconhecimento, cede sempre o lugar a alguém mais velho, a uma grávida, a
alguém com uma criança ao colo, de resto parece sempre tão absorto pela viagem
como eu, e quando nos deparamos com pequenas coisas, uma fachada de azulejos,
um medalhão noutra fachada, as sardinheiras em flor sorrimos, por vezes
acabamos por tropeçar no sorriso um do outro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Suponho pelo ar geral que era
adolescente ou pelo menos jovem quando nasci, a única vez que se dirigiu a mim
foi por “menina” (sente-se a menina que vai carregada), tem sempre umas camisas
fantásticas!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Acho que reparei quando o vi de
camisa preta que parecia sarapintada de bolas, afinal eram ovnis, estilizados,
brancos, uma azul com penas num padrão branco, fizeram-me passar a reparar a
fantástica coleção de camisas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há essas duas, há uma que podia
ser uma espécie de um V mais aberto, mas decidi que são gaivotas, há uma de
padrão quase oriental, embora de tons discretos, beije e branco, que são nuvens
e aquela espécie de sinal que se desenha quando se quer representar o vento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E há a de hoje, uma camisa
branca, salpicada de colibris coloridos, fixei a camisa, descobri que com os colibris,
convivem sobre o tecidos araras azuis, espantosamente do mesmo tamanho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele continuou a ver o mundo pelo
vidro, com os phones e um murmúrio de acompanhar a música, eu fiquei fascinada
com colibris e araras num padrão invulgar, fui apanhada, devo ter corado como
uma criança que faz asneira, o homem olhou a camisa, talvez a pensar que
tivesse um nódoa, um botão aberto, lançou-me um olhar de espanto, mas o
Gabriel, gritou “piu-pius…piu-pius”, eu sorri e acho que o homem percebeu que o
meu fascínio é igual ao do Gabriel que tem vindo devagar a dizer palavras e que
já tira a chucha para dizer “Olá”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não sei se é empregado de
escritório, professor, contabilista, sei que arruma canções como eu arrumo
palavras, hoje também deu para ouvir o que ouvia, reconheci a voz de um dos
“homens da minha vida” (Peter Gabriel nunca saberá desta paixoneta), e foi um
instante até reconhecer Génesis, versão muito antiga “A Place to call my own”,
“Um lugar que chame meu”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O homem que voa saiu, com
colibris e araras, embalado na música, primeiro disse “Então boa tarde!” eu
respondi “Boa tarde” e ele saiu a voar num adejar de asas ao vento, para um
sítio que chame seu.<o:p></o:p></div>
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=K37YMa3jgSc">https://www.youtube.com/watch?v=K37YMa3jgSc</a><br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-39016890964858383902018-06-03T22:38:00.001+01:002018-06-03T22:38:15.484+01:00Pode ser<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkWl7Mt2oZYxRFTB7beJMQ5uqdth-avm8sF1v4aYMPlolk-VOq7zf7XRMCOubMJxo5oZxU-6r46HiodvqqfnHvSb3eEYRrBFscybjAASI8mtDpOt-nXtZddgR-08zXEasxsgvmaslo-Jst/s1600/Postais+CMatos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="960" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkWl7Mt2oZYxRFTB7beJMQ5uqdth-avm8sF1v4aYMPlolk-VOq7zf7XRMCOubMJxo5oZxU-6r46HiodvqqfnHvSb3eEYRrBFscybjAASI8mtDpOt-nXtZddgR-08zXEasxsgvmaslo-Jst/s640/Postais+CMatos.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não sei se me consegues ler nessa
luz difusa, que quando tudo o que resta são palavras, escritas em papéis que
que não me lembro onde guardei, num sonho demasiado confuso, coisas que não
disse, também já não digo, morrem escritas em sonhos confusos, na areia da maré
baixa, na humidade de um vidro, em conversas solitárias com nó na garganta e em
papéis que não sei onde guardei, se os rasguei, se os coloquei numa garrafa se
os lancei ao vento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não interessa, ficam onde
ficaram, pode ser que sejam descobertas por um arqueólogo emocional, numa
escavação onde alguém procure fragmentos de outras coisas, restos de vidas, de
trapos, de cacos, telhas, fundações, e no fim encontrem assim as palavras que
deixei, sem saberem de quem foram, tomando-as como suas, sem saberem para quem
e quando foram escritas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pode ser que cheguem dentro de
uma garrafa que vá em marés, cheguem a uma costa e sejam abertas, por alguém
que tente traduzir cada letra, cada hesitação, cada desenho feito na margem, pode
ser que um pássaro as encontre e leve a palavras para fazer o ninho, pode ser
que uma planta cresça com as raízes assim alimentadas, por palavras, e floresça
e dê fruto, pode ser que um vento as leve, e caiam onde façam falta como gotas
de chuva em terra seca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não sei se me consegues ler nesta
luz difusa, neste nicho, nesta sombra, não sei se me consegues nesta
tempestade, neste dia ofuscante, neste sorriso guardado, pode ser que consigas…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p> (foto de Carlos Matos)</o:p></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-91634411542226943542018-05-22T21:56:00.002+01:002018-05-22T21:56:23.272+01:00Sei de um ninho<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-e2rtIT9BnPe2Y3o7fgXIjK11w6iS6DebRtrjnMKy6nPD47ppH8KuWVWIOG61a73_JBRyD2kB44SL4SpBnurd2h8TGk8QwK_hNJo6zJQLB7VVR8YDYgfr9d-koMq_ac8jFQuaOl4RH9k_/s1600/pardal+zx.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="514" data-original-width="960" height="342" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-e2rtIT9BnPe2Y3o7fgXIjK11w6iS6DebRtrjnMKy6nPD47ppH8KuWVWIOG61a73_JBRyD2kB44SL4SpBnurd2h8TGk8QwK_hNJo6zJQLB7VVR8YDYgfr9d-koMq_ac8jFQuaOl4RH9k_/s640/pardal+zx.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Adicionar legenda</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal">
“<span style="background: white; color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">Sei um ninho.</span><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif;"><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">E o ninho tem um ovo.</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">E o ovo, redondinho,</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Tem lá dentro um passarinho</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Novo.</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Mas escusam de me atentar:</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Nem o tiro, nem o ensino.</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Quero ser um bom menino</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">E guardar</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Este segredo comigo.</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">E ter depois um amigo</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Que faça o pino</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">A voar...</span>”</span><br />
<br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Miguel Torga<o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">Por vezes vou ou volto no barco “Miguel Torga”,
de tudo o que li do que escreveu este poema vive dentro de mim, simples e cheio
de vida, um segredo de polichinelo, pois os ovos são postos no ninho, de lá
saem passarinhos e adoro pardais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">Ele nem se refere a pardais no poema, mas para
mim sempre foi um pardal, um daqueles que há por todo o lado e que tem aquele
ar mimoso, quase divertido, dos que pousam nos beirais da janelas, nos ramos
dos arbustos e árvores no meio da cidade, que ao fim do dia atordoam com a
sinfonia que fazem nas copas, um daqueles que dão saltinhos na calçada, que
pousam na mesa da esplanada onde o meu tio Eduardo come um biscoito e deixa
migalhas de propósito, depois vem sempre um pardal comer, olhamos um para o
outro e rimos os dois, de repente somos dois miúdos com o segredo de ter um
amigo alado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">Sempre foi um pardal, pequeno mas atrevido, tal
como os miúdos do poema transformado em fado que canta os bandos de pardais à
solta, como se fosse possível, os pardais estarem de outra forma, comparando-os
a crianças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">E por vezes os meus pensamentos são assim como os
pardais, dão voltas no ar, em grupo ou solitários, por vezes pousam, fazem
ninho, e até se reproduzem, estremecem como um pardal caído do ninho que
voltamos a colocar no local, ou com o bater apressado de coração de um pardal
preso numa armadilha e que se segura num instante entre as mãos para deixar
voar, livre, como qualquer pardal deve de ser, qualquer pensamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: black; font-family: "Arial",sans-serif;">E tenho no meu peito, guardado, um ninho de
carinho para pardais e poemas, crianças, até as que já cresceram, ideias, até
as que ainda aprendem a voar e nem sequer sabem ainda assim voando fazer o
pino, porque por vezes a melhor forma de vermos é inverter o mundo e a melhor
forma de nos prendermos a algo é deixar voar sabendo que pousa sempre que
quiser.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-26016237814111225262018-05-11T21:40:00.001+01:002018-05-11T21:40:39.368+01:00Porque esperança é uma saudade ao contrário<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD6KlerOF3un0zOl_fkeLU3dTcVXseAOSfXcfRLfg_mW0Lx_flN5tr6X3skuFx7v8cEbzw7cJVoTNqI1l_Sm8fqwzPewLdwr42TToZHymTHqq4bCb-gf5haRvkVa8b79lVJj0wfqEvhkwQ/s1600/Margem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="960" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD6KlerOF3un0zOl_fkeLU3dTcVXseAOSfXcfRLfg_mW0Lx_flN5tr6X3skuFx7v8cEbzw7cJVoTNqI1l_Sm8fqwzPewLdwr42TToZHymTHqq4bCb-gf5haRvkVa8b79lVJj0wfqEvhkwQ/s640/Margem.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
“<span style="background: white; color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;">Agora eu já sei</span><span style="color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; line-height: 107%;"><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
</span><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Da onda que se ergueu no mar,</span></span><span style="color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; line-height: 107%;"><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
</span><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">E das estrelas que esquecemos de contar.</span></span><span style="color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; line-height: 107%;"><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
</span><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">O amor se deixa surpreender,</span></span><span style="color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; line-height: 107%;"><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
</span><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Enquanto a noite vem nos envolver.</span></span><span style="color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 13.5pt; line-height: 107%;"><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
</span><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">Vou te contar...</span>” Tom Jobim</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Houve alturas que me perguntaram
se sou uma mulher de fé, respondi sempre que não, sou uma mulher de esperança!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Das margens do rio que se
guardam, do seu correr em direção ao mar, há em cada gota a esperança de ser
onda, maré, oceano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em todos os passos que dou há um
caminho, pouco previsível, nem sempre com destino certo, mas o importante é
aproveitar a viagem, continuo a acalentar esperanças, é um pouco como o final
dos dias, um momento suspenso que já não é dia nem ainda é noite, mas é belo,
despede-se uma luz com outra, não pior, só diferente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Portanto acalento esperança, uma espécie
de saudade virada ao contrário, uma margem de um rio que se pode sempre cruzar,
voltar ou partir, seguir rumo ao oceano, ser onda, praia, temporal, sem perder
a sua característica fundamental, mais doce ou mais salgada, a esperança são as
saudades sem lutos, sem recriminações, são folhas em branco, para desenhar um
caminho e desfrutar a viagem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fundamental ter saudades do
futuro.<o:p></o:p></div>
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=KayJhFGD7IA">https://www.youtube.com/watch?v=KayJhFGD7IA</a><br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-24035176406698754972018-05-08T22:11:00.001+01:002018-05-08T22:11:21.260+01:00Bom Dia, pois!<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgoslcXf77esOL96AQC2NxcG9k9NkMNDfRPXsbh0eDCRM6qcgHKThC40RUMUNNKooKiSVWz_kFNP7k24_wBysUaaKEndbAlgINmXhOtraQrj6pfHWFU4Bri6psQNL9dQxIJrbg0f1Hjy0d/s1600/cadeira+CMatos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="960" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgoslcXf77esOL96AQC2NxcG9k9NkMNDfRPXsbh0eDCRM6qcgHKThC40RUMUNNKooKiSVWz_kFNP7k24_wBysUaaKEndbAlgINmXhOtraQrj6pfHWFU4Bri6psQNL9dQxIJrbg0f1Hjy0d/s640/cadeira+CMatos.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto Carlos Matos</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Começa de manhã, encontra-se um
jovem, com a idade do filho, ele cumprimenta, até convida para fumarmos um
cigarro os dois, ali no cais, passam conhecidos, há a troca de cumprimentos,
conversamos sobe a politica internacional, entramos no barco, passamos para
outras coisas, com um café pelo meio, parcerias publico privadas, o domínio dos
media, o Macartismo, recomendo uns filmes, por fim dou conta que temos uma
assistência atenta, quando nos separamos é com um sorriso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No metro encontro alguém amigo,
não sabe muito bem onde fica o local para onde precisa de ir, dou indicações e
dou por mim divertida por em tão pouco tempo já desembaraçar linhas de Metro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na paragem há caras conhecidas
daquela hora, falta a senhora já com uma certa idade mas um ar motard, que não
respeita a ordem de chegada à paragem, apenas e só quando está a outra senhora
com ar de professora primária antiga, que comenta em voz alta as roupas dos
turistas, os hábitos dos jovens, a saudades de certas coisas, perante os acenos
de um marido que eu tenho a sensação que se não é mudo, sofreu uma mutação
genética e tem pálpebras nos ouvidos e a espaços regulares limita-se a fazer os
acenos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A motard desrespeita a ordem
deliberadamente, só se a outra estiver, com um sorriso cúmplice para mim, e
levamos todos com a ladainha da educação e boas maneiras, hoje nem uma nem
outra!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O percurso é do costume e como de
costume passamos junto ao cemitério britânico, de altos muros, portões e o
brasão no topo, nunca consigo deixar de pensar que talvez a terra tenha sido
importada da Grã-Bretanha e talvez em noite de lua cheia os mortos bebam chá e
joguem bridge a comer scones fantasmas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há a paragem, a loja de mercearia
gourmet com latas de sardinhas a preços alucinantes, a primeira drogaria, com alumínios
e vassouras penduradas na porta e as montras com desodorizante Lander, creme
Tokalon e outras preciosidades, a empregada sorri sempre, logo a seguir há loja
de roupa de cerimónia onde se entra por marcação, seguida de outra drogaria que
junta ao rol solarina coração e pomada calicida São João, depois as especiarias
a granel, de onde vem um cheiro de sementes e viagens, a loja de roupa para
bébés, que pelos preços, deve ser só para crianças que os pais se tenham casado
com roupas da outra loja, segue-se outra drogaria, com tudo igual às outras mas
gerida por um indiano ou paquistanês afável, que sorri sempre e diz “Bom DIA!”,
o agente da Policia que guarda a joalharia também dá um aceno de cabeça,
segue-se a frutaria, o restaurante onde já se escuta barulho, a pastelaria com
as mesmas pessoas na esplanada independentemente da hora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chego a pensar que estão colados
às cadeiras e que são recolhidos à noitinha para estarem lá no dia seguinte,
como os manequins das lojas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Faltam poucos passos, a loja de
roupa interior, batas, cuecas de “gola alta” na esquina oposta à da lingerie da
moda, os sapatos de criança e pronto, entre noutro local cheio de gente onde há
colegas que sorriem, cumprimentam e clientes que murmuram “Bom dia!”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Bom Dia, pois!<o:p></o:p></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-28587403655723043882018-05-06T21:39:00.005+01:002018-05-06T21:39:49.928+01:00“E pur si mouve!”<br />
<div class="MsoNormal">
“E pur si mouve!” Galileu Galilei<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiPY6K0TEFrYgcUWVUl5U5dfIAwkwYinVKuI0nOvpe9GqhHV5L6cfBJ3FsR2RRsN17gFl1tbEa3-2PAd85b2V6vGiJUI_bglIlOoQg1Obx6KE7M6O37asDu4vNmZ6YCH1yzO68omn06F5T/s1600/Flor+Tata.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="640" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiPY6K0TEFrYgcUWVUl5U5dfIAwkwYinVKuI0nOvpe9GqhHV5L6cfBJ3FsR2RRsN17gFl1tbEa3-2PAd85b2V6vGiJUI_bglIlOoQg1Obx6KE7M6O37asDu4vNmZ6YCH1yzO68omn06F5T/s400/Flor+Tata.jpg" width="266" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As voltas da vida é sempre algo
que ouvimos e nem sempre percebemos bem, até porque só quando ficamos mais ou
menos responsáveis pelos nossos movimentos, sem rede é que damos por isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nessas voltas é normal, mas só
passando pela experiência, ver a forma como os outros agem, ou a forma como nos
passam a tratar, ou ainda a forma como tentam trocar-nos as voltas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De repente dizem-te coisas
estranhas, mandam recados enviusados, reaparecem pessoas que tacitamente tinham
desaparecido, aparecem de mansinho como se nada fosse, claro, com casualidade
de acharem que tens um fusível queimado, comes gelados com a testa ou
simplesmente és de uma ingenuidade a rasar a estupidez!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mentalmente passam várias
hipóteses: usar o vernáculo puro e duro, o humor, o desprezo ou nem por isso…Opto
pelo nem por isso!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Usar o vernáculo é descer o nível,
o humor pode escapar-lhes, o desprezo é daquelas cenas que pode descambar para
a frontalidade de eu me assumir como um bicho bravo numa loja de cristais!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Passo em frente, faz parte das
voltas da vida!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porque por muito que cada um se
ache o centro do mundo, até do universo, que a terra é o pedaço de chão em seu
redor perfeitamente delimitado, afinal não é assim, a Terra é redonda, como tal
a demarcação de inicio ou fim é subjectivo, somos mesmo insignificantes e
move-se sozinha!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dá voltas em torno do Sol e em
redor de si mesma, são voltas da vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Das voltas da minha vida decidi
que não seriam de carrossel em que o Movimento nos impele a passar no mesmo local
várias vezes, sem de facto ir a lugar nenhum por muito que dê voltas!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sigo o caminho escolhido, de
acordo com o meu passo, conforme as opções que tenho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pelo caminho, sigo o rebentar das
folhas, a floração das árvores, o voo de um pássaro, o rebentar das ondas, as
gargalhadas, os cheiros, os pequenos e grandes prazeres, mais ou menos egoístas,
dou de mim o que quero, quando, como e onde eu escolho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O resto é isso, resto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-17010860327934369242018-05-03T22:15:00.000+01:002018-05-03T22:15:31.045+01:00O Rio da minha vida<br />
<div style="background: #F0F0F0; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; vertical-align: baseline;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt;"><i>O Tejo é
mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,<br />
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia<br />
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: #F0F0F0; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; orphans: 2; outline: 0px; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; vertical-align: baseline; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt;"><i>O
Tejo tem grandes navios<br />
E navega nele ainda,<br />
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,<br />
</i></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi305L1FV_4I0kXcs03jRMx3NKyUdcy46FYxDb89UGJIVpxgzKEGUx0LDlcG_45HP5huTwJ1ERelEfLpT-76JFaAprpSSu_Ma8a7a5KJXQkp6u35m5UR6w5QPqt5b2BXZ77TjqSjUD-ipPH/s1600/IMG_20180502_202143.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi305L1FV_4I0kXcs03jRMx3NKyUdcy46FYxDb89UGJIVpxgzKEGUx0LDlcG_45HP5huTwJ1ERelEfLpT-76JFaAprpSSu_Ma8a7a5KJXQkp6u35m5UR6w5QPqt5b2BXZ77TjqSjUD-ipPH/s320/IMG_20180502_202143.jpg" width="320" /></a></i></div>
<i>A memória das naus.<o:p></o:p></i><br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: #F0F0F0; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; orphans: 2; outline: 0px; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; vertical-align: baseline; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt;"><i>O
Tejo desce de Espanha<br />
E o Tejo entra no mar em Portugal.<br />
Toda a gente sabe isso.<br />
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia<br />
E para onde ele vai<br />
E donde ele vem.<br />
E por isso, porque pertence a menos gente,<br />
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: #F0F0F0; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; orphans: 2; outline: 0px; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; vertical-align: baseline; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt;"><i>Pelo
Tejo vai-se para o mundo.<br />
Para além do Tejo há a América<br />
E a fortuna daqueles que a encontram.<br />
Ninguém nunca pensou no que há para além<br />
Do rio da minha aldeia.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: #F0F0F0; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 15.0pt; orphans: 2; outline: 0px; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; vertical-align: baseline; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt;"><i>O
rio da minha aldeia não faz pensar em nada.<br />
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.<o:p></o:p></i></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: #F0F0F0; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; orphans: 2; outline: 0px; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; vertical-align: baseline; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<br /></div>
<div style="background: #F0F0F0; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; vertical-align: baseline;">
<strong><span style="border: none windowtext 1.0pt; color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;"><i>Alberto Caeiro</i></span></strong><span style="color: black; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E o Tejo será sempre o rio da minha vida, que me perdoe o
poeta, faz-me falta a sua imensidão se não o vejo, certa que há maiores e até
já os vi.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Certa que não é mar, só apenas um dos que para lá correm,
tem consigo uma brisa Atlântica, que me dá sabor a sal, a coisas felizes, até a
naufrágios, tal como os peixes que no mar vivem e aqui voltam, berço e
morredouro, será sempre o Rio da minha vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Não sei quando tomei essa consciência, posso precisar o
momento, foi no dia em que Rio coube inteiro nos meus olhos, transbordou do meu
peito até ao meu sorriso, e havia coisas bravias a crescer desordenadas entre as
pedras erguidas nas suas margens, pequenos caules, as gaivotas gritavam, e é
claro estava por detrás aquele rumor das marés.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Foi esse o momento exacto, não sei se era dia, noite, manhã
cedo, entardecer, se a lua estava cheia, o céu cheio de nuvens cinzentas ou se
o sol brilhava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nem sei se era assim, ou muito pequena, mal segura numa mão
grande, nem se a maré estava cheia e brilhante ou vazia com um tapeto aveludado
de lodo, algas e pequenas poças, enfeitadas por salgadeiras.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Será sempre o meu Rio, o Tejo, por estes dias é estrada
também, caminho nele a uma hora, entre sono e um ligeiro torpor, vislumbro
moinhos entre vidros sujos, encontro rostos conhecidos, há um cheiro a café, a
pão torrado, cabos molhados, o ranger do passadiço onde todos passamos, olho e
observo como espectadora de um filme onde também entro, atraco num cais que é
fechado, mas onde o rio lambe devagar o casco do barco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Cada barco tem um nome cada um poeta, de versos ou prosas,
poetas, cada gaivota que paira também, é dali que vejo a Cidade, velha e nova,
como camadas, monumental e popular, uma espécie de presépio aninhado entre
colinas feito de peças soltas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Regresso depois, na mesma estrada do rio, o mesmo ranger, os
mesmo poetas embarcados, o cheiro a cervejas, a suor, a sonolência espaçada
entre lugares, até chegar á minha margem, por vezes em gloriosas despedidas de
azul e ouro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O Tejo, não é o rio da minha aldeia, será o Rio da minha
vida e faz pensar em tudo, não só em estar ao pé dele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-5368108596908852282018-04-30T21:21:00.004+01:002018-04-30T21:21:59.290+01:00Maio, o primeiro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3EdzzLwHDR8WO25wnRpSMeKKb2Pmg_miaf4NcUEe2OGAfOBQsQZ31u56-glCPG7vl4qj7J7mfAvHWx3sMZJ7vGV8BjSQRg6g23cN14LSvryPoWdLw_yTWO2pKcjuIdA9a1MgU5UGPvXOE/s1600/papoilas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3EdzzLwHDR8WO25wnRpSMeKKb2Pmg_miaf4NcUEe2OGAfOBQsQZ31u56-glCPG7vl4qj7J7mfAvHWx3sMZJ7vGV8BjSQRg6g23cN14LSvryPoWdLw_yTWO2pKcjuIdA9a1MgU5UGPvXOE/s640/papoilas.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Maio, o primeiro dia, não é um
feriado qualquer, em 1886 cerca de meio milhão de operários da cintura
industrial de Chicago, Estados Unidos da América saiu para as ruas, o que
pediam eram jornadas de trabalho de oito horas, em manifestação pacifica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esta manifestação foi reprimida
brutalmente, resultando na morte e ferimentos graves em muitos dos
manifestantes, cinco dias depois voltaram à rua, o saldo foi de 8 lideres
presos, 4 executados e ente os presos, 3 condenados a prisão perpetua…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O movimento operário
internacional foi de tal ordem, que os julgamentos foram repetidos, com novos júris
e foi reconhecida a inocência dos trabalhadores e condenado o próprio estado
pela repressão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 1889 o Congresso Operário Internacional
reunido em Paris, declarou o Dia como Dia do trabalhador, no ano seguinte, os
Estados Unidos da América fixaram 8 horas, como o horário de trabalho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Até nos podemos perguntar se
valeu a pena? Valeu!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se ninguém se tivesse mexido ninguém
teria esta consciência!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não foi por acaso que por cá,
Portugal, o dia começou a ser festejado como tal em 1890, regra geral com
picnics de confraternização e romagem a campas de operários mortos a defender
todos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com o fim da Monarquia foi
ganhando estatuto de Festa de rua, desfile, celebração e afirmação e apesar de
ser proibido pelo Estado novo, havia sempre forma de dar a volta à coisa e
assinalar o dia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 1962, a coisa tomou outras
proporções, manifestações: pescadores, telefonistas, operários da Carris, da
Cuf e bancários. Cem mil pessoas em Lisboa, vinte mil no Porto e cinco mil em Setúbal,
brutalmente reprimidos e é claro iniciou-se aí um enorme movimento de
trabalhadores rurais assalariados, com principal incidência no Alentejo, onde
cerca de duzentos mil iniciaram uma greve que impôs ao regime, a jornada de
oito horas de trabalho!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Podia ser feriado por Mozart ter
estreado as Bodas de Figaro ou ser também a data da abolição da escravatura na
Colónias Inglesas, mas não, foi um dia escrito por milhares que acharam que
passo a passo podiam mudar o mundo, e mudaram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por cá inesquecível o primeiro de
Maio de 1974, onde todos se juntaram livremente, toldados pela emoção a
festejar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Amanhã festejo, apesar de
existirem muitos jovens que lhes é imposto muito mais que 8 horas de trabalho
diário a troco de quase nada, apesar de em muitas ocasiões trabalhar muito mais
que oito horas num dia, apesar de existirem muitos lugares no mundo onde estas
coisas são impensáveis, de existirem muitos que acham que este feriado é por
causa de qualquer coisa que nem é com eles ou uma oportunidade de umas mini
férias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Amanhã festejo, na Alameda, entre
crianças e velhos, conhecidos e desconhecidos, a passar pelas janelas de onde
atiram cravos rubros, festejo pelos que antes de mim quiseram mudar o mundo
assim passo a passo na esperança de deixar um mundo melhor com os meus passos e
a certeza de que parados não se chega lá!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=gbcQt_f1DK0">https://www.youtube.com/watch?v=gbcQt_f1DK0</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-39463793160392183692018-04-25T23:10:00.001+01:002018-04-25T23:10:40.715+01:00Cravos<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMvXy6zHt0kbsi3xdI-MtaE4jwXGi7Dn7XCrgI5-NDzl4GrpB_LW2mdGg2G6uR26jpqbGlDrz8H6IIRd6YvL0ArnrCv2zc6gQ8B5-0y9yeQ5cy6ogTy4nv_Mjv_EO2yNABsKrBa_2fgcYe/s1600/cravo+Anabela.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="960" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMvXy6zHt0kbsi3xdI-MtaE4jwXGi7Dn7XCrgI5-NDzl4GrpB_LW2mdGg2G6uR26jpqbGlDrz8H6IIRd6YvL0ArnrCv2zc6gQ8B5-0y9yeQ5cy6ogTy4nv_Mjv_EO2yNABsKrBa_2fgcYe/s640/cravo+Anabela.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: #FFF6E5; color: #333333;">Do rio que tudo arrasta,
diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.</span></i>”
Bertold Brecht<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os cravos são um símbolo,
aconteceram, o resto não aconteceu por acaso, foram décadas e gerações
comprimidas, séculos, no meu universo familiar há histórias, muitas, de
miséria, de crianças que nunca tiveram direito à infância, de gente que se teve
de calar, de mini revoluções que iam mudando pequenas coisas, pequeninas, mas
era um passo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foram gerações de escravos com
outro nome.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De soldados em guerras que não
escolheram, de peões em jogos, até à exaustão, de cada tortura, cada censura,
cada degredo, cada soldado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Lembro-me de fragmentos: as
músicas que aprendia em picnics, com frequência selecionada com o aviso para as
nunca cantar, em pessoas que passam a noite lá em casa entravam no escuro para
sair de madrugada, com outra roupa, da PIDE bater de madrugada à porta e entrar
no quarto onde eu estava e revirar tudo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De pessoas, amigos, pais de
amigos, que estavam presos, de retratos enormes de soldados em casas
eternamente de luto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O que foi plantado naquela
madrugada foi uma semente, dela nasceu um cravo rubro como símbolo, mas as
sementes saem de outras plantas, mesmo na sua morte, mesmo no seu amago e cada
semente plantada precisa de várias coisas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Houve calor, houve alegria, até
floração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Murchou, murcharam-na, mas deixou
sementes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Continuam a existir escravos com
outro nome, mas deu-se um passo, pequeno talvez, e hoje sabem que são escravos
e esse é passo fundamental para se libertar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Continuam a existir primazias, desigualdades,
castas e jogadores que jogam com a vida alheia, que condicionam, apertam e
comprimem. Mas agora até o sabemos, dizemos, é o primeiro passo, pequeno e
gigante para mudar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Continuam a existir censuras, e
até continuam a querer formatar o que pensamos, queremos gostamos, mas hoje até
sabemos se quisermos e podemos dizer, gritar e escolher.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje celebrei pequenas coisas, um
abraço colectivo, a alegria de alguns me reverem, a quase vergonha de outros em
encararem comigo, os que viraram a cara para outro ponto, os que nunca apareciam
e hoje de repente lembraram-se que Abril se festeja, os ausentes, por acaso não
tive cravo, eram poucos pelos vistos, almocei num almoço tradicional, conversei
e no fim ao sair estava um cravo misturado com lixo numa floreira:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Isto assim não cresce!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porra, não cresce, é de plástico!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Valu, até os cravos são
artificiais…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Anocas, deixa, não cresce mas não
murcha!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM4svZYqObk-K_zra6qJcWcdtT9Oe76odlIOOkkFPLENLmTJZrZaBHOUtSl0taILd_yES9nW25ErKVAgDBcWOdI30DkjqDfRbu-yIKupO0RMTeZ_q4HpV9hj21l-QqiY927-pHsaKaDJFK/s1600/Eu+Filipe.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM4svZYqObk-K_zra6qJcWcdtT9Oe76odlIOOkkFPLENLmTJZrZaBHOUtSl0taILd_yES9nW25ErKVAgDBcWOdI30DkjqDfRbu-yIKupO0RMTeZ_q4HpV9hj21l-QqiY927-pHsaKaDJFK/s320/Eu+Filipe.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Quando eu finalmente eu quis saber <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Se ainda vale a pena tanto crer <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Eu olhei para ti <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Então eu entendi <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">É um lindo sonho para viver <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Quando toda a gente assim quiser <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">….<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">E sempre que Abril aqui passar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Dou-lhe este farnel para
o ajudar <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Eu vim de longe De muito longe <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">O que eu andei pra aqui chegar <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Eu vou p'ra longe <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">P'ra muito longe <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Onde nos vamos encontrar <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #555555; font-family: "Lucida Sans Unicode",sans-serif;">Com o que temos pra nos dar</span>” José Mário Branco<o:p></o:p></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-24603342081152870122018-04-21T22:23:00.003+01:002018-04-21T22:23:28.382+01:00Precisas<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE8_F7GiCmznz6mDAY9eeAy7-OrNekHTrIVfG2T6LgPAgvQa37Q7wIGAPXTPW49mL-EnEPS-8tiVmxexAE9d3LPwNy5oeBNKKITi8yy0_0uj-YzfAfIpntSfnmUnvPFZI3a4u3VqxHbWXQ/s1600/Gotas+Armando.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="692" data-original-width="960" height="460" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE8_F7GiCmznz6mDAY9eeAy7-OrNekHTrIVfG2T6LgPAgvQa37Q7wIGAPXTPW49mL-EnEPS-8tiVmxexAE9d3LPwNy5oeBNKKITi8yy0_0uj-YzfAfIpntSfnmUnvPFZI3a4u3VqxHbWXQ/s640/Gotas+Armando.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Devem ser precisas tantas gotas para fazer um mar, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Quase quantas como estrelas para uma galáxia, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Quase tantas como poros na pele para respirar, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Quase tantas como sorrisos para ser feliz<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Segundos para uma vida<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sementes para uma primavera.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Devem ser precisas tantas notas de música para fazer a nossa
sinfonia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Quase tantas como todas as letras são necessárias<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Para escrever a nossa história<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Devem ser precisas as coisas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Assim de improviso como uma ideia que se junta a outra<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Dois olhares que se cruzam a sorrir<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Coincidências, para acharmos que afinal não o são<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Tudo matemático, preciso<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Como as gotas de um mar, as palavras de uma história que
ainda não se acabou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sementes, letras, ideias, sorrisos, pele, filamentos de asa,
para poder voar!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
(foto de Armando Silva)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-82864323860374854072018-04-18T22:15:00.004+01:002018-04-18T22:15:58.110+01:00Nunca é tarde para cheirar a Primavera.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0eOm56Dw002X6KWFAtpihyphenhyphenYrmOYLiInbjoOMvz7KeNrRj5RmFrJbpR-g55JUuVJgjwxHFpJAuBjgxGdA8_lJkIgFNL5ayA4DdKOXB5zlVsIbrLFAL5jQGKLBMSe6q4oDDxN82MkceLKf3/s1600/escada+BB+%25282%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="683" data-original-width="701" height="620" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0eOm56Dw002X6KWFAtpihyphenhyphenYrmOYLiInbjoOMvz7KeNrRj5RmFrJbpR-g55JUuVJgjwxHFpJAuBjgxGdA8_lJkIgFNL5ayA4DdKOXB5zlVsIbrLFAL5jQGKLBMSe6q4oDDxN82MkceLKf3/s640/escada+BB+%25282%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pronto e finalmente hoje cheirou
a Primavera e mesmo que num dia qualquer a seguir chova outra vez, hoje já
cheirou a Primavera e o casaco essencial de manhã tornou-se em mais uma coisa
extra a transportar no saco, o barco que se atrasou foi apenas para ganhar
tempo para respirar e afinal encontrar alguém amigo que se calhar nem estava
ali por acaso para me indicar como fazer um percurso diferente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se calhar ter ido com muita
antecedência foi só para ter tempo de admirar fachadas de azulejo e mansardas
nos telhados, para beber um café solitário com calma, para ver os cachos de
lilases.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Talvez ter ido ali parar, não
tenha sido uma coincidência, porque afinal descobri outras coisas, e bebi outro
café solitário, mas servido com simpatia, num jardim secreto onde caem estames
de flores de laranjeira no meu cabelo, onde o céu é azul, onde arrumo umas
ideias para as coisas que me esperam, e quando as flores se transformarem em
fruto, as ideias em concretizações e as arrume num caixote, haverá sempre o
momento mágico de um jardim secreto onde sosseguei debaixo de uma chuva doce de
estames de flores de laranjeira, perfumados, a cheirar a Primavera.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje cheirou a Primavera, e eu
senti que quase tudo é possível, ainda que o menos provável possível, que os
inesperados são coisas boas, que descer numa paragem diferente permite ver a
maré cheia de gente e de sol, encontrar um amigo, abraçar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O cheiro da Primavera, ainda que
chova, já ficou nas telhas vermelhas, nos azulejos pintados das fachadas, nas
ideias que me ajudaram a crescer e montar outra coisa, dar outro passo, no
abraço com sol e carinho, na antecedência inequívoca que nunca é tarde.<o:p></o:p></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-31500857055522313762018-04-16T22:51:00.000+01:002018-04-16T22:51:38.148+01:00Coisas pequeninas e janelas para nunca fechar<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSqRaBFwpKme05ODV2Da2gDyXoJ2OVi-q1iImy21o_mH3fLZNQENWGy6xgFODhT4MTxCH3t72UKPSSwADUgqBW8L0B6HSwWDK_5dhadtwZJU6Xz2Da5JXmbKiNv6ekhHT77hH5cYPTJZdI/s1600/Entre+luz+CMatos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="960" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSqRaBFwpKme05ODV2Da2gDyXoJ2OVi-q1iImy21o_mH3fLZNQENWGy6xgFODhT4MTxCH3t72UKPSSwADUgqBW8L0B6HSwWDK_5dhadtwZJU6Xz2Da5JXmbKiNv6ekhHT77hH5cYPTJZdI/s640/Entre+luz+CMatos.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Adicionar legenda</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Coisas pequeninas: gravatinhas, pedras
como cascatas, casacos, raios de sol, árvores, palavras bonitas, ideias, nuvens
em forma de bichos, boas ideias, sorrisos, pedacinhos de arco iris, caixas de
cartão, lã colorida, gravatinhas, beijos de nuvem, húmidos a cheirar a maresia…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um livro feito num mundo e um
mundo feito num livro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um mundo feito de livros,
portanto de viagens, cores, cheiros, lágrimas, teorias, soluções práticas,
ficção, gargalhadas, coisas uteis, humor e amor, um mundo feito de amor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porque para juntar letras,
juntou-se coisas, experiências, ideias, provou-se sal e água, noite e dia, doce
e amargo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Portanto mergulhei num livro,
fala assim de aprender a voar, com coisas pequeninas como gravatinhas, pedras
como cascatas, casacos, raios de sol, árvores, palavras bonitas, ideias, nuvens
em forma de bichos, boas ideias, sorrisos, pedacinhos de arco iris, caixas de
cartão, lã colorida, gravatinhas, beijos de nuvem, húmidos a cheirar a maresia,
guardadas num lago, onde falta só uma gargalhada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Até domingo terei de inventar,
ideias com botões, pedras de berlinde, casaquinhos e calças, cachecóis pequeninos,
papéis diversos, letras bonitas e abrir janelas de cartão, uma de abrir, outra
de arejar, uma de espreitar e uma de nunca mais fechar!<o:p></o:p></div>
<br />
<br />
<br />
(foto de Carlos Matos)Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-55788748600539023632018-04-15T21:41:00.001+01:002018-04-15T21:41:48.698+01:00Tal e qual como as flores, chegam na hora certa sem dia marcado<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZLay0FM9NUpcYxw3n8qk4eln_qkXY8n0VDN90fVQte0O_Ch3ltSfm8oQNTbYwsspmwC8AK4UwO8xH70f4iR_pTni8ellGUVuMCAHasMqEnyVkzsSMIafAxRUKx-EWGjJj6G1dwYMhyphenhyphenMew/s1600/Papulas+A+Silva.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="960" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZLay0FM9NUpcYxw3n8qk4eln_qkXY8n0VDN90fVQte0O_Ch3ltSfm8oQNTbYwsspmwC8AK4UwO8xH70f4iR_pTni8ellGUVuMCAHasMqEnyVkzsSMIafAxRUKx-EWGjJj6G1dwYMhyphenhyphenMew/s640/Papulas+A+Silva.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto de Armando Silva</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os afectos são coisas que não se compadecem
com horários, numa conversa circunstancial, alguém sublinhou a sua idade, não
me importa, não penso nas pessoas com uma etiqueta no pé a indicar a idade, a
idade tem a relatividade do tempo, é verdade o cabelo como diz o fado vai
branqueando, o “involucro” começa a acusar o desgaste do uso e do tempo, mas é
isso?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pois, não è.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A pessoa mais jovem que conheci
foi a minha avó, apesar de a ter conhecido quase sexagenária, ensinou-me
boleros, rumbas, tangos, sambas e áreas de opera, fados também, a fazer
biscoitos, a colocar alegria como tempero da vida, porque tal como canta
Vinicius a minha avó tinha como mote “È melhor ser alegre que ser triste, a
alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração…”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quis sempre aprender, nunca se
fechou a novas experiências e projectos e o que não tinha remédio, remediado
estava!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em contrapartida conheço gente
que nasceu velha, apesar da embalagem, de mentes retorcidas, bafientas,
fechadas, herméticas, e é tão triste uma mente amputada!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Portanto aprendi que não adiante acelerar
a levedura do pão, o crescimento, usar certos atalhos, nem tão pouco marcar
hora para os afectos, chegam na hora certa no momento exacto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não consegui ir despedir-me de um
amigo, daqueles de até sempre, mas o afecto está intacto, embrulhado em
carinho, e o olhar dos seus olhos grandes imensos e carinhosos fica, recebi um
mimo, prenda de aniversário, data que já foi, um frasco com um cheiro de
infância que fica ali guardado até vir os dias de sol, porque cheira a flores e
a citrinos e é fresco e alegre, e eu disse isso uma vez e alguém que me conhece
desde sempre lembrou-se e apesar de netos, de doenças e outras coisas, lembrou-se
e ofereceu, é outra que os anos passam, serei sempre a miúda e ela será sempre
a mulher vistosa, despachada e alegre.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há outros afectos que guardo
assim, do homenzinho que hoje fez os trabalhos de casa e que vi crescer a
barriga da mãe como uma sementinha de gente, e é verdade ando ansiosa para que
chegue a primavera os dias luminosos, os cheiros da época, os sapatos mais
abertos, mas o que importa chega assim, no momento exacto, na hora certa, como
as flores de que temos saudades e um dia de repente reparamos, já abriram!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=fl2WJdn3qOE">https://www.youtube.com/watch?v=fl2WJdn3qOE</a></div>
Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-37176868655143113192018-04-14T21:04:00.001+01:002018-04-14T21:04:17.961+01:00Ao redor de uma Letra “M”<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiD7SmoN7cCVW3FNW2s0LN2w82OY1Qu_2RJrYctbW-LI8v3_AqEHaYFnmrn3HIIdUDY-tVAr6ZThqTaD09Gc9HX7h0nz4B2IgQR6xdsEnFnVYXOtU-8uO9uxEK3MKK13fK_HShU9m_Ls0XN/s1600/WIN_20180414_200202+%25282%2529.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="504" data-original-width="896" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiD7SmoN7cCVW3FNW2s0LN2w82OY1Qu_2RJrYctbW-LI8v3_AqEHaYFnmrn3HIIdUDY-tVAr6ZThqTaD09Gc9HX7h0nz4B2IgQR6xdsEnFnVYXOtU-8uO9uxEK3MKK13fK_HShU9m_Ls0XN/s320/WIN_20180414_200202+%25282%2529.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O nosso alfabeto não começa por
ela, o nosso, porque foi construído em cima de outro, o grego cuja primeira
letra é Alfa, aliás o nome alfabeto é daí que nasce, sendo que Alfa é principio
o começo e outras coisas, que já lá vamos, porque esta viagem é em redor do M, “ême”,
também há quem diga “mê”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A letra M não faz parte dos meus
nomes próprios, faz parte dos de família, e faz parte de muitas palavras
importantes, por cá faz parte de talvez a palavra primeira que todos dizemos: “mãe”,
seja assim seja “mamã”, talvez por sermos mamíferos e mama, que não é
vernáculo, ser de onde vem o nosso primeiro alimento cá fora do ventre materno
(outra palavra com M), mas claro que há mães e mãezinhas, e até mães que nunca
tiveram os filhos no ventre ou deram de mamar, e são de direito tão mães como
outras, e há o contrário, como em quase tudo cada verso, tem o seu inverso, por
falar em versos acho que todos aprendemos aquele verso “Com três letras apenas,
se escreve a palavra Mãe, é das palavras pequenas a maior que o mundo têm”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pronto isto é nacional, porque
embora mãe em muitas línguas comece por a mesma letra M, tem mais letras…Mulher
começa assim e menina, também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Adiante, M, é a palavra de MAR, e
é do mar que viemos e para lá que vou, desde que tenho memória (outra com M),
onde me sinto feliz retempero força, lavo as magoas (outra). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
M, segura as vogais de amor, como
se aqueles arquinhos da letra fossem a ponte entre pessoas e coisas tal e qual
como é o amor, faz o mesmo em amizade, começa a doçura do Mel.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E há quem tenha um “ême” na palma
da mão, eu tenho. Já agora mão é outra!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
È uma letra de outras coisas,
medo! Medo é uma coisa que nos prende, aplicado em excesso até nos liberta para
vencer o dito, mal, mal é outra e ainda ondem se soltou um mal, supostamente
para corrigir outro mal, mas de certeza para mascarar (outra) outras situações:
a imbecilidade de um suposto macho alfa que parece saído de uma paródia,
acompanhado por outros, mesmo que não sejam machos alfa…nada de bom daí de
resulta e nenhum mal se apaga com outro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
M liga arma, armamento, cá está o
verso e o inverso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
M é de mundo, embora eu goste
mais de Terra, Gaia, porque o mundo por vezes é só o que nosso olhar alcança, e
eu gosto de olhar mais longe (Menos e Mais outras duas).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Olhando de perto, ontem os meus
três últimos “clientes” tinham nomes começados por M, três irmãos, um rapazinho
e as suas duas irmãs, elas gémeas, ficaram orgulhosos de serem utentes
encartados, escolheram livros, e levaram muito a sério as recomendações que
fiz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por vezes acho que o M liga tanta
coisa que pode ser a ponte para se dar a mão!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Três êmes, como as perninhas da
letra manuscrita, quase que se vê a personalidade pelos livros que escolheram,
importante pensar que escolheram livros, as memórias do passado (sim é uma
redundância) e as do futuro, estão lá, nos livros, que embora não tenham a
letra M no nome, costumam repeti-la a ela e a todas as outras em tudo o que lá
vem: tragédias, comédias, instruções, poemas, dados, filosofias, romances, e
por aí a fora, tal e qual como esta coisa da letra que é uma ponte entre
outras, o principio de muito coisa e final também, até do fim.<o:p></o:p></div>
<br /><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikBY_JYay7ZYPri1OsRK8w6I1ak361SVO0MqPriaLzgOCWqWPeMPGZQeHw0780njLvJJoZsYEFlIR7mqpCTS5u3MrsFCtvFQMIShIZDhhs150ReEBoXq61laEfMlYm8CwdC-UTf1LVl0Ct/s1600/eme.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikBY_JYay7ZYPri1OsRK8w6I1ak361SVO0MqPriaLzgOCWqWPeMPGZQeHw0780njLvJJoZsYEFlIR7mqpCTS5u3MrsFCtvFQMIShIZDhhs150ReEBoXq61laEfMlYm8CwdC-UTf1LVl0Ct/s1600/eme.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">foto de autor desconhecido</td></tr>
</tbody></table>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-33327282646468422112018-04-11T22:59:00.000+01:002018-04-11T22:59:04.049+01:00Paisagem inaugural<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLZ9aATJyspFdEVSejxy5BqdlgnPnB4dhIvGIu7saII_mu89wY5sn0xBDJa_xiSSWlpPXbfYqXtO5M1RTs3ufNE4o-fl93ZzFvKsy7fXrlVT41oI1iyP4OUYzVbDfv2hy4L9MsZRIvTIqp/s1600/Song+Chagall.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="795" data-original-width="795" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLZ9aATJyspFdEVSejxy5BqdlgnPnB4dhIvGIu7saII_mu89wY5sn0xBDJa_xiSSWlpPXbfYqXtO5M1RTs3ufNE4o-fl93ZzFvKsy7fXrlVT41oI1iyP4OUYzVbDfv2hy4L9MsZRIvTIqp/s320/Song+Chagall.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">pormenor de quadro de Marc Chagall</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há preocupações cá atrás de
coisas maiores, mais pequenas, mas há a amiga de sempre e os amores-perfeitos
nas ruas, e há uma música que paira dessa minha teimosia de o acordar, e umas
contas de sumir, há um arranjo na escala, para conseguir fazer outra coisa, há
a conversa e o riso fácil, o sol que aparece de vez em quando sobre as nuvens,
e aquela música lá atrás, as contas de sumir, a minha teimosia em amar as
árvores, as raízes, o tronco, a casca, as folhas, as flores, eu à espera de uma
coisa, à procura de outra e a encontrar o que não procurei.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><i>“Esta paisagem ainda não foi inaugurada. <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><i>Tudo é novo como no primeiro dia. <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;">Dei o teu nome a uma das ilhas.”</span><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;"><i><br />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">José Eduardo Agualusa</span></span><br style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;" />
<span style="background: white;"><span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; float: none; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; widows: 2; word-spacing: 0px;">“Nação crioula”</span><o:p></o:p></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;">Dou conta que há em mim uma paisagem que inauguro, como se fosse um
filme, que tivesse um disco, que fosse um livro, mas que fosse táctil, como um
quadro pintado com emoções, tácteis, luminosas, macias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;">Dou o meu nome a essa paisagem e guardo ilhas por nomear.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Helvetica",sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 107%;">Um chão chamado asa, um desejo chamado esperança, um sorriso chamado
rosto, uma casa chamada barco, um galopar de calma, um rio de alegria, um
abraço de cor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma paisagem a despontar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-10060400124167833622018-04-10T22:41:00.000+01:002018-04-10T22:41:17.039+01:00Da chuva da Primavera e outras coisas<br />
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
Afinal não
vou com uma amiga no barco vou com outra, ninguém substitui ninguém, gosto das
duas, e afinal há coisas que se acertam sozinhas na vida, quando me despeço de
uma a outra chega no barco que acabou de atracar e temos duas estações de Metro
para falar, por a escrita em dia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
Está
vento, forte que semeia chapéus-de-chuva partidos pela cidade e abana os ramos
das árvores, e chuva fria, e levo no saco que fiz um casaco de malha para uma
emergência, a lancheira, o chapéu-de-chuva retráctil que decidi que ali vai
ficar, fico só pelo anorak e o chapéu impermeável para a cabeça, que ainda
assim seguro com uma mão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
Há duas
pessoas na paragem, depois chegam mais, até a minha pequena companheira de
viagem que não nos víamos há uns dias, entre pascoas, para quem trago cromos
com dinossauros, fica feliz, há outra senhora que ao ver diz: “Olha tenho aqui
disso e não sabia para o que era, toma querida!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
Entre
resmungos sobre os trinta minutos de atraso do autocarro, a alegria dos cromos,
a chuva que escorrega entre os vidros de um dia cinzento e agreste, a conversa
casual com a senhora na minha frente que tem medo de me encomendar com a
bengala e faz bonecas de trapo, porque nem tem ninguém à sua espera e assim faz
bonecas e dá, faz bonecas e as roupas, acaba por contar a sua vida, esclareço-a
sobre a loja de tecidos melhor, e até indico caminhos e ruas, e fico a olhar os
canteiros mais coloridos do que estavam, e ela chama-me “menina”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
E quando
saio seguro o chapéu com a mão para não voar, nos metros da paragem ao trabalho
há meia dúzia de caras familiares que me cumprimentam, entro e recebem-me com
um sorriso e fico feliz!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
Dispo o
casaco e a chuva, o chapéu e o cachecol, mergulho entre muitas coisas, descubro
um escritor desconhecido para mim, vejo chapéus viraram lá fora, cair granizo, escolho
trechos de livros e arrumo outros no local certo, na hora certa chegam
voluntários e pessoas de bengala para um chá comunitário, gostam do espaço, até
do convívio, lá fora há turistas rosados com calções que olham espantados para
o ar arrepiado e friorento que temos, há uma rapariga que treme de frio porque
vestiu a roupa que o calendário indica, está elegante com saltos altos abertos,
camiseiro, cabelo esticado, os lábios roxos, encolhida a fugir à chuva!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
Eu visto o
casaco, venho quente e leve na mesma, apanho as mesmas caras no autocarro,
apesar da chuva cheira a Primavera, ainda não é noite cerrada, as pedras de
basalto brilham enfeitadas por carris prateados do eléctrico, e de manhã os
canteiros vão estar mais coloridos, com as flores cheias de cor porque já há
andorinhas nos beirais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT1rJI3eWzl14WAn6BZMapVrAiF5yd2B3L1Y3ceGu7ialpInHH1oVp5nKTMet7f-FfIclmCDAkLZE5GfCI4KMHtyOdbD9BJn8ELC5u_ODBcKiWkcSHgNRqAXaQ7_G5S0NTop2fLvzrSjn0/s1600/Chuva+noite+C+Matos%2521.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="960" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT1rJI3eWzl14WAn6BZMapVrAiF5yd2B3L1Y3ceGu7ialpInHH1oVp5nKTMet7f-FfIclmCDAkLZE5GfCI4KMHtyOdbD9BJn8ELC5u_ODBcKiWkcSHgNRqAXaQ7_G5S0NTop2fLvzrSjn0/s320/Chuva+noite+C+Matos%2521.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Foto de Carlos Matos</div>
<div class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .5pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-19957945873056267712018-04-08T22:43:00.002+01:002018-04-08T22:43:37.943+01:00Isto aqui ô ô é um cheirinho de Brasil <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeQJWuBPOZemJ4k4NVxulwaMB83XZXf93KP-G5WhyphenhyphenCANdokowmsskiRKexrqCnHeE1zElRayCRGcZLfLSMhWQxPD6BPUy2IAhflJQjO9GbpzXnsvGVctuMuNn7yDouEtb0wEkEKlncz30U/s1600/operarios.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1600" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeQJWuBPOZemJ4k4NVxulwaMB83XZXf93KP-G5WhyphenhyphenCANdokowmsskiRKexrqCnHeE1zElRayCRGcZLfLSMhWQxPD6BPUy2IAhflJQjO9GbpzXnsvGVctuMuNn7yDouEtb0wEkEKlncz30U/s320/operarios.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Quadro "Operários", Tarsilado Amaral, cerca de 1930</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="_2cuy _3dgx _2vxa" style="box-sizing: border-box; color: #1d2129; direction: ltr; font-family: Georgia, serif; font-size: 17px; margin: 0px auto 28px; white-space: pre-wrap; width: 700px; word-wrap: break-word;">
<span class="_7xn" style="background-color: #f6f7f9; font-family: Menlo, Consolas, Monaco, monospace; font-size: 14px; padding: 4px;">“ Isto aqui ô ô,</span></div>
<br />
<div class="_2cuy _3dgx _2vxa" style="box-sizing: border-box; color: #1d2129; direction: ltr; font-family: Georgia, serif; font-size: 17px; margin: 0px auto 28px; white-space: pre-wrap; width: 700px; word-wrap: break-word;">
<span class="_7xn" style="background-color: #f6f7f9; font-family: Menlo, Consolas, Monaco, monospace; font-size: 14px; padding: 4px;">É um pouquinho de Brasil, iá iá</span></div>
<div class="_2cuy _3dgx _2vxa" style="box-sizing: border-box; color: #1d2129; direction: ltr; font-family: Georgia, serif; font-size: 17px; margin: 0px auto 28px; white-space: pre-wrap; width: 700px; word-wrap: break-word;">
<span class="_7xn" style="background-color: #f6f7f9; font-family: Menlo, Consolas, Monaco, monospace; font-size: 14px; padding: 4px;">Deste Brasil que canta e é feliz,</span></div>
<div class="_2cuy _3dgx _2vxa" style="box-sizing: border-box; color: #1d2129; direction: ltr; font-family: Georgia, serif; font-size: 17px; margin: 0px auto 28px; white-space: pre-wrap; width: 700px; word-wrap: break-word;">
<span class="_7xn" style="background-color: #f6f7f9; font-family: Menlo, Consolas, Monaco, monospace; font-size: 14px; padding: 4px;">Feliz, feliz</span></div>
<div class="_2cuy _3dgx _2vxa" style="box-sizing: border-box; color: #1d2129; direction: ltr; font-family: Georgia, serif; font-size: 17px; margin: 0px auto 28px; white-space: pre-wrap; width: 700px; word-wrap: break-word;">
<span class="_7xn" style="background-color: #f6f7f9; font-family: Menlo, Consolas, Monaco, monospace; font-size: 14px; padding: 4px;">É também um pouco de uma raça,</span></div>
<div class="_2cuy _3dgx _2vxa" style="box-sizing: border-box; color: #1d2129; direction: ltr; font-family: Georgia, serif; font-size: 17px; margin: 0px auto 28px; white-space: pre-wrap; width: 700px; word-wrap: break-word;">
<span class="_7xn" style="background-color: #f6f7f9; font-family: Menlo, Consolas, Monaco, monospace; font-size: 14px; padding: 4px;">Que não tem medo de fumaça ai, ai,</span></div>
<div class="_2cuy _3dgx _2vxa" style="box-sizing: border-box; color: #1d2129; direction: ltr; font-family: Georgia, serif; font-size: 17px; margin: 0px auto 28px; white-space: pre-wrap; width: 700px; word-wrap: break-word;">
<span class="_7xn" style="background-color: #f6f7f9; font-family: Menlo, Consolas, Monaco, monospace; font-size: 14px; padding: 4px;">E não se entrega não “ Ary Barroso.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vamos ao Brasil? O Brasil é um
país imenso do outro lado do Atlântico, onde os portugueses chegaram a 22 de
Abril de 1500, os portugueses chamaram-lhe Descobrimento, os Brasileiros
Achamento, porque o Brasil já lá estava e tinha gente e cultura própria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dessa gente, recuando 4 gerações,
tenho ascendência, o meu trisavô foi para lá apanhar borracha, voltou com uma índia,
cresci a ouvir as tias velhotas a dizer que eu tinha os traços, isto valeu ao
meu ascendente ser deserdado, a ela, pois, não sei abandonou a sua tribo, os
sabores, as cores, o clima a que estava habituada, era das tribos Guarani,
exactamente as que estavam na confluência de um dos maiores aquíferos do mundo
e que parece que o Presidente não eleito, Michel Temer se prepara para dar de
mão beijada à Nestlé e Coca-Cola.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Durante uns seculos os
portugueses andaram na orla costeira, mandavam para lá pela mão do Santo
Oficio, padres, cristãos novos, crianças retiradas à família por acusação de
heresia, pegaram um monte de doenças aos índios, caçaram-nos para os
escravizar, tentaram impor a sua fé, sacaram ouro e pedras e a riqueza do Reino
de Portugal assentava “Nos Brasis”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ahhh também descobrimos ou
achamos outros países, na Costa Africana e fizemos trafego legal e em nome de
tudo quanto é sagrado de pessoas, milhares, escravizados e enviados para o
Brasil como força motriz de trabalho para tudo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nos entretantos, o Brasil foi
achado por outros países que disputavam as suas riquezas, cada um a deixar a
sua marca, em 1807, face à ameaça das invasões Napoleónicas, a corte portuguesa
mudou-se para o Brasil, ficando para sempre no imaginário dos dois povos, o
estranho D. João VI, a sua real esposa Carlota Joaquina e depois os seus filhos,
especialmente D. Pedro, herdeiro, que ficou no Brasil e em 1821 dá o famoso
Grito do Ipiranga, resolve que o Brasil é independente e fica com D. Pedro I,
Imperador do Brasil, ainda hoje há uma Escola de Samba no Rio de Janeiro com
nome de Imperatriz Leopoldina, sua mulher, entretanto passou os seus direitos
ao trono português à sua filha Maria da Glória, futura D. Maria II, com a condição
de se casar com o tio Miguel, irmão de D. Pedro, assim não foi e deu porrada
por cá.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por essa altura a escravatura
tinha sido abolida na maioria da Europa e os governantes brasileiros,
portugueses, assim assim, inventaram a Lei do ventre livre, era escravo quem já
era os que nasciam depois daquela data eram livres….eram livres sem educação,
sustento, apoio, com os donos das mães a mudar a data de nascimento de modo a
que não fossem abrangidos, etc e tal…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nessa altura o Brasil já era um
exemplo de mistura étnica, mas expandiu, quando a escravatura acabou mesmo e os
donos de engenhos de açúcar, plantações de café e de cacau, tiveram de
substituir aquela mão-de-obra barata por outra, vieram à Europa, uma Europa
paupérrima, e por vagas, italianos, portugueses e um pouco de toda a Europa
foram, muitos à procura da riqueza do Brasil, a maioria para substituir
trabalho escravo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desta mistura espantosa nasce
tudo o que o Brasil têm: uma cultura variada, uma música espantosa, uma
religião que cruza raízes africanas com cristianismo, e gente, mulatos,
caboclos, cabritos, chamem o que quiserem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Daí nasceu o samba, a moda, o
choro, o candomblé, a Bossa Nova e um português cantado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No século XX o Brasil tornou-se
conhecido pelo Carnaval, também por uma ditadura depois de uma República
liberal, parece familiar? È muito a nossa impôs-se em 1928 liderada por António
Salazar a deles por Getúlio Vargas em 1930, ambos países apoiantes do “Eixo”,
que era o conjunto de países que apoiavam Hitler.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os brasileiros sofreram horrores
e nós continuámos a ajudar à festa, até os torturadores de lá vieram aprender
com os da PIDE, por essas alturas Luís Carlos Prestes, liderou a “Coluna
Prestes” constituída por militares abandonados à sua sorte no Rio Grande do
Sul, sem mantimentos, comunicações ou munições, em dois anos e cinco meses
percorreram 25000Km a pé, mil e quinhentos homens, dos quais metade morreram de
cólera.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esta passagem pelo interior do
Brasil permitiu que vissem o que muitos não queriam, a miséria, a fome, outras
formas de escravatura, Prestes denunciou em toda a linha, passou à
clandestinidade em 1930, ganhando o cognome de “Cavaleiro da Esperança”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Liderou a ANL Aliança Nacional <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Libertadora, que pretendia a reposição da
democracia no Brasil, acabou por ser preso, destituído da patente de Capitão e
a sua companheira Olga Benário, nascida alemã e judia, foi entregue pelo regime
de Getúlio Vargas ao Regime Nazi, estava grávida, mas acabou numa Câmara de Gás
em Ravensbruck, a filha Anita, foi resgatada pela mãe de Prestes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O Estado Novo Brasileiro terminou
em 1948, e Prestes foi eleito Deputado, ele e mais uns quantos como Jorge Amado
ou Carlos Miraghela, nessa época os caminhos de ferro brasileiros eram
explorados pelos ingleses, as minas de ouro e pedras preciosas, as madeiras, a
borracha, o cobre, por outros potentados, o Brasil parecia condenado a ser uma
fonte de riqueza para uma elite estrangeira, um recurso de mão de obra quase
escrava e um prostibulo mundial.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A Ditadura Militar instala-se em
1964, mas em 1958 já o parlamento tinha sido dissolvido e todos os que eram
contra o Regime começaram a ser presos ou a auto exilar-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foi assim com Prestes e Jorge Amado,
mas de uma maneira ou de outra tudo o que era novo, atrevido ou que criticava o
Regime acontecia o mesmo: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Ferreira
Gullar, Oscar Niemayer, Glauber Rocha, Augusto Boal, Geraldo Vandré e até Rita
Lee.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com mais ou menos abertura, o Regime
durou até 1985.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nunca se perguntaram porque é que
os Salgados deste país fugiram para o Brasil após o 25 de Abril de 1974? Lá
estavam seguros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O Brasil, um país rico, com
desigualdades sociais gritantes, que nem as novelas da Globo mascaram, as
favelas, milhares de crianças a deambular a prostituírem-se, roubarem,
sobreviverem que tiveram voz quando a Polícia Militar efectuou o “Massacre da
Candelária” matando friamente 8 crianças à porta de uma igreja, os sem terra,
camponeses amarrados a um latifúndio que depois de expulsos nada possuem, os índios
eternamente perseguidos, e a frase lapidar do branco mais preto do Brasil,
Vinicius de Moraes “Todo o pobre é preto!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cresci a ouvir Vinicius, e Chico
Buarque, e Tom Jobim, Baden Powel, a minhota Carmem Miranda como símbolo de um
Brasil tecnicolor, o primeiro livro de “crescidos” que me deixaram ler foi “Clarissa”
de Erico Veríssimo, um dos livros do “coração”, que quase sei de cor é “Jubiabá”,
não tenho, sempre que tive emprestei depois de explicar a minha paixão por
António Balduino e a sua Lanterna dos Afogados, nunca devolvem, fica a
esperança que seja por gostarem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esta crónica vai longa, mas foi
com este estado de coisas que Lula começou a mexer: alfabetização, fim das
concessões de exploração das diversas riquezas naturais, acesso universitário,
conversão de favelas, assistência médica universal, colocando o Brasil no mapa
das nações poderosas por direito próprio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fez tudo? Não! Tudo perfeito? De
certeza que não!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas é uma grande chatice um homem
com quarta classe, com um dedo a menos perdido quando era criança a trabalhar, viúvo
do primeiro casamento porque a mulher grávida não teve assistência, ter
começado a acabar com os privilégios de alguns, um crime a certos olhos!<o:p></o:p></div>
<br /><br />
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=RdiInoOh1ZY">https://www.youtube.com/watch?v=RdiInoOh1ZY</a>Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-32740986272651546202018-03-30T22:56:00.003+01:002018-03-30T22:56:55.759+01:00A conta-gotas<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZk1T1wiPG6yGaHIq2ZnxQl-sxHJxNdDziQRjDIUrb4znvHRKLdDgUQrsx-vbndqnNLbiJKgwFaSERQp6N03jLt5CDt_DFiAPT7m6xliGWLfG1ahOFI7AGDZiTOcqF72lFHkFExxzQ4ls0/s1600/Eu+gotas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="527" data-original-width="527" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZk1T1wiPG6yGaHIq2ZnxQl-sxHJxNdDziQRjDIUrb4znvHRKLdDgUQrsx-vbndqnNLbiJKgwFaSERQp6N03jLt5CDt_DFiAPT7m6xliGWLfG1ahOFI7AGDZiTOcqF72lFHkFExxzQ4ls0/s320/Eu+gotas.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">pormenor de retrato que o Filipe Cardeira me tirou</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nem sei quantas gotas somos até
sermos nós, ou se alguma juntamos todas as gotas que nos fazem, se somos aquele
ciclo infindável de gotas doces ou salgadas, que se evaporam, cristalizam,
caem, sobem outra vez, que alimentam, transbordam, que na sua ausência secam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Podem ser suaves e mornas,
refrescantes, ácidas, em pedra, geladas, límpidas, turvas, paradas, cantantes,
imensas, tempestuosas, assim sou a conta-gotas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há gotas que ficam em poça,
reservatórios, dentro de mim, por vezes gelam, por vezes doem, por vezes
estagnam, demasiadas vezes prendem-se na represa que construo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Outras parecidas, são as das
decisões importantes, de vez em quando abro essa represa e correm livres numa
cascata, tal e qual como as que me fazem criar coisas, ideias, projectos, as
dos afectos são assim também, por vezes esbarram em muralhas…fazem ondas dentro
de mim que se enrolam numa tempestade submersa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há gotas acidas, pequenos venenos
espalhados, que se diluem devagar, deixam marcas pois.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ainda assim, sem contar as gotas
de mim, a conta-gotas há a essência que sou eu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=hIiRXFz7C24">https://www.youtube.com/watch?v=hIiRXFz7C24</a></div>
Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-77673000335109076992018-03-27T22:09:00.000+01:002018-03-27T22:09:11.190+01:00Como me cansar de cruzar as margens, se cruzar margens é a minha natureza<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9-h0abFq0KugCPOKd6tOowE2Rbsjh0-Eqzox5KlvDdPoXqZNVcJnbFo4sTZGogugDwjJc6QFDTGiFBEjuki6hCAqvqf7HKJfyayJlVvluNIuwuOt_Wg4quhFaLfJAEmdlMfD09bStdOwB/s1600/Entre+Margens.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9-h0abFq0KugCPOKd6tOowE2Rbsjh0-Eqzox5KlvDdPoXqZNVcJnbFo4sTZGogugDwjJc6QFDTGiFBEjuki6hCAqvqf7HKJfyayJlVvluNIuwuOt_Wg4quhFaLfJAEmdlMfD09bStdOwB/s320/Entre+Margens.jpg" width="320" /></a></div>
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=8yaMO_mIvAY">https://www.youtube.com/watch?v=8yaMO_mIvAY</a><div class="MsoNormal">
“Enquanto a cidade inteira vai digerindo o seu jantar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E todas as ruas e praças se lavam com essência de luar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Enquanto as estátuas famosas bebem brandies e aveledas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E as tílias se entreolham meigamente nas alamedas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vou guardando as margens<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Velando os lírios do jardim”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Perguntaram-me se o caminho me
cansa, por acaso não, quando vou muito cedo o barco vai cheio, há sempre alguém
conhecido, as caras sacodem o sono, há um cheiro a café no barco,
reconfortante, o rio é estrada, apesar da correria de entrada e saída, decidi
não correr nunca, olho os rostos, as caras já familiares no autocarro, os amores-perfeitos
que pintalgam de cor os canteiros <span style="background: white; color: #1d2129;">e
as papoilas que nascem teimosas entre a relva formatada</span>, os
desenhos intricados na pedra da calçada, como desenhos árabes de hena, chego ao
destino, cheira a manhã.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se vou mais tarde, consigo ver
outros pormenores, há menos gente, o prédio com varandas com colunas, os
desenhos de azulejos hispano árabes nos prédios pombalinos, as águas furtadas,
as fachadas Valmor, as vazias, os turistas que circulam de manga curta e
calções, maravilhados com tudo, a perguntar direções, a ver aquilo que por
vezes escapa a quem passa todos os dias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E de carro, há a formatada e
pouco excitante auto-estrada, mas depois, há a ponte o Rio, os barcos que
parecem brinquedos, o estuário, o dédalo de ruas mais intricadas, as fachadas
diferentes das habituais, com estátuas, carrancas, frisos, a loja de sumos
naturais pegada a fast food, a papelaria velhusca, a retrosaria e uma daquelas
lojas que há em todo o lado, replicadas até ao infinito como uma coisa esquizofrénica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há os jardins, o rio do lado de
cá, com moinhos e casas que identifico os ocupantes, há o rio do lado de lá,
onde me habituo cada dia mais, seja mais tarde, mais cedo, de carro ou de
transportes, há as árvores, os pardais e as gaivotas dos dois lados, as
crianças que saem e entram de bibe e mochila, o sol da manhã e do fim de dia, a
noite mesmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Como me cansar de cruzar as
margens~, se cruzar margens é a minha natureza?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Enquanto a luz do promontório ensina a costa ao barqueiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E arde o rum forte no zimbório e traz lucidez ao faroleiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vou pondo malha sobre malha com o labor dum tapeceiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Palavra, acorde, som, a talha e a devoção dum mestre-oleiro<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vou guardando as margens<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Velando os lírios do jardim”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Carlos Tê/Rui Veloso<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-43606096109966557262018-03-23T21:44:00.001+00:002018-03-23T21:44:59.278+00:00Diário de mudança – Dia vigésimo terceiro<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgERy3qOta-l_L2KDxEWzb5kOFX6z_uXsGiFzcv_zZEjvQiaH6q6keYADezhOhOUsd-3-n3tgff6eAO7GvblSHSYlS9nXJJ4kfOahdGCXknwRaYQkLf4NatLEyF2T9YZKe9IQHhBTCXNl84/s1600/sentir+tudo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgERy3qOta-l_L2KDxEWzb5kOFX6z_uXsGiFzcv_zZEjvQiaH6q6keYADezhOhOUsd-3-n3tgff6eAO7GvblSHSYlS9nXJJ4kfOahdGCXknwRaYQkLf4NatLEyF2T9YZKe9IQHhBTCXNl84/s320/sentir+tudo.jpg" width="240" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto Minha</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O caminho faz-se bem, apesar do
tempo e dos três transportes ou do trânsito, já apanhei dias de sol e de chuva,
a saída tardia e iniciar de madrugada, invariavelmente o barco é ponto de
encontro de alguém conhecido, o metro também, o autocarro já o é.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
De carro começo a perceber as
escapadelas e voltinhas, a pé mais ainda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Conforme seja o autocarro há
caras que se repetem, já cumprimentam, e há até a companheira de viagem na ida
quando pego mais cedo e na vinda quando saio mais tarde, sete anos, resposta
pronta, e as suas trancinhas africanas num rosto sorridente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje lá estava, gritou quando me
viu “Trouxe as cartas!”, as cartas de dinossauros que esconde e me pergunta a
viagem toda ou pelas características ou pelo nome conforme a leitura soletrada
que faz, hoje deu-me um abraço e usou o meu chapéu-de-chuva enquanto esperamos
debaixo de uma chuva miudinha, faz o caminho com a avó, fica numa escola com
ensino artístico, a avó tem um lenço na cabeça e um ar paciente, ela é um raio
de sol mesmo nos dias de chuva.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois há o Bairro, já percebo
porque lhe chamam assim, misturam-se drogarias que parecem saídas do Pátio das
Cantigas com lojas mais sofisticadas, retrosarias atulhadas com caixinhas e
senhoras velhotas a vender as coisas, com lojas de tecidos de todas as qualidades,
devidamente informatizadas, o gourmet e o local onde se comem pataniscas com
arroz de feijão, a loja de lingerie quase em frente a outra que vende batas de
andar por casa e cuecas de “gola alta”, e prédios recuperados, novos, alguns
que transpiram luxo moderno outros o charme antigo de janelas especiais,
frontarias de azulejo ou figuras esculpidas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há carros do último modelo mas
também há o senhor da motorizada velha que até já cumprimenta e me conhece, há
velhas Valquírias de pó de arroz apelidos longos e golas de pele e gente descontraída,
cabelo com rastas e o francês transplantado para ali que usa as filhas pequenas
como tradutoras e já saúda na rua “Bom jour, Ana!”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E há o trabalho, livros, pilhas,
prateleiras, livros que chegam em cestos de plástico para serem separados,
livros devolvidos ou usados no dia anterior, que se tem de colocar na prateleira
certa no local exacto, livros que nos pedem, livros que pedimos e percorrem a
cidade acondicionados em pacotes com protocolos que se tem de abrir, assinar
registar e dar as voltas todas, há doações, tem de se ver um a um, classificar
fazer seguir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há registos, contadores,
programas informáticos próprios, leitores de códigos de barras, alarmes para os
jornais e revistas, senhas de programas, computadores e tudo o mais, mas há
gente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há gente sempre, os que estudam,
os que simplesmente fazem daquele local diariamente uma espécie de segunda
casa, os que brincam na sua zona, os que brincam e gatinham, os que brincam e
já levam livros, os que brincam e jogam, os que brincam, jogam e lancham. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há os que escolhem um autor e
levam de seguida, todos os livros, os que só levam filmes, ou música, os que
fazem uma mistura, o senhor que levava policiais e disse com um sorriso
radiante: “Agora vou ler menos, só ao fim de semana, arranjei emprego!”.
Recebeu as nossas felicitações e ficámos felizes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há exposições, aulas de teatro,
sessões de poesia, Clube de Leitura, espetáculos, tudo ali, já apanhei em dias
de chuva e dias de sol, há a Maria da Fonte, com as pistolas na mão, num jardim
sereno, perturbado por gargalhadas infantis nos balouços, conversas de jardim
entre velhos e sussurros de namorados.<o:p></o:p></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-43686037925402389652018-03-20T21:07:00.001+00:002018-03-20T21:07:19.030+00:00IDE<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“<strong><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">Todos
somos una parte insignificante pero importante de un todo del que todavía no
tenemos conciencia.” Frida Khalo</span></strong><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<strong><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><br /></span></strong></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzoub0WXunwkwI7Ps8iP6Bp4ZKMujl4ASwibPjFYSsFa_r-IFKFaCYn14KxLFaFEfpRZe6MOTnFUu6ltBsa4v5KB2WjMkyq-6vRENGAmZEFAvjy-5iybL9DeK5obOwiSB9hSnuNaVzLvNN/s1600/Menina+Khalo+CMatos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="721" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzoub0WXunwkwI7Ps8iP6Bp4ZKMujl4ASwibPjFYSsFa_r-IFKFaCYn14KxLFaFEfpRZe6MOTnFUu6ltBsa4v5KB2WjMkyq-6vRENGAmZEFAvjy-5iybL9DeK5obOwiSB9hSnuNaVzLvNN/s320/Menina+Khalo+CMatos.jpg" width="240" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto de Carlos Matos</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<strong><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 11.5pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;"><br /></span></strong></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Portanto há pessoas que só sentem
bem a chatear o próximo de preferência a chatear muito, se for possível tratam-nos
com muita lisura, sorrisos, adjectivos amorosos “querida…linda...” e por aí a
fora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Treta!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há aquele grupo para o qual somos
imprescindíveis até ao momento em que nada podemos dar e precisamos que algo
nos seja dado, conforto, solidariedade, amizade, carinho, não interessa, mas
deixamos de existir nesse momento, passamos até a estar a mais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há outros, claro, os que sabemos
que a qualquer momento se apresentam, inteiros, prontos a repartir o que lhes
falta, os genuínos, os das empatias, das cumplicidades, que nos aceitam tal e
qual como somos incondicionalmente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Infelizmente os outros são mais,
os já descritos, os “sugadores”, os calculistas, os chantageiam emoções, os que
não querem pressionar mas perguntam “quando”, os que te mudam de besta para bestial
e vice-versa, os falsos, os que apelam à boa vontade que nunca possuem, os que
espalham boatos, os que gostam de espezinhar, os que sobrevivem através de uma
inveja mórbida e que acham que cada dia de sol é seu e só seu de pleno direito
e de preferência que caiam raios e trovões em cima dos outros, os egoístas que
secretamente acreditam que mundo gira ao seu redor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Até podia dizer que não conheço ninguém
assim, seria mentira, poderia dizer que nem os topo, era falso, que nunca sofri
com pessoas dessa índole, puro engano, que nunca me surpreendem, também não é
verdade, há malta que consegue descer a fasquia quando se pensa que é impossível.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Agora podem pensar que estou
zangada, também não é verdade, que me fizeram mal, fizeram e muito, mas não
hoje que eu saiba, simplesmente pesco umas coisas aqui e ali, finalmente
sinto-me expurgada de certas coisas, e é bom, sinto-me mais feliz, para essa
gentalha só tenho uma coisa a dizer:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 384.0pt; text-align: justify;">
“Ide de volta
para os órgãos genitais e reprodutores dos vossos progenitores!”<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-87112776478103364042018-03-19T21:31:00.002+00:002018-03-19T21:31:46.658+00:00Crónicas de Algibeira – Sortido de vacinas paternais<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje é incontornável é o dia do
pai, costumo dizer que sinto a falta do meu todo os dias e é verdade, mas por
outro lado está sempre comigo, nos genes, no tom de pele, nos olhos, nos lábios
cheios, em certos gostos, manias, gestos, maneirismos e num certo sentido de
humor muito particular.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A propósito de ser dia do pai, o
pai dos meus filhos conseguiu estar com os dois hoje, que é uma coisa
engraçada, e a minha amiga Beli mandou-me a coisa mais descabida sobre o tema
que me fez rir até às lágrimas e nos deu asas a especulação e dissertarmos num
humor negro que também partilhamos, é isso, apesar de todas as diferenças
físicas, de uma vivencia e amigos comuns, partilhamos um nome próprio, a
orfandade e certo sentido de humor que pode ser incompreensível para muita
gente, já agora o amor pela culinária, por algumas músicas, por coisas
non-sense e talvez a fama de sermos meio fechadas, mas temos esta mania, de nos
abrirmos para quem queremos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Restam-me três tios com partilha
genética, e dois sem partilha genética nenhuma, mas que um deles assumiu tanta
vez um papel paternal como eu assumo um filial, portanto a coisa não está mal,
gosto de todos, tenho algumas coisas que me ligam genética e flagrantemente a
alguns, incluindo o sentido de humor do meu tio Quitó, uma forma estranha de
guardar emoções com o meu tio Eduardo e uma herança moral com o meu tio Helder.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pensando bem, sou uma sortuda,
com tanta figura paterna, todos mais ou menos me tratam como a “menina” até
porque um passeou-me de carrinho de bebé como chamariz para as raparigas, outro
deu-me parte do nome, com outro partilho outros trilhos, resta aquele com que
ralho mas não resisto a “mimar”, e o que descobriu comigo que se podia
relacionar com a minha geração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mais ainda todos me tratam como
uma menina, mulher, ralham por fumar, por não descansar que baste, até por não
me divertir e sair, quase todos recorrem a mim em caso de crise, que é sinal
que confiam no meu discernimento e capacidade de resolver berbicachos, depois
sei que todos partilham um certo orgulho em mim e isso é muito bom, é um casulo
protector, tal como uma vacina.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Portanto é assim que funciona,
todos nascemos um livro em branco, prontos a escreverem o que quiserem, a
qualidade do material, a encadernação, já lá está, o resto escreve-se, a
começar pelo titulo, por cada braçada que me ensinaram a dar aprendi a nadar, e
não foi o meu pai, por cada abraço que me deram, protegeram-me contra os
momentos mais agrestes, cada vez que ralham é porque se importam, por cada vez
que me seguraram o selim até eu conseguir pedalar e manter-me, ajudaram-me a
fazer o meu caminho, por cada cumplicidade ganha-se defesas para outras coisas,
por cada gargalhada o anticorpo para as coisas mesquinhas, portanto estou
vacinada paternalmente, a imunidade que me deram e dão, ficará em mim, mesmo
quando não estiverem cá estão na mesma, em cada página de mim há um pouco
deles.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9knaneDMj8rXSNXmlimWEfPcbMH1CLrSFiSJXipbKyOby1Mfl_EWx6_56KcxN5txei0G5CICeJrNZlCdxsB3NehoEpG5dhQ7w6vllzv3mFwY8E0ZR3Amb3KJH5idhabnRTXYCOBW30PnE/s1600/La%25C3%25A7o+CMatos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="960" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9knaneDMj8rXSNXmlimWEfPcbMH1CLrSFiSJXipbKyOby1Mfl_EWx6_56KcxN5txei0G5CICeJrNZlCdxsB3NehoEpG5dhQ7w6vllzv3mFwY8E0ZR3Amb3KJH5idhabnRTXYCOBW30PnE/s320/La%25C3%25A7o+CMatos.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
(foto de Carlos Matos, o homem que me fotagrafa a mente por telepatia sem fios)Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-47726864497964448662018-03-14T21:47:00.003+00:002018-03-14T21:47:53.557+00:00Retratos – Marieta dos sem rosto<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCr9nlYTaf_VNXU1Jo3nxydIDO3Nf6AwFjTXjjrAMWXb4KliIAW-9gbgNrrPKEb08m2SfCMIg53kspyxL01DhRo-m62bcOST9QS7Bdr-slYW4UfB_iw1dEGLn7PXbxI5UzHAnSyRxtZzLl/s1600/Mascara+CMatos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="960" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCr9nlYTaf_VNXU1Jo3nxydIDO3Nf6AwFjTXjjrAMWXb4KliIAW-9gbgNrrPKEb08m2SfCMIg53kspyxL01DhRo-m62bcOST9QS7Bdr-slYW4UfB_iw1dEGLn7PXbxI5UzHAnSyRxtZzLl/s320/Mascara+CMatos.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto de Carlos Matos</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Marieta é educada e está naquela
idade indefinida, deve ter passado dos quarenta mas apesar do cabelo branco,
das roupas fora de moda ou sem formato, usa quase sempre batom garrido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pelos olhos inquietos, pela
agitação quando tem esperar algum tempo, saltitando de um pé para o outro, por
uma certa obsessão com certos números ou localizações, percebo sem aviso que há
qualquer coisa, no entanto tem um ar de menina algures que nos dá vontade de
proteger, é isso que o meu colega já fez uma ou duas vezes, com ar quase paternal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vem todos os dias, diz bom dia ou
boa tarde, pede as coisas como se tivesse ensaiado, espera as respostas, os
objectos, as indicações.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje trás uma blusa de malha
verde, um anorak, uma saia escura e sem forma, um batom rosa claro, e os olhos
mais inquietos e espera que eu esteja livre para falar comigo sem interrupções,
sem saltitar, algures em mim há alarmes que tocam e ao mesmo tempo a preocupação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desta vez fala com espontaneidade,
diz que é perseguida desde criança, ouve vozes, duas mulheres e um homem,
parecem pessoas, mas sabe que não são, nem têm rosto, não sabe se são espíritos
ou células malignas que abriga no seu corpo, também me diz que sabe que não são
reais mas que ao mesmo tempo são, porque os escuta, dizem coisas ordinárias, sussurram,
provocam-na, que já foi a todo o lado, a todas as autoridades, nada podem fazer
e ela até percebe, ninguém os escuta só ela, diz-me que a provocam de tal forma
que por vezes reage, acaba por lhes ter de gritar, no autocarro, no elétrico,
no supermercado, que isso acaba por incomodar as restantes pessoas, mas que
lhes tem de os por na ordem, pedir que se afastem que deixem em paz, que fica
com falta de ar e a tremer, que os atura desde menina, sempre piores, esses sem
rosto, mas que se sente bem ali e tem medo que entrem…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Isto é dito de um folego só, com
as mãos pousadas na minha frente, olho-a nos olhos, o meu rosto ao nível do dela,
pouso as minhas mãos sobre as suas, digo-lhe de uma forma calma:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Acalme-se Marieta, aqui está
segura, está entre amigos, aqui eles não entram, eu vou estar aqui e vai estar
tudo bem!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não sei que espirito me ensinou, sussurrou,
inspirou, de repente acalma-se, relaxa-se, sorri e diz “Que bom, obrigado!”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vai para o seu local favorito,
não a ouço murmurar sozinha, quando se despede é com um sorriso e até amanhã.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Parece que recuei uns anos e que
disse aos meus filhos, que o monstro debaixo da cama foi para outro lado porque
o varri e passaram a dormir sem medos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Espero que a Marieta durma sem
medo…por outro lado acho que se convenceu que eu existo, que a defendo e eu
sinto-me aceite também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-28166154330052281252018-03-13T22:10:00.003+00:002018-03-13T22:10:40.344+00:00Talvez Cartas de Amor – “Não te lembras de mim?”<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc1fRWfABk6za4OFFjGcPe53nGWXnI4VGedv6GMhy2sJiZ3Lh4NsAznaFGfLB6bE7yu0i0nNXacJSwymOCQzT7mv546IviThdEa_e9wDp_BrDTy6B1F5LnuuZKdm9adWMz1-mbkk_sozHn/s1600/Frascos+CMatos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="721" data-original-width="960" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhc1fRWfABk6za4OFFjGcPe53nGWXnI4VGedv6GMhy2sJiZ3Lh4NsAznaFGfLB6bE7yu0i0nNXacJSwymOCQzT7mv546IviThdEa_e9wDp_BrDTy6B1F5LnuuZKdm9adWMz1-mbkk_sozHn/s320/Frascos+CMatos.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto de Carlos Matos</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ainda há pouco dormias, a mesma
posição de sempre o braço meio dobrado sobre a cabeça como o pescoço de um
cisne ou gesto de bailarina, levantei-me devagar, fiz para não tropeçar, o
corpo agora tem exigências diferentes, tenho de me levantar senão dói, no
espelho não me reconheço!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Onde tinha uma cabeleira farta há
uns fios brancos fininhos, a minha cara escorregou, o nariz parece-me enorme e
tenho dobras no rosto como um pergaminho seco, não me reconheço, mas faço a
rotina da higiene, diferente do que era, é tudo mais devagar e arquejo com
peças de realejo soltas, lembro-me de acordar em cima da hora e despachar-me
num instante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Comer, pegar na sacola, vestir o
bibe e correr para a escola a ver-te de entrar noutra porta de tranças, tu
fingias que não me vias e eu também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois deixei mesmo de te ver,
continuava a despachar-me num instante, fosse para pegar na sacola já com
calças compridas, correr para o eléctrico, fosse para jogar com amigos, para ir
ao cinema, para o primeiro emprego, sempre rápido, até ao dia em que te vi
outra vez.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No dia onde te vi outra vez não
tinhas tranças, nem bibe, tinhas um vestido leve de verão e o cabelo como uma
estrela de cinema, os lábios cheios e os braços esbeltos, como um pescoço de um
cisne, pedi para me apresentarem, sorriste e fizeste a pergunta “Não te lembras
de mim?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fiquei assustado, depois vi a
menina de tranças, passei a demorar mais tempo com certas rotinas, passou a ser
imprescindível o risco direito, a barba bem feita, os sapatos brilhantes e
nunca mais me esqueci de ti.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não me esqueci de ti quando te vi
vestida de noiva com um penteado alto mas a caminhar para mim com passo de
bailarina, nem quando fizemos de uma casa lar e quando o teu corpo se modificou
com os nossos filhos a crescer lá dentro, não me esqueci de ti quando me pedias
para trazer aqueles pasteis ao pé do meu emprego, nem me esqueci do teu
aniversário, do nosso, dos nossos filhos, depois dos netos, a sério nunca me
esqueci.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois ficámos os dois, e tu
começaste a esfumar-te, o lume que deixavas aceso, a vontade de falares com a
tua mãe já a descansar no jazigo, coisas guardadas em sítios estranhos que ia
encontrando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Passei a ser a tua memória, a
guiar-te no quotidiano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A sério que não vejo o teu rosto
enrugado, nem o teu corpo diferente, nem o teu cabelo cor de algodão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A sério que não me aborrece
lembrar-te todo o dia do nome das pessoas, dos filhos, dos netos, dar-te os
comprimidos, levar-te ao cabeleireiro pelo braço e ao jardim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Doí-me quando olhas para mim como
um estranho, mas depois apresento-me e pergunto “Não te lembras de mim?”,
dentro de ti acorda a rapariga, a menina ou a mulher e sorris outra vez.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E eu também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Agora sei que estás acordada, mas
de olhos cerrados porque quando acordas demoras um pouco a perceber onde estás,
quem és, nem sempre é preciso perguntar “Não te lembras de mim?”<o:p></o:p></div>
<br /><br />
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6482089484393636485.post-58547161266195134432018-03-12T22:53:00.001+00:002018-03-12T22:53:05.798+00:00O resto do mundo parou<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estão naquela idade em que já não
são crianças, ainda não são bem adultos, aquele período mágico, por vezes
doloroso, onde tanta coisa marca, acontece, esquece, começa, acaba, e onde
temos tudo pela frente como um caderno em branco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Passaram a fase das orelhas muito
grandes, ou das pernas que cresceram de repente o que lhes dá um ar
desengonçado, ele já tem a voz firme de adulto, é alto, caramba são tão altos
agora, crescem tão depressa, tem um olhar esquivo, o cabelo revolto, três mochilas,
aquele ar de distraído atento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ela é baixinha, magra, mas já com
o corpo torneado, com as formas de sereia como é típico nesta fase, com os
cabelos longos, porque nalguma fase todas as raparigas tiveram cabelos longos,
um sorriso que parece trazer mais sol à rua.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Primeiro falam de coisas
triviais, eu saí para uma pausa, ele atende o telefone e diz “Sim, pai estou a
caminho!”, ela ri, divertida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele pergunta-lhe algo sobre um
jogo, ela que sim que vai ver, ele fala num José, ela franze o sobrolho, espanta-se
como uma flor ofendida, diz que nem o conhece muito bem, ele vai sussurrando
algo sobre saírem os dois depois do jogo mas querer ter a certeza, porque
afinal é amigo do José e não quer estar no caminho de ninguém, diz aquilo como
se ensaiado muitas vezes, como aquele poema que nos calhou declamar em público
e temos pavor de bloquear, não conseguir, gaguejar, enganar, esquecer…ela
reafirma, não nem está nem aí com o José.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele descontrai inteiro, ombros, ruga
da testa, ar compenetrado, voz, costas, ela está rosada, corada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele continua a falar, coisas
muito triviais, mas ao mesmo tempo estende a mão e toca-lhe no cabelo, ela dá
um passo em frente, ele sorri, acaricia a nuca, ela sorri, olham-se com aqueles
olhares compridos, ele coloca-lhe o braço nos ombros ela encaixa-se nesse
espaço, antes de sussurrar “até amanhã” ele beija-lha a medo o cabelo, ela
fecha os olhos, cora sorri e murmura “até amanhã”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele segue a rua a gingar com as
mochilas, se lhe pedirem para dar um pontapé na lua, ele tenta, ela entra
corada e de sorriso aberto, antes de ele chegar à esquina ela olha e ele
vira-se, sorriem os dois.<o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht4ZeptRpK_HzS4zxK2UareSBotwoVh-gteNkZzQ8YvgA3IPA3lEoieqMlmOwPxhIJBPxbN1iKPJ5lupCt1J1O4r0l-Ul2mzfJRTB9dhxb74GDGysDqaE9oEQCdnxVkFtE5uaOfa94xgq1/s1600/Abra%25C3%25A7o+CMatos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="721" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht4ZeptRpK_HzS4zxK2UareSBotwoVh-gteNkZzQ8YvgA3IPA3lEoieqMlmOwPxhIJBPxbN1iKPJ5lupCt1J1O4r0l-Ul2mzfJRTB9dhxb74GDGysDqaE9oEQCdnxVkFtE5uaOfa94xgq1/s320/Abra%25C3%25A7o+CMatos.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não dão pelo meu sorriso, nem por
ninguém, naquele instante o sol brilha só para eles, os pássaros também
chilreiam só para eles, desconfio que o sorriso continuou tatuado neles, em mim
também.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
(Foto do Carlos Matos)</div>
<br />Ana Camarrahttp://www.blogger.com/profile/13130015171610867994noreply@blogger.com0